BRF diz que salmonela denunciada em investigação não causa danos à saúde

BRASÍLIA (ABR) – Após a deflagração da 3ª fase da Operação Carne Fraca, na manhã de ontem, que determinou a prisão temporária de 11 empresários ligados à BRF, a empresa divulgou uma nota alegando que nenhuma das frentes de investigação da Polícia Federal diz respeito a algo que possa causar dano à saúde pública. 
Segundo a empresa, a Salmonella pullorum é essencialmente de aves e não causa nenhum dano à saúde humana.
O grupo é investigado por fraudar resultados de análises laboratoriais relacionados à contaminação pela bactérias Salmonella pullorum. A BRF alega que, no lote de 46 mil pintos citado na acusação, foram realizadas análises microbiológicas que não identificaram presença da bactéria Salmonella pullorum. 
Porém, ela foi identificada em matrizes e lotes de frango de corte no mesmo período e os resultados dessas análises foram devidamente notificados ao Serviço Veterinário Estadual e ao Serviço de Inspeção Federal.
PREMIX – A empresa também é investigada pela prática de adulterar a rastreabilidade do composto Premix, utilizado como complemento vitamínico e mineral às rações fabricadas pela empresa, seja por inserir componentes não permitidos, seja por alterar as porcentagens dos componentes indicadas nas etiquetas. 
Sobre esse fato, a BRF diz que os processos de produção do Premix seguem normas técnicas nacionais e internacionais.
“Pela rastreabilidade do produto, é possível identificar tudo o que foi incluído no Premix, suas concentrações, origem e destino. Para cada fase da vida do animal, existe uma composição diferente de Premix”. A empresa alega que os e-mails revelados pela investigação são de três anos atrás e o teor das mensagens está sendo investigado pela empresa.
ACUSAÇÕES – Em relação às acusações da ex-funcionária Adriana Marques Carvalho, que afirmou ter sido pressionada por superiores para alterar resultados de análises laboratoriais e simular a rastreabilidade de amostras, a BRF diz que a profissional foi desligada da empresa em julho de 2014 e ingressou com ação trabalhista contra a empresa.
“As acusações da ex-funcionária foram tomadas com seriedade pela companhia, e medidas técnicas e administrativas foram implementadas para aprimorar seus procedimentos internos”, diz a empresa.
A empresa diz que que segue as normas e regulamentos brasileiros e internacionais referentes à produção e comercialização de seus produtos e está mobilizada para prestar todos os esclarecimentos à sociedade. 
“A companhia reitera que permanece inteiramente à disposição das autoridades, mantendo total transparência na interlocução com seus clientes, consumidores, acionistas e o mercado em geral”.
 
Fraudes foram constatadas entre 2012 e 2015
A BRF é o principal alvo da 3ª fase da Operação Carne Fraca, deflagrada ontem pela Polícia Federal (PF). 
O grupo é investigado por fraudar resultados de análises laboratoriais relacionados à contaminação pela bactérias Salmonella pullorum. As fraudes foram constatadas entre 2012 e 2015. Onze pessoas tiveram mandado de prisão decretado, entre elas ex-executivos do grupo.
Segundo o delegado da PF, Maurício Boscardi Grillo, as planilhas e laudos técnicos eram modificados e os resultados finais adulterados eram entregues ao Serviço de Inspeção Federal (SIF), para impedir que o Ministério da Agricultura fiscalizasse a qualidade do processo industrial das plantas (frigorífico ou abatedouro) da BRF. A presença e quantidade real da salmonela foram omitidas em alguns casos.
A ração oferecida ao frango antes do abate também era objeto de fraude, de acordo com o delegado. Grillo conta que muitas provas surgiram após as fases anteriores da Carne Fraca e trocas de e-mails bastante consistentes entre executivos e funcionários do controle de qualidade comprovam o esquema de fraude, que era parte da “estratégia da empresa”. 
“Existe um cronograma da operação que começa nas granjas dos cooperados da empresa, onde existe a contaminação. Passa-se, então, para as plantas frigoríficas e depois para a análise laboratorial”, disse Grillo.
SALMONELA – Equipes do Ministério da Agricultura também estão trabalhando em conjunto com a PF. Em nota, o ministério explicou que dentre as mais de duas mil variedades de salmonela, existem duas de preocupação para a saúde animal e duas de saúde pública. Por isso, as empresas devem adotar medidas específicas dentro das granjas e nos produtos positivos para a bactéria, para reduzir os riscos ao consumidor.
Segundo o coordenador-geral de Inspeção do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Mapa, Alexandre Campos da Silva, neste caso da operação, o risco à saúde pública não está “devidamente configurado”, pois a salmonela, por si só, não caracteriza risco à saúde pública, pois depende da forma do consumo.
De acordo com o ministério, a presença da bactéria é comum, pois faz parte da flora intestinal das aves. No entanto, quando utilizados os procedimentos adequados de preparo e de consumo, minimizam-se os riscos, uma vez que ela é destruída em altas temperaturas.
O Mapa informou ainda que a fiscalização do ministério já havia identificado irregularidades nos procedimentos de certificação sanitária em algumas unidades frigoríficas. Por isso, as unidades foram proibidas de exportar a países que exigem requisitos sanitários específicos de controle e tipificação da salmonela.
Três empresas estão sendo fiscalizadas pelo Mapa em parceria com a PF em busca de provas. Outras sete já foram investigadas.

NOTA DA BRF
Em comunicado aos acionistas e ao mercado, a BRF informou que está se inteirando dos detalhes da operação e que está colaborando com as investigações para esclarecimento dos fatos. “A companhia segue as normas e regulamentos brasileiros e internacionais referentes à produção e comercialização de seus produtos, e há mais de 80 anos a BRF demonstra seus compromissos com a qualidade e segurança alimentar, os quais estão presentes em todas as suas operações no Brasil e no mundo”, diz a nota da empresa