Centro de Convivência promove a saúde integral dos idosos, diz psicóloga
Quando foi inaugurado, em 14 de abril deste ano, o Centro de Convivência dos Idosos (CCI) do Instituto Maurício Gehlen, no Jardim São Jorge, atendia quase 600 pessoas. Dois meses e meio depois de iniciadas as atividades, já são 800 e ainda tem uma fila de espera.
“O Centro de Convivência promove a qualidade de vida e a saúde integral dos idosos”, diz a psicóloga Greyce Regina Mingotti de Oliveira, responsável pela oficina “Detox Emocional”. “Muitos nos contam que já abandonaram o remédio para dormir”, complementa Márcia Pizza, coordenadora do CCI.
A informação é alvissareira pois vem no mesmo momento em que a Secretaria Municipal de Assistência Social de Paranavaí informa que o número de casos de negligência e maus-tratos a idosos está aumentando na cidade, em flagrante desrespeito ao Estatuto do Idoso.
“Aqui, a convivência com seus pares e os exercícios físicos promovem um ganho em qualidade de vida aos idosos e a melhora da sua saúde mental e social”, diz Greyce Mingotti.
Embora a informação da Secretaria se refira apenas à violência (negligência e maus-tratos), Greyce diz que o sofrimento do idoso vai além.
“Eles (os idosos) começam a perder seus amigos e são colocados cara a cara com a única certeza que temos, que é a morte. Também começam a se sentir improdutivos, porque se aposentam e deixam de ter uma atividade remunerada, acreditando que só a atividade remunerada é considerada produtiva. Passam a ter a sensação de que não são mais úteis. E tudo isso leva a uma grande queda de autoestima e suas consequências”, explica a profissional.
Muitos dos idosos já apresentam as doenças próprias da idade, mas toda esta sensação acaba por agravar aquilo que poderia ser curado ou controlado.
“O que fazemos na oficina Detox Emocional é trabalhar estas emoções negativas para contribuir com a qualidade de vida dos nossos assistidos. A saúde não é simplesmente a ausência de doença. A Organização Mundial da Saúde já reconhece a saúde integral, que é a física, mental e social. E eu acrescento, a espiritual”, sublinha a psicóloga.
Greyce lembra que os que agora chegaram à terceira idade são de uma geração em que a mulher não podia sentir raiva, devia estar sempre calma e à disposição da família e o homem não podia chorar, “tudo isso dificulta a vida emocional do idoso”, diz ela.
A psicóloga lembra que o ser humano tem quatro sentimentos básicos: a alegria, o medo, a raiva e a tristeza. “Parece que é desigual, pois aparentemente são três sentimentos, em tese, negativos, contra um positivo. Mas não é assim. Sabendo trabalhar estas emoções e tê-las na dose certa, só nos ajudam”, explica ela.
A psicóloga lembra que é a raiva que permite que ninguém se deixe explorar; a tristeza faz o ser humano colocar tudo para fora; e o medo faz com que as pessoas se protejam.
“Só com estas emoções equilibradas é que podemos saborear a alegria”, ensina ela. “As emoções nos são dadas. Não temos domínio sobre elas. Mas podemos entendê-las e trabalhar para que elas nos favoreçam”, complementa.
Greyce diz que homens que realizam serviços mais pesados são obcecados para se aposentar “e aí começam seus problemas, pois eles não querem ser vistos como velhos”. E, de fato, não são. A longevidade hoje vai muito além. Por isso eles não têm referência de como é ter 60 anos e ser jovem ainda.
Também compromete a saúde mental e social dos idosos o conflito de gerações. Ela diz que é comum pessoas com mais idades ter dificuldade na relação com os mais jovens.
De um lado – explica a profissional – o jovem não tem paciência em lidar com as emoções e as limitações dos mais idosos, que por sua vez, criticam o comportamento dos jovens, por exemplo, por se relacionar com o mundo através de aplicativos de computador e telefones celulares.
É em todo esse contexto que o Centro de Convivência do Idoso, construído e mantido pelo Instituto Maurício Gehlen, beneficia seus “alunos”.
Dos 800 atendidos nas diversas oficinas, mais de 100 participam do Detox Emocional, “para fazer aquela limpeza na alma, desintoxicar o coração”. A oficina é oferecida apenas para quem já é inscrito em alguma das atividades do CCI.
“Oferecemos um grande espelho em nossa oficina para que eles possam se conhecer, ver suas qualidades e defeitos – nesta idade os defeitos que já existiam se acentuam. Este autoconhecimento vai permitir qualidade de vida, que é o objetivo do Instituto. Ou seja, promover a saúde integral. As atividades físicas ajudam a oxigenar melhor o corpo, o relacionamento contribui para a saúde social e procuramos oferecer ferramentas para que cada um tenha também a sua saúde mental garantida”, relata Greyce Mingotti.