As eleições e as necessidades nacionais

Dirceu Cardoso Gonçalves*

Ao mesmo tempo em que se vê a polarização da campanha presidencial – entre Jair Bolsonaro, que luta para manter a dianteira apurada nas pesquisas, e o lulopetismo tentando sobreviver através de Fernando Haddad – prestamos pouca atenção às eleições de governador, senador e até de deputado, onde também são travadas grandes batalhas.
Os pretendentes ao governo estadual trocam farpas e fazem promessas muito parecidas com as de quatro anos atrás que, logicamente, não foram cumpridas. E os concorrentes a deputado (federal e estadual) percorrem o Estado prometendo emendas parlamentares e obras públicas pelas quais, segundo dizem, se eleitos ou reeleitos, lutarão junto aos governos.
Um olhar geral sobre a campanha conduz à invariável conclusão de que a conta não fecha. Na área federal pouco se fala sobre medidas econômicas para evitar a crise (até porque isso não dá votos), na estadual os pretendentes prometem obras mesmo sabendo que os orçamentos são curtos.
E os candidatos ao parlamento tentam atrair prefeitos e vereadores – a esta altura transformados em cabos eleitorais de luxo – com a promessa de emendas ao orçamento da União e do Estado que dêem algum dinheiro para os municípios e possam favorecê-los nas eleições municipais, que ocorrem daqui a dois anos.
Não saímos do círculo vicioso, onde os políticos aliam-se para se eternizarem no poder e ninguém se preocupa com o povo, que deveria ser o objetivo primeiro do processo.
A insustentabilidade econômica brasileira é histórica. Nosso desenvolvimento público foi custeado com a emissão de moeda (e inflação) ou com o aumento da dívida pública, que obriga ao pagamento de juros custeados por inflação ou por alta de impostos.
Os governos democráticos dos últimos 30 anos só aumentaram o buraco e, para se sustentar, recorreram ao loteamento do poder e mais recentemente à compra de apoio parlamentar que resultou na corrupção e nos crimes apurados pela Lava Jato.
A irresponsabilidade foi tanta que chegamos a ter os gastos públicos a redor de 45% do PIB, o que levou o presidente Michel Temer a, assim que assumiu, tomar o remédio amargo de estabelecer o teto de gastos e experimentar a impopularidade.
Passada a eleição, independente de quem vença, teremos de partir para reformas profundas ou o país poderá entrar em colapso. A máquina pública terá de ser enxugada e, em vez de agir mediante encomenda, os congressistas terão de atuar como fiscais daqueles que os elegeram e não de si próprios ou de seus esquemas eleitoreiros.
É preciso rever o sistema de desonerações e renúncias fiscais e recompor o poder financeiro de estados e municípios, hoje de chapéu na mão diante da União, que arrecada a parte do leão dos tributos e não consegue nem prestar os serviços que a Constituição garante como direito líquido e certo da população.
O país precisa de novo rumo político-econômico e os políticos têm de reaprender suas funções na vida pública, pois o que praticam hoje é a mais perfeita representação do caminho para o caos…

*Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo