AS COISAS… REVELAÇÃO – APOCALIPSE
O leitor da Revelação oculta nota a abundância de coisas que aí são evocadas em todas as páginas. Na primeira visão, há os sete candelabros e as sete estrelas. Nas promessas das cartas, fala-se da ÁRVORE NO TEMPLO DE DEUS E DO REPASTO COMUM. Numa segunda visão, ouvimos falar dos TRONOS DOS VINTE E QUATRO ANCIÃOS TRAZENDO COROAS, VESTES BRANCAS, harpas e címbalos, DO LIVRO SELADO, DO CORDEIRO E DOS QUATRO ANIMAIS. Vêm depois OS QUATRO CAVALEIROS SOBRE AS MONTARIAS. A natureza é mostrada sob diversas formas: O CÉU, A TERRA, OS VENTOS, AS ESTRELAS, A LUA, O SOL, AS ÁRVORES E AS SEMENTES são designadas. MULTIDÕES HUMANAS COM PALMAS NAS MÃOS ESTÃO EM PÉ. Aparecem SETE TROMBETAS, E O SELO É IMPRESSO. Os adversários de Deus apresentam-se diferentemente; e também os poderes que castigam e vingam. O RAIO E O TROVÃO falam a sua linguagem. O VIDENTE RECEBE DE UM ANJO UM LIVRO que ele deve devorar, depois uma vara para medir. UM TEMPLO LEVANTA-SE que ele deve medir. A MULHER BRILHA NO CÉU E A ÁGUIA vem ao em seu socorro. A FOICE CORTA O TRIGO MADURO, E ADEGA RECEBE A UVA. SETE TAÇAS de cólera são espalhadas e provocam males terríveis. No fim, brilha A CIDADE CELESTE, com todos os seus tesouros, ouro, cristal, pérolas, jaspe, safiras e outras inumeráveis pedras preciosas… Qual é a significação de tudo isto? Para quê acumular tantas coisas? Não fala o Apocalipse da eternidade, que se levanta e avança para o tempo; da existência temporal, presa e sacudida pela eternidade? Qual é então o lugar das coisas em tudo isto?
O Eterno, Deus e seu Reino, falam ao homem; senão, a existência humana não possuiria qualquer sentido. Mas como? Por que modo se exprime o divino?
A maneira que mais puramente o exprimiria seria sem dúvida aquela que não empregasse forma ou imagem, que fizesse que Deus, diferente de toda a criatura, tomasse o NOSSO INTERIOR E AÍ Se manifestasse em qualquer intermédio sensível. Há homens que experimentam A PRESENÇA DE DEUS, a seu lado, neles, que se sabem dirigidos, esclarecidos, protegidos por Ele; tudo isso sem a menor imagem ou forma, e no entanto com muita clareza. Em muitos, esta experiência é muito mais vaga. Alguns não possuem dela a menor ideia. É verdade que se poderia dizer que, ainda que não PRESENTE À CONSCIÊNCIA, ESTA PALAVRA DE DEUS EXISTE EM CADA HOMEM. Não possui Ele O QUE OS MESTRES ESPIRITUAIS CHAMAM “FUNDO DA ALMA”, “PONTA DO ESPÍRITO” OU “CHAMA INTERIOR?” Poder-se-ia então crer em Deus, para lá de todo o DISCURSO E DE TODA A FORMA, FALA SECRETA E CONTINUAMENTE A CADA HOMEM. Que a nossa existência alterada, perdida num meio estranho, só é suportável porque constantemente, NO MAIS ÍNTIMO DE NÓS PRÓPRIOS, NOS É COMUNICADA A NOTÍCIA DA EXISTÊNCIA CERTA DE UMA OUTRA VIDA. Ensina-se-nos, aliás, que fomos criados pelo Verbo eterno do Pai. Porque não se FARIA ESTE VERBO OUVIR, DOCE E INCESSANTEMENTE, NO MAIS FUNDO DE NÓS, PARA NOS ENSINAR O SENTIDO DA NOSSA EXISTÊNCIA…
É verdade que esta PALAVRA INTERIOR se faz ouvir no meio da confusão; porque o homem não é uma realidade pura para que acolha o Verbo eterno sem o deformar. A Palavra divina não é compreendida, mas caricaturada. A vaidade, a loucura e o capricho servem-se das ideias que lhes sugere o Verbo eterno para se fazerem valer por elas. No domínio religioso como no profano, faremos bem em nos repetir que a nossa piedade precisa tanto de Redenção como a nossa vida natural. Todo o mal que se encontra no homem age, sobretudo sobre a sua vida religiosa. Pela palavra secreta, escondida em nós de nós próprios, permanece confusa enquanto o seu Verbo SE NÃO NOS APRESENTA E NÃO É POR NÓS ACOLHIDO. Este VERBO É CRISTO. É por Ele que a PALAVRA INTERIOR se torna legítima e clara.
Mas Deus pode também falar por forma oposta; POR TUDO O QUE EXISTE E O QUE ACONTECE. POIS TUDO VEM D’ELE. O Criador, depois de haver feito as coisas, NÃO AS DEIXA PARA DELAS SE DESPRENDER; MANTÉM-NAS CONTINUAMENTE NO SER. João diz-nos que tudo foi feito pelo Verbo do Pai; QUE É O VERBO QUE DÁ AS COISAS EXISTÊNCIA, VERDADE, VALOR. Cada coisa é assim UMA BOCA POR ONDE FALA O VERBO ETERNO: cada árvore e cada animal, o firmamento, a montanha e o mar, o utensílio que está à minha frente e a alimentação de que me sirvo. Compreendemos AS COISAS APENAS TALVEZ PORQUE OUVIMOS NELAS AS PALAVRAS INTERIORES DO VERBO ETERNO. Não conscientemente. Tudo se passa como se compreendêssemos PELOS OUVIDOS E PELOS OLHOS OS SENTIMENTOS E OS CONCEITOS. E, no entanto é a tranquila torrente inteligível que vem do Verbo eterno através de cada coisa que nos faz compreender. Creio verdadeiramente que é assim. É só por aí que sabemos, amamos, formamos um conjunto.
O Eterno, Deus e seu Reino, falam ao homem; senão, a existência humana não possuiria qualquer sentido. Mas como? Por que modo se exprime o divino?
A maneira que mais puramente o exprimiria seria sem dúvida aquela que não empregasse forma ou imagem, que fizesse que Deus, diferente de toda a criatura, tomasse o NOSSO INTERIOR E AÍ Se manifestasse em qualquer intermédio sensível. Há homens que experimentam A PRESENÇA DE DEUS, a seu lado, neles, que se sabem dirigidos, esclarecidos, protegidos por Ele; tudo isso sem a menor imagem ou forma, e no entanto com muita clareza. Em muitos, esta experiência é muito mais vaga. Alguns não possuem dela a menor ideia. É verdade que se poderia dizer que, ainda que não PRESENTE À CONSCIÊNCIA, ESTA PALAVRA DE DEUS EXISTE EM CADA HOMEM. Não possui Ele O QUE OS MESTRES ESPIRITUAIS CHAMAM “FUNDO DA ALMA”, “PONTA DO ESPÍRITO” OU “CHAMA INTERIOR?” Poder-se-ia então crer em Deus, para lá de todo o DISCURSO E DE TODA A FORMA, FALA SECRETA E CONTINUAMENTE A CADA HOMEM. Que a nossa existência alterada, perdida num meio estranho, só é suportável porque constantemente, NO MAIS ÍNTIMO DE NÓS PRÓPRIOS, NOS É COMUNICADA A NOTÍCIA DA EXISTÊNCIA CERTA DE UMA OUTRA VIDA. Ensina-se-nos, aliás, que fomos criados pelo Verbo eterno do Pai. Porque não se FARIA ESTE VERBO OUVIR, DOCE E INCESSANTEMENTE, NO MAIS FUNDO DE NÓS, PARA NOS ENSINAR O SENTIDO DA NOSSA EXISTÊNCIA…
É verdade que esta PALAVRA INTERIOR se faz ouvir no meio da confusão; porque o homem não é uma realidade pura para que acolha o Verbo eterno sem o deformar. A Palavra divina não é compreendida, mas caricaturada. A vaidade, a loucura e o capricho servem-se das ideias que lhes sugere o Verbo eterno para se fazerem valer por elas. No domínio religioso como no profano, faremos bem em nos repetir que a nossa piedade precisa tanto de Redenção como a nossa vida natural. Todo o mal que se encontra no homem age, sobretudo sobre a sua vida religiosa. Pela palavra secreta, escondida em nós de nós próprios, permanece confusa enquanto o seu Verbo SE NÃO NOS APRESENTA E NÃO É POR NÓS ACOLHIDO. Este VERBO É CRISTO. É por Ele que a PALAVRA INTERIOR se torna legítima e clara.
Mas Deus pode também falar por forma oposta; POR TUDO O QUE EXISTE E O QUE ACONTECE. POIS TUDO VEM D’ELE. O Criador, depois de haver feito as coisas, NÃO AS DEIXA PARA DELAS SE DESPRENDER; MANTÉM-NAS CONTINUAMENTE NO SER. João diz-nos que tudo foi feito pelo Verbo do Pai; QUE É O VERBO QUE DÁ AS COISAS EXISTÊNCIA, VERDADE, VALOR. Cada coisa é assim UMA BOCA POR ONDE FALA O VERBO ETERNO: cada árvore e cada animal, o firmamento, a montanha e o mar, o utensílio que está à minha frente e a alimentação de que me sirvo. Compreendemos AS COISAS APENAS TALVEZ PORQUE OUVIMOS NELAS AS PALAVRAS INTERIORES DO VERBO ETERNO. Não conscientemente. Tudo se passa como se compreendêssemos PELOS OUVIDOS E PELOS OLHOS OS SENTIMENTOS E OS CONCEITOS. E, no entanto é a tranquila torrente inteligível que vem do Verbo eterno através de cada coisa que nos faz compreender. Creio verdadeiramente que é assim. É só por aí que sabemos, amamos, formamos um conjunto.
Do Livro O Senhor – Romano Guardini, páginas. (513 – 517)