Coluna do Conselho Municipal dos Direitos do Idoso – CMDI

Sabe aquela fase em que os pais chegam à terceira idade e o filho acha que deve cuidar de tudo da vida deles. E – o pior – que pode mandar nos pais, pois, na opinião deles, os idosos voltaram a ser criança? Apague esse pensamento da mente e saiba que isso não trará nenhum benefício.
Segundo a geriatra do Hospital Metropolitano, Livia Terezinha Devens, há vários mitos sobre o envelhecimento e os mais frequentes são: o idoso vira criança, torna-se assexuado e esquece tudo.
Outro erro, segundo a geriatra, é afirmar que o idoso se torna teimoso. “A pessoa pode ter tido um temperamento enérgico durante a vida e, antes, isso era interpretado como determinação. Depois, na terceira idade, o mesmo comportamento acaba sendo visto como teimosia”.
A médica explica que o ideal é lembrar como a pessoa era e verificar como ela age atualmente. “Pode ser sinal de depressão se o idoso que não quer sair de casa. Mas, se ele nunca gostou de sair, ficar em casa é natural”.
A mesma regra deve ser seguida com a linguagem. Se durante toda a vida o idoso gostou de usar palavras no diminutivo, um parente pode até chamá-lo de “vovozinho”, mas nem todo idoso gosta de ser chamado assim (principalmente se quem chama não for seu neto). Mesmo a família deve ficar atenta se o seu avô ou avó gosta de ser chamado assim. “Quem usa a linguagem do ‘inho’ pode ter a intenção de demonstrar carinho, mas nem sempre funciona. Bom senso é a melhor opção. Use ‘senhor’ ou ‘senhora’”.
Não é um bebê – Nem em casos de doenças, como demência e depressão, esse comportamento é bem-vindo. A geriatra explica que dizer “vou passar talco no meu bebê” e “vou colocar fralda no meu bebê” pode deixar o idoso triste, e essa tristeza levar à depressão. “Ele já teve uma trajetória e sabe que não é um bebê. O mesmo serve para quem faz xuxinhas no cabelo de idosas. A infantilização é ruim”.
Para a pensionista Jacilda Teles Moura, 75 anos, a opinião dos idosos tem que ser respeitada. “Tenho três filhos e todos respeitam minhas decisões. Faço tudo o que posso sozinha: compras, viagens, saídas com os meus netos. Essa autonomia é importante para mim e para eles. Meus filhos têm a vida deles e eu, a minha. Como qualquer família, quando um precisa de ajuda, o outro auxilia. Apenas isso”.
Jacilda conta que sabe que há idosos dependentes, mas acha que isso só pode acontecer se a pessoa estiver doente. “Não é certo que famílias infantilizem pais e avós. A dependência serve para quem tem uma doença e não pode sair da cama. Quem passou dos 60 anos não precisa fazer o que o filho manda ou esperar que ele lhe dê tudo na mão. Eu só aviso onde eu vou para que eles não fiquem preocupados, mas quem cuida da minha vida sou eu”.
Amor – Além do respeito, os idosos também precisam ser tratados com muito amor. Este é o tema do livro “Antes que Seja Tarde – De Mãos Dadas Com Seus Velhinhos”, da terapeuta e professora de dança, escritora e compositora Ingrid Moreira Mendonça, lançado independentemente em junho. Sua mãe teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) há sete anos e, desde então, ela e a irmã são as responsáveis pelos cuidados com a idosa.
“Quando o idoso é independente, concordo que não deve ser tratado com muitos mimos. Mas, dependendo do caso, acho que esse tratamento especial é válido. No livro, falo das nossas experiências, do quanto é importante demonstrar amor pelos idosos”.