Colheitas de soja surpreendem no areão

Colheitas generosas de soja estão dando o que falar no Noroeste do Paraná. Na microrregião de Paranavaí, que inclui municípios banhados pelo Paranapanema, na divisa com São Paulo, as quantidades colhidas nesta safra 2015/16 têm sido surpreendentes.
Os solos arenosos com baixo teor de argila, as altas temperaturas e o regime de chuvas marcado por volumes historicamente inferiores às médias de outras regiões, não impedem a expansão da oleaginosa. A lavoura está entrando no lugar de pastos degradados e avançando sobre a cana de açúcar.
Atendidos pela unidade da Cocamar em Paranacity, produtores têm conseguido colher até mais, este ano, que muitos de seus colegas da terra roxa.
As chuvas intensas trazidas pelo El Niño ajudaram, mas a explicação está no cuidado com o solo, no emprego de tecnologia e na mentalidade empresarial.
POTENCIAL – A Fazenda Flor Roxa, em Jardim Olinda, é a principal vitrine desses novos tempos do Noroeste. Seus resultados mostram como é grande o potencial para o desenvolvimento de uma agricultura moderna e produtiva na região. Num lote inicial de 12 alqueires, a média alcançada foi de 192 sacas, quantidade que ficou em 175 sacas em outra área.
De acordo com o proprietário, o engenheiro agrônomo César Vellini, de 47 anos, as primeiras experiências com soja começaram em 1996, evoluindo depois para um bem conduzido programa de integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF).
“A colheita de 192 sacas por alqueire foi o nosso recorde”, diz Vellini, lembrando que, até então, a maior média havia sido obtida em 2003: 165 sacas. Ao longo de 20 anos, demonstrando a viabilidade da soja na região, a média na Flor Roxa, considerando um ano pelo outro, é de 125 sacas, conforme Vellini.
LIÇÕES – Ao falar sobre produtividade, algumas lições foram aprendidas, segundo ele. Uma delas, o fornecimento de boa quantidade de matéria orgânica ao solo, adubado com dez toneladas por alqueire de uma mistura de esterco de galinha e de gado, e gesso.
Outro detalhe importante: o plantio da safra deve ser feito, no mais tardar, no comecinho de outubro. “Precisamos chegar em janeiro, mês muito sofrido para nós, com a soja pronta”, observa o proprietário. O problema de janeiro não se resume a eventuais veranicos: “com a alta temperatura, a terra molhada é capaz de cozinhar a lavoura”.
A terceira lição é que, sem cobertura para proteger o solo, nada feito. Vellini conta que é preciso saber “armazenar” água no solo. Ele explica que após colher a soja, faz o plantio de milho consorciado com capim braquiária.
Como o milho vai crescer mais rápido, a braquiária fica por baixo, sem atrapalhar. E será um pasto de qualidade, no inverno, quando o cereal for colhido. Dessa forma, o produtor vai ter comida em quantidade para fornecer ao rebanho por um período de 90 dias, até às vésperas do plantio da safra seguinte, quanto a pastagem é dessecada para fazer a proteção do solo no verão. A palhada vai reter umidade por mais tempo após a chuva. “A gente precisa estar sempre preparado para uma seca”.
QUALIDADE – Sobre o consórcio milho e braquiária, faz quatro anos que o mesmo foi adotado e os resultados têm sido “os melhores possíveis”, conforme Vellini, que acrescenta: “é um sistema fácil” e o capim tem a vantagem, ainda, de inibir o desenvolvimento de ervas como a buva e o amargoso.
O engenheiro agrônomo César Gesualdo, da unidade da Cocamar em Paranacity, destaca a qualidade do trabalho desenvolvido por Vellini.  “Tudo o que a Cocamar orienta, ele procura seguir à risca”. Da mesma forma, o produtor está sempre de olho em novidades.

Para produtor, ILPF “é segurança”
Com sua experiência em ILPF, César Vellini afirma que o sistema de integração possibilitou a ele encontrar o “caminho da segurança”. Se antes a propriedade se resumia à pecuária extensiva, com pastos degradados e baixa ocupação, hoje a realidade é outra.
No verão, a soja alcança níveis de produtividade respeitáveis, semelhantes ou superiores (como se viu nesta safra) aos das terras mais férteis. No inverno, o milho não fica atrás: de três anos para cá, com o advento de tecnologias mais modernas, a Fazenda Flor Roxa vem colhendo entre 300 a 340 sacas por alqueire.  E, em 100 alqueires de pasto, são mantidas 800 cabeças de gado nelore, quatro vezes mais que a média regional.
Conforme Vellini, a atividade foi planejada para que ao menos 350 cabeças sejam abatidas por ano: os bezerros entram com um ano de vida e saem depois de um ano e meio, pesando entre 18 e 19 arrobas.
O gado é vendido para frigoríficos de Maringá e Colorado, com média de 53% de rendimento de carcaça. Para baratear os custos com alimentação, cerca de 10% das colheitas de soja e milho são direcionadas para produção própria de ração, agregando valor com a transformação de grãos em carne.
Entre 2005 e 2006, quando enfrentou dificuldades, Vellini conta que decidiu arrendar 400 alqueires da fazenda para uma usina de Colorado. Como o contrato vence agora em 2016, o proprietário já informou à empresa que o mesmo não será renovado. “Com os 400 alqueires de volta, pretendo ampliar a integração”, cita.
César Vellini é daqueles produtores que moram na propriedade e acompanham cada setor, atentos aos menores detalhes. Ele já conta com o apoio do filho Vítor, de 19 anos, estudante de agronomia, que gosta especialmente de lidar com as máquinas.