As relações entre infecções na boca a problemas no organismo
O odontólogo paranavaiense Vladimir Bogoni repercutiu a matéria da jornalista Aretha Yarak, publicada pela Veja, destacando que as placas dentárias podem aumentar em até 80% os riscos de uma morte prematura causada por câncer.
O alerta, publicado recentemente no periódico British Medical Journal, é apenas o mais recente de uma série de estudos que vêm movimentando a odontologia e a medicina.
Recentemente, o avanço na tecnologia de detecção de doenças e um movimento realizado pela classe odontológica “para trazer a boca de volta ao corpo” – ou seja, estudar sua relação com o resto do organismo – alavancaram o número de estudos que relacionam as duas áreas.
Como resultado, foi desvendada uma série de relações entre infecções que ocorrem na boca e problemas cardiovasculares, diabetes, obesidade, câncer, osteoporose, parto prematuro e nascimento de bebês abaixo do peso.
DOENÇA PERIODONTAL – A infecção crônica de origem bacteriana que atinge a gengiva e os tecidos dos dentes. A doença é causada pelo acúmulo de bactérias entre os dentes e a gengiva, e pode levar à perda dentária.
Problema dentário mais comum em adultos, a periodontite é ainda uma das doenças inflamatórias crônicas mais comuns no mundo. Sua forma inicial, e mais comum, é a gengivite, caracterizada por uma inflamação leve das gengivas – que ficam avermelhadas, inchadas e chegam a sangrar.
A evolução da doença pode levar anos, causando a perda de tecido de suporte do dente – como o ósseo -, o que acaba por ocasionar a perda de um ou mais dentes.
A ideia de relacionar a saúde bucal com problemas em outras áreas do corpo surgiu no início do século XX. Nessa época, acreditava-se que infecções com origem na boca poderiam ser a causa direta de outras doenças – nascia aí a tese da infecção focal, levando várias pessoas a ter os dentes arrancados desnecessariamente.
A meta agora é fazer com que a boca volte a ser entendida como uma parte integrante do corpo. Em outras palavras, os dentistas vêm tentando provar cientificamente que o que acontece dentro da boca tem uma relação direta com o funcionamento de todo o organismo.
Dezenas de estudos conseguiram confirmar e encontraram conexões dos males bucais com diabetes, doenças cardiovasculares, pulmonares, de próstata, osteoporose e câncer.
EFEITO CASCATA – As infecções bucais podem causar prejuízos aos demais órgãos por dois processos inflamatórios diferentes. No primeiro e mais simples, as bactérias alojadas na gengiva se deslocam pelo organismo e se instalam em determinados órgãos, prejudicando seu funcionamento.
Nesse caso está o mais conhecido dos problemas, e o único que é, de fato, causado diretamente pela inflamação na boca: a endocardite bacteriana.
Em abril deste ano, a Academia Americana do Coração (AHA, sigla em inglês) publicou um artigo no periódico médico Circulation confirmando que existe, de fato, uma associação entre a doença periodontal e a arteriosclerose (endurecimento das artérias). Apesar da relação, não é necessário que pessoas com boa saúde procurem um cardiologista a cada inflamação na gengiva.
Há uma segunda maneira pela qual as doenças bacterianas que ocorrem na boca repercutem em outras partes do corpo. Enquanto luta para exterminar as bactérias invasoras que tiveram origem na boca, o sistema imunológico libera diversas substâncias no organismo.
Isso causa um desequilíbrio químico, elevando os níveis de substâncias que interferem no funcionamento de órgãos, do metabolismo e de sistemas inteiros do corpo. É o caso, por exemplo, do diabetes.
O processo inflamatório na gengiva não causa a doença, mas ajuda a desequilibrar o balanço químico do organismo, dificultando, assim, o controle dos níveis de glicose. Mas a relação entre as condições é uma via de mão dupla. O diabetes, por si só, pode piorar quadros de inflamação gengival. (Fonte: Veja.com)
Fuja das bactérias
Dados epidemiológicos estimam que 90% da população mundial têm gengivite e que 30% têm doença periodontal. O odontólogo Vladimir Bogoni diz que para manter a boca livre das bactérias é preciso escovar os dentes e usar o fio dental, no mínimo, duas vezes por dia.
É recomendado ainda que se faça visitas semestrais ao dentista, com realização de exames de sonda (análise da gengiva) e de raios X (análise dos ossos do maxilar). O procedimento é protocolar e deve ser pedido em toda consulta de rotina.
Sinal de alerta
Mesmo quem mantém uma disciplina exemplar de limpeza dentária corre o risco de deixar algum canto mal limpo, dando brecha para a infestação de bactérias. Segundo dentistas, é difícil conseguir deixar a boca completamente limpa – por isso, a importância da visita regular ao dentista.
Sangramentos durante a escovação ou o uso do fio dental são indícios de uma possível inflamação – e não de uma limpeza feita de maneira errada.