“Bandido bom é bandido morto”, diz deputado goiano

“Bandido bom é bandido morto”. Assim o líder do PSDB na Assembleia Legislativa de Goiás, Túlio Isac, reagiu às críticas que o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa, Mauro Rubem (PT), fez nesta semana à política de segurança pública do governador Marconi Perillo. As informações são da Agência Brasil.
“Deixa a polícia trabalhar, deputado”, disse Isac durante sessão da Assembleia Legislativa. Da tribuna, ele defendeu o aumento do número de policiais e a criação de uma força de elite. “Carregue as armas e meta bala nos vagabundos que atormentam a vida dos trabalhadores”. Minutos antes, também da tribuna, Mauro Rubem tinha classificado o governo goiano de omisso em relação a possíveis desmandos policiais.
Às vésperas da audiência pública em que o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) discutiria denúncias de envolvimento de policiais militares (PMs) goianos em assassinatos e no desaparecimento de pessoas, os discursos dos dois parlamentares evidenciaram duas formas distintas de encarar a atuação da polícia para garantir a segurança da sociedade.
Para Rubem, a falta de um controle mais rígido da atividade policial, de apuração das denúncias e de punição dos responsáveis por desmandos tem vitimado inocentes e contribuído para o aumento da sensação de insegurança em Goiás. No último dia 21, Rubem apresentou ao CDDPH relatório da Comissão Estadual de Direitos Humanos sobre o desaparecimento de 36 pessoas após abordagem de policiais, no período de 2000 a 2010. De acordo com o relatório, que denuncia outros abusos, entre os desaparecidos, há um garoto de 12 anos. Após receber as denúncias, o CDDPH decidiu fazer uma reunião extraordinária na capital goiana.
Embora sem comentar especificamente os casos apontados no relatório, Isac defendeu os PMs goianos, dizendo que os bandidos não hesitam em reagir à ação policial e que, se a corporação não age com rigor, ninguém visita as famílias das vítimas dos criminosos, que permanecem à solta. “Hoje, o policial não pode sacar a arma. O policial só pode atirar se o bandido atirar primeiro e errar”, disse Isac.
Segundo ele, se bandidos houvessem sido “aniquilados”, o radialista e comentarista esportivo Valério Luiz “ainda estaria vivo”. Filho do comentarista esportivo Manoel de Oliveira, Luiz foi morto a tiros em julho deste ano. O crime ainda está sendo apurado. Na época, o pai do radialista chegou a dizer que perdeu o filho para o futebol. Dias depois, o então comandante de Missões Especiais da Polícia Militar, tenente-coronel Wellington Urzêda, foi afastado do caso após a mulher de Luiz ter questionado o fato de, até pouco antes do crime, o militar fazer parte da diretoria do Atlético Goianiense. A gestão dele tinha sido duramente criticada pelo radialista.
Na semana passada, Urzêda foi afastado temporariamente do Comando de Missões Especiais da Polícia Militar de Goiás e está sendo investigado por denúncias de envolvimento em um grupo acusado de responsável pelo desaparecimento de várias pessoas nos últimos 11 anos.

Ministra diz que denúncias contra PMs sugerem violência institucionalizada
A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse durante abertura da reunião extraordinária que o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) promoveu em Goiânia (GO), que as denúncias sobre o envolvimento de policiais militares goianos em crimes como assassinatos e desaparecimento de pessoas são indício claro de que a população do estado está diante de circunstâncias de violência não apenas policial, mas também institucional. As informações são da Agência Brasil.
“Não há dúvidas de que as denúncias de abusos policiais militares goianos ao longo dos últimos anos são indicadoras de um quadro de violência policial e institucional”, disse a ministra, frisando a preocupação do conselho nacional com o aumento do número de assassinatos em Goiás. Segundo o Mapa da Violência elaborado pelo Ministério da Justiça, o número de homicídios registrados no estado subiu de 13,4 mortes em cada grupo de 100 mil habitantes, em 1998, para 29,4 assassinatos em cada 100 mil habitantes, em 2010.
“O conselho de direitos humanos está em Goiânia com o objetivo de enfrentar situações de impunidade envolvendo ações que têm sido muito danosas aos direitos humanos, como os homicídios e desaparecimentos [de pessoas abordadas por policiais]”, disse a ministra, afirmando haver, em Goiás, grande de número de assassinatos não esclarecidos e  cujos autores, portanto, não foram punidos.
“Esta situação constitui uma circunstância de impunidade. Por isso o conselho se instala em Goiânia. Para conhecer melhor os fatos e tentar fazer com que essa impunidade não tenha mais lugar”, disse a ministra, acrescentando que, desde a década de 1990, o conselho nacional vem acompanhando investigações a respeito da atuação de grupos de extermínio em Goiás.
De acordo com a ministra, o conselho já fez, ao longo dos últimos anos, uma série de recomendações ao governo goiano, como a instalação de equipamentos GPS nas viaturas policiais para que possam ser monitoradas, bem como o afastamento de postos de comando de policiais que estão sendo processados por suposta participação em grupos de extermínio.
“Não deixa de ser uma situação grave haver policiais identificados em diferentes inquéritos e processados como participantes de grupos de extermínio e que, ao longo destes últimos anos, [foram] promovidos”, disse a ministra, acrescentando que essa política acaba por desestimular e desmerecer os bons policiais, aqueles que, segundo ela, estão intimidados diante dos que matam e ferem.
Representante do Movimento Nacional de Direitos Humanos (Mndh), Jonatan Galvão, concorda com a ministra de que a criminalidade em Goiás estaria sendo institucionalizada. “Se o aparato do Estado é usado para perpetrar a violência, vivemos em um ambiente de institucionalização da criminalidade, naturalizando a violência e propiciando a impunidade”.