Cheiro vale uma equipe

Ayrton Baptista*

O juiz Sergio Moro não pode errar. Ainda mais agora em que sobre ele pesa toda a responsabilidade judicial como se fosse um integrante do Supremo Tribunal Federal.
Mas acima dele parece estar o novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, recém-empossado mas já senhor capaz de sentir o cheiro de um vazamento pelo que ameaça demitir uma equipe inteira. Dispensa até prova. Poderoso, sente-se capaz de dispensar inquérito. Basta cheirar.
Ora, num momento como este, com a principal figura da política nacional sem função que o livre de aborrecimentos maiores. Cheira a provocação, cheira a ameaça. Suas palavras extrapolam o bom senso, ao ponto de levar juízes de todo o país a se colocar ao lado de Sergio Moro.
O país atravessa uma política difícil. Quem manda ou quem pensa mandar não pode esbravejar como capaz de atemorizar todo um povo, a partir de autoridades em cada setor. Estamos todos envolvidos nos acontecimentos recentes, independentemente de posições políticas. É tempo de se procurar uma saída e acalmar todo um povo. Dos políticos aos administradores, aos juízes de todas as cortes e todos procurando acalmar e não provocar.
Por sua vez, o ex-presidente Lula corre o perigo de ver determinada sua prisão, como os meios de comunicação anunciam a todo instante. E ele se vê sozinho, pois os principais nomes do PT ou estão ainda enclausurados ou já não têm força para manter-se em posição de mando. A presidente Dilma Rousseff aproveita as oportunidades para deitar falação e pregar no vazio: para ela, seu tempo de Planalto merece aplausos. Não é o que dizem as pesquisas.
O congresso está sem um comando respeitável. Lula se dá ao desplante de igualar Renan Calheiros e Eduardo Cunha, dirigindo-lhes palavrões. Lula e Renan almoçaram há poucos dias, trocaram amabilidades perante outros senadores, o que não impede que o ex-presidente lhe dedique designações nada elogiáveis.
Eduardo Cunha é alvo de desfeitas, de discursos duros contra suas posições políticas e pessoais, mas consegue ainda, segundo a imprensa, indicar o parlamentar que irá relatar o processo pelo impeachment de Dilma.
E se assim caminha a humanidade, como diz o jornalista Fábio Campana: estamos todos fritos, ainda que não se deixe Lula brindar-nos com palavrões que não fazem justiça ao cargo já ocupado e abuse de se dirigir às famílias com palavrões que não cabem na casa de todos nós.
E se não há liderança nas forças governistas, não se culpem os brasileiros de norte a sul. Muita gente fez por merecer.

*Ayrton Baptista, jornalista