CARTA DE UM SUICIDA
Nesta semana busquei em meus rascunhos de escritas, guardados cuidadosamente – uma vez que, em breve se juntarão a outros textos para minha obra solo – este escrito que ora lhes apresento para apreciação. Quando professor, em minhas aulas de Literatura, a maior dificuldade dos meus alunos era o momento de uma análise de poema ou de obra literária em que era comandado “o que o autor queria dizer com aquele texto?”, comando comum numa discussão entre estudantes, após a leitura do texto. Então eu fazia a inferência, solicitando que, primeiramente observassem o período em que o texto fora escrito, o momento social, econômico e artístico da obra, texto e autor. Entretanto, você leitor deve estar se perguntando o porquê, de eu estar falando isto? Simples, porque todo leitor quando encerra a leitura de determinado texto se indaga disto. Logo, me permite e permitirei a você leitor esta resposta após a leitura do texto desta semana.
CARTA DE UM SUICÍDIO!
“Hoje desafoguei um pouco de mim, analisei meus passos, ponderei minhas decisões, escolhas e percebi o quanto fui alvo de observações desnecessárias e infundadas. A vida tem muito a me ensinar e eu mais ainda a aprender. Primeiramente, nunca confie totalmente na mão que lhe acalenta, ela é a mesma que balança o berço e te empurra do despenhadeiro. Estou começando a explodir por dentro, rasgar as vísceras, romper a placenta na qual estive alojado. Quero fugir deste útero que me aprisiona, quero berrar ao ver a luz, quero apontar o dedo médio pros idiotas e dizer eu sou mais eu! Que eu valho mais que o que rotulam. Quero sentir-me novamente. Quero sair desse lodo que me infiltraram, desse mar de escuridão que estão me afundando. Minhas forças resgatarei, pois sou mais forte, tenho palavras de ordem e ação. A partir de hoje decreto o suicídio deste inerte ser que me assombra. Dessa imagem nefasta do passado que me perturba, me tira o sono, ceifando meus sonhos, encharcando-me de desilusão e descrenças em mim mesmo e em meu potencial. A partir de hoje terei ao meu lado e ao meu redor apenas quem me ilumine, me preencha de paz, seguridade, amor, confiança, tranquilidade e positividade. Irei buscar a luz da qual me afastei, os sonhos que adormeci em minha ideia “toda azul”, das realizações que me recusei a pôr em prática, por covardia, por descrer que seria capaz disto. A partir de hoje, serei mais livre de minhas palavras, de meus pensamentos e de minha ações. Não quero mais ter medo de olhar pra trás e me assombrar com o que fui ou fiz. Quero de fato nascer de mim mesmo, do útero que me protegia da vida e hoje me assombra. Estou rompendo barreiras, destruindo muralhas e avançando mares nunca dantes navegados, dentro de mim e em busca do meu eu. Não me impeçam, não me atraquem em portos não navegáveis, não me segurem porque de hoje em diante o céu para mim será o limite.” (A.M.O. – 13/07/2015)
E então? Vamos a nossa explanação? Como disse, farei uma breve nota explicativa sobre este texto que muito me encanta, embora seu título possa soar um pouco mórbido. Quando escrevi este texto no ano passado, na época diria que soou como um grito de clamor, porém hoje, após a sua calcificação, observo que, era entre muitos mais um escrito, um desabafo, um basta à hipocrisia que me afligia na época. Todo indivíduo que se propõe a escrever, incondicionalmente trará nas entrelinhas de seus textos uma mensagem. Logo, cabe a cada leitor o olhar direcionado a este texto, seguindo a sua experiência de mundo e seu instante. Boas leituras!!
Colaboração de André Maciel de Oliveira