“Birdman” recebeu quatro prêmios; para o Brasil, ainda não foi desta vez

A premiação dos melhores do cinema promovida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood domingo (22) à noite foi marcada  por uma série de discursos dos premiados em prol da igualdade de direitos para diferentes gêneros, raças e nacionalidades. Houve até uma declaração em prol da democracia numa festa marcada pela ausência de negros e poucas mulheres, mas que consagrou “Birdman (ou a inesperada virtude da ignorância)”, do mexicano Alejandro González Iñárritu, vencedor de quatro estatuetas: melhor filme, direção, roteiro original e fotografia. Já o documentário franco-ítalo-brasileiro “O Sal da Terra”, sobre o fotógrafo Sebastião Salgado, perdeu o prêmio para “Citizenfour”. O Brasil continua sem ganhar um Oscar.
A festa foi apresentada pela primeira vez pelo ator Neil Patrick Harris e teve menos piadas do que em edições passadas, mas contou com mais números musicais — entre estes, destacou-se Lady Gaga, que cantou músicas de “A noviça rebelde” em homenagem aos 50 anos do filme e ainda saudou no palco do Dolby Theatre, em Los Angeles, a estrela Julie Andrews.
Os discursos pela igualdade se iniciaram com o prêmio de atriz coadjuvante para Patricia Arquette, o único de “Boyhood”, filme outrora considerado favorito e que certamente foi o maior derrotado da noite.
— De uma vez por todas é o momento de termos salários e direitos iguais para as mulheres nos Estados Unidos da América — afirmou Patricia.
— “Selma” é atual porque fala sobre a luta por Justiça, que é atual — disse John Legend, parceiro do rapper Common na composição de “Glory”. — Nós sabemos que o direito ao voto pelo qual eles lutaram há 50 anos está em perigo nesse país hoje.
Já em seu discurso de agradecimento, Alejandro González Iñárritu abordou o tema dos imigrantes latinos nos EUA. Foi a primeira vez que um filme dirigido por um mexicano ganhou o principal Oscar e a segunda que um mexicano recebeu o Oscar de direção (no ano passado, Alfonso Cuarón foi premiado por “Gravidade”). Iñárritu dedicou “Birdman” a seus compatriotas “que vivem no México e também para aqueles que moram nos EUA”.
— Eu rezo para que tenhamos o governo que merecemos. Que a geração atual de imigrantes seja tratada com a mesma dignidade e respeito que os imigrantes que ajudaram a construir este grande país — disse o diretor.
A política também foi tema do discurso de Laura Poitras, diretora do documentário que tirou do Brasil a chance de vencer o Oscar. “Citizenfour”, contudo, teve cenas rodadas no Rio de Janeiro, inclusive na redação do GLOBO: a obra acompanhou o americano Edward Snowden, em sua ação para divulgar informações vazadas da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA). As cenas de “Citizenfour” no GLOBO mostram os jornalistas Glen Greenwald, José Casado e Roberto Kaz, numa reunião antes da reportagem que revelou a espionagem da NSA na América Latina. Greenwald subiu ao palco do Oscar e foi saudado pela diretora:
‘As revelações de Edward Snowden não afetam apenas a nossa privacidade, mas a nossa democracia’.
Em outras categorias, Julianne Moore foi escolhida melhor atriz por "Para sempre Alice"; Eddie Redmayne, melhor ator, por "A teoria de tudo"; e J.K. Simmons, melhor ator coadjuvante, por "Whiplash". O Oscar de melhor filme estrangeiro ficou com o polonês "Ida", de Pawel Pawlikowski, e o de animação, com "Operação Big Hero", de Don Hall e Chris Williams.
No ranking geral dos premiados, "Birdman" ficou empatado em primeiro lugar com "O Grande Hotel Budapeste", ambos com quatro Oscars, mas este último com prêmios mais técnicos: figurino, maquiagem e cabelo, design de produção e trilha sonora. Atrás deles, "Whiplash" recebeu três estatuetas, as de ator coadjuvante, a de roteiro adaptado e a de mixagem de som. Nenhum outro filme recebeu mais de um Oscar.