Ciúmes
Rogério Lorenzetti*
Um dos maiores problemas dos prefeitos eleitos é preencher a expectativa dos seus aliados. Os adversários, terminada a disputa, costumam dar uma trégua, aguardando os movimentos políticos e administrativos.
Para eles qualquer atitude de atenção já será bem-vinda e costumam se surpreender quando o eleito, de forma sábia, convoca para os quadros administrativos pessoas qualificadas, sem priorizar a origem partidária ou ter recebido o apoio dos mesmos.
O Brasil tem sofrido muito com o aparelhamento da estrutura administrativa por projetos políticos partidários. Claro que é da natureza do sistema democrático valorizar os que ajudam a vencer a eleição, até porque o projeto de governo, que deve ser feito com a participação de colaboradores, será melhor cumprido se as chefias estiverem comprometidas com o programa aprovado na campanha política.
O que deve ser evitado é a simples nomeação de correligionários, alguns não qualificados para os cargos, como moeda de troca pelo apoio dado. Esta é uma iniciativa que se provará fatal para o eleito. A administração pública exige, nos tempos que vivemos, de pessoas qualificadas e que conheçam o que vão enfrentar.
A mistura de profissionais vindos da iniciativa privada com os servidores de carreira é salutar para o andamento da máquina pública, mas como se diz no jargão popular: "de bem intencionados o inferno está cheio". Se o nomeado não se provar eficiente e com a liderança necessária para o exercício do cargo, deve ser removido rapidamente, pois quatro anos passam logo. A população, cansada, sofrida, decepcionada com a maioria dos políticos e exigente com resultados, não terá muita paciência com os eleitos.
Grupos de correligionários que envolvem e cercam os prefeitos, não permitindo a simples consulta a quem não apoiou ou não participou da campanha, costuma ter resultados desastrosos para o governo que irá se instalar. Além e acima da questão partidária está o interesse público. Frequentemente quem paga o preço político e jurídico de erros cometidos no exercício do mandato é o prefeito, o maior interessado em que tudo corra bem no período administrativo que foi confiado a ele pela população.
Sugiro aos novos prefeitos parcimônia em gastos e nomeações, pois "cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém". Por mais que o município esteja em boa situação, a acelerada no início pode custar muito caro depois. Afinal a freada brusca impacta muito mais que a aceleração gradual, além de causar descontentamento naqueles que torceram por uma boa administração.
Por último cito a frase atribuída a Tancredo Neves, experiente político mineiro: "nunca nomeie quem você não poderá demitir".
Boa sorte a todos!
*Rogério J. Lorenzetti, prefeito de Paranavaí