Cartão de crédito é extensão de renda para 20% de seus usuários

SÃO PAULO – Embora o cartão de crédito seja a modalidade de crédito mais popular entre os brasileiros, ele vem se tornando um problema para uma parcela dos consumidores.
Uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Diretores Lojistas (CNDL) aponta que um em cada cinco usuários de cartão de crédito (20%) utilizam o meio de pagamento como extensão da própria renda.
Ou seja, acabam recorrendo a esse tipo de crédito para continuar comprando quando o salário do mês acaba e, assim, adiar o pagamento.
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, o grande perigo de achar que o cartão de crédito funciona como renda complementar é o endividamento, porque muitos perdem controle dos gastos e compram além do que conseguem pagar quando a fatura chega.
“É preciso cuidado. Se o dinheiro que o consumidor dispõe já não está sendo suficiente para cobrir os atuais gastos, certamente não será o bastante para pagar as despesas do mês seguinte, quando terá de arcar com a fatura do cartão de crédito e também quitar as contas do mês”, alerta a economista.
Por outro lado, 44% dos entrevistados que utilizam o cartão afirmaram usá-lo apenas em casos de necessidades pontuais ou imprevistos, ao passo que 38% o fazem para parcelar as compras e 34% para facilitar o pagamento na internet.
“Se bem empregado, o cartão é uma maneira inteligente de concentrar as compras realizadas durante o mês em uma única conta, possibilitando um melhor controle dos gastos”, observa o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.
O levantamento mostra ainda que quatro em cada dez consumidores (41%) usuários de cartão já deixaram de fazer compras em estabelecimentos por não aceitarem essa forma de pagamento, sendo que destes 41% deixaram de ir a bares, restaurantes e lanchonetes, 35% não compraram com ambulantes e 19% desistiram de abastecer em postos de combustível.
Outros 27% acabaram pagando suas compras de outra forma.

Novas regras do rotativo ainda são percebidas

Em vigor desde abril de 2017, as novas regras do rotativo do cartão ainda são vistas com cautela pelos entrevistados. Dentre os consumidores que já pagaram o mínimo da fatura do cartão de crédito alguma vez e conhecem a nova regra do rotativo (80%), quase um terço (28%) não considera as novas regras favoráveis.
Para eles, os juros continuam abusivos e o valor da dívida permanece alto (10%). Já 58% dos entrevistados enxergam que a mudança tem contribuído de alguma forma, principalmente por ver o valor da parcela negociada junto ao banco caber no orçamento (46%).
“Ao contrário do que acontecia, o consumidor que hoje não consegue arcar com o valor integral de sua fatura pode fazer o pagamento mínimo apenas uma única vez. Na fatura seguinte, ele não consegue rolar a dívida como antes, por ter de pagar a fatura total”, explica Marcela Kawauti.
“Caso isso não aconteça, o banco é obrigado a oferecer uma linha de crédito mais barata do que a taxa do rotativo, de modo que o consumidor negocie e parcele sua dívida”, conclui.

30% não usaram cartão
de crédito no último ano

Para aqueles que não utilizaram cartão de crédito nos últimos 12 meses (30%), o principal motivo deve-se ao fato de estar com o nome sujo e não conseguir solicitar um cartão (30%). Outros preferem o pagamento à vista, seja para ganhar desconto (20%) ou porque preferem esta forma de pagamento, mesmo sem desconto (19%).
Ainda de acordo com o levantamento, quase a metade (48%) dos entrevistados que usaram o cartão nos últimos doze meses já ficou com o nome sujo devido à inadimplência no pagamento, sendo que 30% indicaram ter regularizado a situação e 18% ainda permanecem negativados. Cerca de um terço (33%) já teve o cartão bloqueado pelo atraso no pagamento da fatura.
A pesquisa revela ainda que 30% dos entrevistados tentaram adquirir um cartão nos últimos três meses. Desse total, 21% não obtiveram êxito e 9% conseguiram. A maioria (60%) considerou difícil ou muito difícil adquirir um cartão.