Ano de tendência “baixista” para o mercado agrícola
Uma exceção, que representa a salvação da lavoura, é a soja, atualmente o mais exponencial produto agrícola brasileiro, que tem garantido alto rendimento nos últimos anos, servido de alavanca para desenvolver as regiões produtoras e liderado a pauta de exportações do campo, registrando crescimento de 30% nas vendas em comparação ao ano anterior.
Em um mercado que experimentou queda generalizada de preços em 2013, chegando até a surpreender negativamente, como aconteceu com o milho, a soja não apenas sustentou-se, apoiada nos baixos estoques globais e uma demanda aquecida, como foi beneficiada pela variação cambial – a valorização de 15% do dólar frente o real, acumulada no último ano.
Especialistas enxergam um 2014 ainda lucrativo para os sojicultores, especialmente porque o custo de produção deles foi elaborado com base no dólar relativamente fraco do início de 2013, época em que, antecipando-se, adquiriram a maior parte dos insumos.
Se colher uma boa safra, o setor se mantém firme, mas o futuro próximo revela duas situações antagônicas, ambas relacionadas à moeda norte-americana: a expectativa de forte aumento de custos, uma vez que a maior parte das matérias-primas é importada, o que depende da variação cambial; e, ao mesmo tempo, a previsão de que o dólar continuará subindo durante o ano, servindo de trampolim para a cotação da commodity.
Quedas acentuadas em 2013
Comparando os preços das commodities agrícolas em dezembro de 2013, com o mesmo mês em 2012, é possível observar que a maioria delas apresentou queda significativa.
Segundo a Dow Jones Newswires, a maior baixa foi registrada pelo milho, que perdeu quase 40% de seu valor na bolsa de Chicago, onde o trigo recuou 22,6% e a soja caiu 9,2%. Na BM&F Bovespa, o milho minguou 18% e a soja 9%. Em relação a essa oleaginosa, no quarto trimestre do ano passado o preço médio foi o menor do ano, apontando para um viés de baixa.
Especialistas acreditam que o mercado deve continuar assim por alguns meses, até que seja divulgada a intenção de plantio da safra nos Estados Unidos. “Se não tivermos um problema climático no Brasil e na Argentina na safra em andamento, os preços podem se enfraquecer ainda mais”, afirma Alvaro Ancêde, da The Laifa Group. Na opinião dele, há um outro fator em jogo: a possibilidade de que os chineses estejam fazendo estoque para compensar possíveis problemas logísticos no Brasil. Com isso, as importações daquele país tendem a diminuir lá na frente.
Por sua vez, a cotação do café manteve a trajetória de queda no ano e totalizou 23,8% de variação negativa na Bolsa de Nova York e 26,3% no mercado brasileiro. Grandes safras brasileiras, estoques abastecidos e a concorrência do café robusta com o arábica no plano internacional, contribuem para arrefecer os preços.
ALTOS E BAIXOS
Desempenho de cotações entre dezembro/2012 e dezembro/2013*
Algodão: + 8,00%
Suco de laranja: + 7,70%
Soja: – 9,20%
Açúcar: – 14,32%
Trigo: – 22,68%
Café: – 23,28%
Milho: – 39,74%
(*) bolsas de Chicago e Nova York
Fonte: Dow Jones Newswires e Valor Pro
Safra é estimada em 193,5 milhões de toneladas
Ainda não será desta vez. A expectativa de o Brasil chegar a uma safra de 200 milhões de toneladas deve não se confirmar. Divulgada em dezembro, ainda sem contar possíveis quebras ocorridas no Paraná, onde houve estiagem, a produção brasileira de cereais e oleaginosas é calculada em 193,524 milhões de toneladas na temporada 2013/14, pela agência Safras & Mercado. Um aumento de 2% sobre o total colhido em 2012/13, de 189,232 milhões de toneladas.
Segundo a empresa, poderá haver uma retração de 3% na produção de cereais, somando 100,949 milhões de toneladas, contra 104,484 milhões da temporada anterior. Destaque para o crescimento de 18% na safra de trigo. A safra de arroz cresce 1%, enquanto a produção de milho pode cair 6%.
Para as oleaginosas, há a previsão de um aumento de 9%, com a produção passando de 84,748 milhões para 92,575 milhões de toneladas. O destaque é a alta de 9% na safra de soja, que totalizaria 89,453 milhões de toneladas.
O analista Flávio França Júnior destaca a tendência de queda nos cereais. A maior retração do setor será trazida pelo milho, que tem recuo projetado de redução em 5% na área, influenciado pela redução de preços e perda de competitividade frente a soja. Júnior lembra que neste caso sempre há a possibilidade de amenização ou reversão de tendência até que o plantio da safra de inverno seja realizado. “Nas oleaginosas, o cenário é diferente, desta vez as duas principais culturas estão confirmando avanço de área”. No algodão, aumento de 23% na área cultivada em função dos bons preços deste ano e da projeção ainda positiva para 2014. E na soja, avanço de 5%, o sétimo ano seguido com a área em crescimento.