Campanha alerta para sinais de violência contra crianças e adolescentes

CURITIBA – A criança se comunica mais pelo choro e por outros sinais não verbais, do que por palavras, quando algo com ela está errado. No caso de violências, o silêncio é ainda maior porque, geralmente, o autor é alguém próximo à família.
Para enfrentar essa situação, a Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento Social lançou a campanha “Não engula o choro”.
A campanha será levada também para a internet e outras mídias. O Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes é 18 de maio, o que faz com que esse seja o mês de enfrentamento a essas violações de direitos.
DESAFIO – A secretária da Família, Fernanda Richa, explica que o silêncio e outros fatores envolvidos na violência contra a criança dificultam que a rede de proteção tome ciência da situação e possa intervir de maneira adequada.
A campanha tem a parceria das secretarias da Saúde, da Educação e da Segurança Pública, que registra e encaminha denúncias de violações de direitos, no Paraná, pelo telefone 181.
Fernanda Richa explicou que um dos objetivos da campanha é reduzir a subnotificação e incentivar a população a denunciar esses crimes, assim como estabelecer diálogo com a criança.
“É imprescindível sensibilizar família, professores e todos os agentes da rede de proteção. Somente dessa forma tornaremos visíveis essas situações que comprometem o desenvolvimento de meninos e meninas”, comentou Fernanda.
As duas animações mostram crianças chorando e passando por situações de perigo até encontrar alguém para contar o problema. Em um dos casos a acolhida é feita pela professora e no outro, pelos pais. “Esses filmes mostram para a criança que ela pode contar com uma pessoa de confiança para ajudá-la, em caso de violência ou em que algo está errado”.
PERIGO – Para Leandro Meller, superintendente das Políticas de Garantias de Direitos, da Secretariada Família, o desenvolvimento físico e intelectual está relacionado aos estímulos do ambiente experimentados na infância.
“A violência é violação de direitos, em qualquer idade. E seja qual for o tipo, poderá deixar marcas profundas na formação da criança, principalmente nos primeiros anos de vida”, disse Meller.
O presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, Alann Bento, enfatiza que as violências não escolhem classe social.
“Não é possível afirmar que os abusos físicos, sexuais ou psicológicos ocorrem mais em famílias de baixo poder aquisitivo. Mas, independentemente da condição financeira, o sofrimento é o mesmo, assim como o mal causado ao desenvolvimento saudável da criança e do adolescente”, explicou.

Sinais de alerta

Conforme dados do Ministério da Saúde, as quatro principais formas de violência contra crianças e adolescentes são: negligência ou abandono; e violências física, psicológica ou moral e sexual.
Levantamento das fichas de notificação pelos serviços de saúde, de 2010 a 2014, indicaram 35.479 casos. Desse total, 37,6% refere-se a negligência; 29,4% a violência física; 17,9% a psicológica; e 15,1% a sexual.
A negligência responde pela maioria das notificações para crianças até 12 anos e, a partir de então e até os 19 anos, é a violência física que predomina.
Os sinais que indicam que a criança ou adolescente sofreu alguma violência variam de acordo com a idade e o tipo de agressão. Além do choro, outras reações são perceptíveis até o fim da adolescência.
Em qualquer idade é preciso prestar atenção ao aparecimento, sem causa aparente, de irritabilidade constante; olhar indiferente e apatia; distúrbios do sono; dificuldade de socialização e tendência ao isolamento; aumento na incidência de doenças, especialmente de fundo alérgico; e frequentes de afecções de pele.
Também é preciso ficar alerta a manifestações precoces de sexualidade, desconfiança extrema, autoflagelação, baixa autoestima, insegurança e extrema agressividade ou passividade. “São sinais só perceptíveis principalmente por quem convive com a criança ou a vê com frequência, na escola, na igreja e em outro lugar de convívio social”, destacou Alann Bento.

Denúncias

Dados do disque-denúncia 181 informam que, de 2016 para 2017, o número de denúncias de violência contra crianças e adolescentes aumentou 37,6%, saltando de 843 para 1.166 casos. No ano passado, foram denunciados 49 casos de trabalho infantil, 3,61% do total; 64 de fornecimento ou uso de álcool ou outras drogas, representando 4,71%; 80 de violência psicológica ou moral, com 5,89%; 324 de negligência ou abandono, 23,86%; 413 de violência física, 30,41%; e 428 de violência sexual, 31,52%.