Antes de medidas drásticas, produtores vão propor negociação com a indústria

Uma comissão (primeiro passo para reativar a associação de produtores) foi escolhida para negociar com os representantes das indústrias de fécula, visando melhorar o preço da raiz da mandioca, hoje menor do que os custos de produção.
Essa foi uma das decisões tomadas em reunião com 156 produtores de mandioca de toda a região, no Salão Paroquial de Graciosa, em Paranavaí, na sexta-feira à noite.  
Antes do encontro com representantes industriais, a comissão volta a se reunir nesta terça-feira, às 19h, para definir detalhes da pauta de reivindicações. A ideia é promover as conversações até a próxima sexta-feira, quando todos os produtores voltam a se reunir para a tomada de novas decisões. Este encontro também será no Salão Paroquial de Graciosa, às 19h de sexta-feira.
Na reunião, as propostas centrais foram a reativação da associação, bem como a paralisação da colheita de mandioca. O objetivo dessa segunda medida era pressionar as fecularias para negociar o preço da raiz. Porém, os produtores optaram pela negociação antes de uma medida como esta, considerada extrema, embora com apoio da maioria dos 156 presentes.
Aliás, o número de participantes agradou a organização. Vanderlei Foss de Oliveira (Baiano), lembra que a reunião foi preparada em menos de dois dias. Sem contar que choveu momentos antes, atrapalhando o acesso. Por outro lado, analisa, 156 é um público que mostra a força do setor.
Lembra do recente encontro em Cidade Gaúcha, quando participaram 450 produtores. Desses, apenas dez estavam anteontem no evento. Significa, complementa, que o movimento já ultrapassou a marca de 600 produtores.
A mobilização continua na quarta-feira com reuniões nos sindicatos rurais de Santa Isabel do Ivaí e Terra Rica. São encontros para organizar a categoria e juntar novos produtores, explica Foss de Oliveira. O mandiocultor explica que a ideia é integrar os produtores de toda a região Macronoroeste, abrangendo os polos de Umuarama e Cianorte.
A REUNIÃO – Antes de tomar as decisões, os produtores expuseram as razões e puderam dar opiniões. Dionísio Heidemann disse que os mandioqueiros não podem ficar de braços cruzados. Há 40 anos na atividade, destaca as dificuldades da mobilização. Diz que a união da categoria é o único caminho para reverter a situação atual.
Ele pediu reflexão sobre a diferença entre os preços praticados da roça até o supermercado. A tonelada da raiz sai da lavoura por R$ 150,00 e chega às farinheiras, de onde cada saco com 50 quilos de farinha sai atualmente por R$ 45,00 (informação prestada por uma farinheira consultada pelo DN). O problema é que no supermercado os preços chegam a R$ 5,00 o quilo, diz Heidemann. Uma diferença superior a 455%.
Produtor de mandioca e industrial da fécula, João Marques também falou aos agricultores. Pediu reflexão sobre as razões do momento atual do mercado. Para ele, o feculeiro não é o “vilão” do cenário atual. Defendeu a organização dos produtores e pediu união para o fortalecimento da classe.
TAMANHO DO PREJUÍZO – Na entrada do salão, os participantes da reunião receberam uma planilha detalhada sobre custos de produção e valor de venda da mandioca. O exemplo toma como referência a produção de 80 toneladas em um alqueire, citando cada despesa desde arrendamento, passando por tratos culturais, aquisição de defensivos agrícolas, colheita e frete.
Apontam que os custos totais da produção chegam a R$ 19.900,00, enquanto que o valor de venda das 80 toneladas chega a R$ 12.000,00 – preço base de R$ 150,00 por tonelada da raiz. Com isso, o produtor tem um prejuízo de R$ 7.900,00, relata.
Um item que precisa ser entendido pelos agricultores é a despesa com colheita e frete, muitas vezes subestimada, justifica. As duas juntas somam R$ 7.200,00 por alqueire. O cálculo foi feito por um grupo de lideranças do setor quando da preparação para o encontro de anteontem.  
DADOS OFICIAIS – A tonelada chegou a ser comercializada por R$ 140,00 no mês de janeiro, muito aquém das cotações médias oficiais de R$ 178,00 a tonelada. Esse preço também está abaixo do mínimo garantido pelo Governo Federal através da Conab – Companhia Nacional de Abastecimento – atualmente R$ 170,00 a tonelada para a região Centro Sul.  
O problema em relação a tais valores é que o custo de produção ultrapassa R$ 240,00, sem contar duas recentes elevações de insumos. O custo médio apurado no Estado é um pouco inferior – R$ 196,43 a tonelada para mandioca de um ciclo (um ano). No caso da mandioca de dois ciclos (dois anos) o custo se eleva para R$ 205,55.
O Paraná deve colher nesta safra (2014/2015) cerca de 04 milhões de toneladas, o que representaria crescimento de apenas 5% em relação à safra anterior. Cerca de 52% do total plantado se concentram na Macrorregião Noroeste, produção em torno de 20,8 milhões de toneladas. A área total com plantio no Paraná é de 165.352 hectares, dos quais, 85.983 estão no Noroeste.