Após exibir beijo gay, “Babilônia” é alvo de boicote

SÃO PAULO (FOLHAPRESS) – Depois de exibir, em seu capítulo de estreia, um beijo entre as personagens Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg), a novela "Babilônia" (Globo) vive uma fase delicada em que grupos evangélicos sugerem boicote à trama.
Entre os telespectadores que encabeçam a campanha contrária à novela está o estudante mineiro de educação física Rodrigo Baly Francisco, 34 anos, evangélico que administra uma página no Facebook na qual incentiva o boicote.
Segundo ele, a ideia surgiu após familiares considerarem que a trama extrapola os valores pregados pela religião. "Não é pelo beijo gay, apenas. Vi pessoas horrorizadas. Mas a minha reivindicação, como a de outras pessoas que integram a campanha, é alertar para que famílias não sejam incentivadas à pratica da violência, do tráfico e da prostituição".
Só nesta página, mais de 300 pessoas pedem o fim da trama e incentivam os telespectadores a desligar a TV na hora da novela.
Outra imagem que está correndo a internet pede que as pessoas não deem audiência "para mais essa novela que vem destruir os valores da família brasileira". A campanha, assinada por um portal chamado "Agente Gospel", já teve mais de 5.000 compartilhamentos.
Enquanto o boicote se disseminava na internet, a Frente Parlamentar Evangélica do Congresso também divulgou uma nota de repúdio. Assinada pelo deputado João Campos (PSDB-GO), dizia que a trama tem "intenção de afrontar os cristãos" e que "ataca a família natural".
GLOBO NÃO RECUA – Depois que a polêmica tomou grandes proporções, os autores optaram por não mais falar no tema. Nem a Globo quis se manifestar a respeito. Mas, ao que tudo indica, o romance homossexual deverá ser mantido -como declararam anteriormente os autores Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga.
"Não há motivo para mudar. O que será exibido nos próximos meses já estava pronto", disse, na última semana, Linhares.
A audiência da novela, no entanto, caiu vertiginosamente. Estreou com 33 pontos e já chegou a 25 nas últimas edições – a antecessora, "Império", acabou com média de 32 pontos.
Para Carlos Magno Fonseca, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, a rejeição ao casal se deu de forma acentuada por se tratarem de duas atrizes do núcleo principal. "Vivemos em uma sociedade ainda cheia de preconceitos. Os gays são melhor aceitos em novelas quando em papéis secundários ou cômicos".
Fernanda Montenegro considera "uma bobagem" a repercussão negativa do beijo. "Não posso acrescentar nada melhor à minha posição do que o trabalho que estou fazendo".

Trama aborda mais questões polêmicas
Há duas semanas no ar, "Babilônia" (Globo) já entrou em assuntos delicados, como o da promiscuidade da mulher adúltera e do abuso sexual seguido de aborto.
Os diferentes homens com quem a vilã Beatriz (Gloria Pires) foi para a cama até agora são só alguns dos que ela colecionará ao longo da trama. "A sensualidade é a sua principal arma", reconhece Gloria. "Fizemos cenas chocantes. Beatriz é uma tarada sexual", diz o ator Val Perré, que fez o motorista Cristóvão, morto por Beatriz.
Já o drama da empregada Rosângela (Jurema Reis), obrigada pelo patrão Aderbal (Marcos Palmeiras) a abortar o filho fruto de seu abuso, não deverá ser aprofundado. "Foi só uma participação, para expor a hipocrisia de Aderbal", diz Jurema.
RIVAIS – Com a queda do ibope de "Babilônia", SBT, Record e Band começam a colher os frutos e a ganhar alguns pontinhos a mais em sua programação.
O principal exemplo é a novela da Record, "Os Dez Mandamentos". Só para ter uma ideia, a ascensão da trama foi de 50% em relação à última segunda-feira antes da estreia, cravando 12 pontos. O "Jornal da Record", que vem em seguida e rivaliza com "Babilônia" (Globo), subiu para dez pontos, elevando o índice do horário e do próprio jornalístico.
A Band também vem ganhando espaço com a turca "Mil e Uma Noites". De acordo com a emissora, o horário noturno costumava dar menos de um ponto e, com a novidade, o índice subiu para três pontos na Grande SP.
"As novelas são diferentes, e há um público específico para cada uma delas. Além disso, tudo o que é novo gera certa curiosidade. Já as tramas bíblicas sempre resultam em bons números na Record", avalia Claudino Mayer, doutor em teledramaturgia pela USP (Universidade de São Paulo).
O SBT também não perdeu tempo e tirou proveito da crise de "Babilônia". O canal ironizou a Globo com uma campanha cujo mote é "novela para a família é aqui", em referência a "Chiquititas" e "Carrossel".