Com maior rede de leite materno do mundo, Brasil ainda precisa de doadoras

BRASÍLIA (Abr) – O Brasil tem a maior e mais complexa rede de bancos de leite do mundo, com 221 unidades e 186 postos de coleta, segundo o Ministério da Saúde.
Apesar da estrutura e das mobilizações, o número de doações ainda é baixo, e a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano consegue suprir aproximadamente 60% da demanda para os recém-nascidos prematuros e de baixo peso internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais do país.
Para ampliar a conscientização sobre a importância da doação de leite humano e incentivar a prática entre as mães que amamentam, o ministério lançou ontem a campanha Doe Leite Materno de 2017, em parceria com a rede de bancos de leite.
“Nada é mais presente do que o senso de solidariedade de uma mãe que amamenta seu bebê. Se as mães não realizam a doação como a gente precisa, em verdade, é porque nós estamos sendo muito ineficazes no processo de comunicação com essas mães, sequer para apresentar o real significado da necessidade de doação”, disse o coordenador da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, João Aprígio.
MORTALIDADE INFANTIL – A amamentação é o principal fator de redução da mortalidade infantil, pois diminui a ocorrência de diarreias e infecções, principais causas de morte em recém-nascidos. Estima-se que o aleitamento materno reduza em até 13% a morte de crianças menores de 5 anos por causas preveníveis.
Gisele Bortoline, de 33 anos, teve pré-eclampsia grave quando estava grávida de Helena, hoje com 1 ano e 3 meses. A menina nasceu prematura, com apenas 740 gramas, ficou internada por quatro meses na UTI neonatal e recebia leite materno por uma sonda.
Gisele conta que ordenhava o leite para a filha, mas que, com o tempo, não conseguiu retirar o suficiente e precisou do apoio do banco de leite. “As mães que doaram leite ajudaram a recuperar a Helena em uma fase tão crucial da vida. Isso foi fundamental”, disse.
“Se o leite humano já é tão importante para os bebês bem nascidos, o que dirá para essas crianças. O leite humano se apresenta como um fator de sobrevivência, sem nenhum exagero”, disse João Aprígio. “Para essas crianças, muito mais que um alimento, eles precisam de um fármaco, de um alimento funcional capaz de suprir aquilo que os produtos industrializados jamais supririam”, explicou.
No Brasil, nascem aproximadamente 3 milhões de bebês por ano, e 14% deles são prematuros ou têm baixo peso (menos que 2,5 quilos). “Ao trabalhar com essas crianças não estou preocupado apenas em recuperá-las mais prontamente para tirar da fase aguda, estou construindo um sujeito para vida toda”, disse Aprígio, explicando que o aleitamento materno também diminui a chances de doenças crônicas não transmissíveis.