Comerciantes reclamam sobre pessoas em situação de rua perto da rodoviária

As janelas têm grades. As portas ficam sempre fechadas. O medo é constante. Perto do Terminal Rodoviário Aguilar Selhorst (Avenida Heitor Alencar Furtado), em Paranavaí, a sensação de insegurança faz parte do dia a dia de moradores e comerciantes.
Logo pela manhã, pessoas em situação de rua se juntam naquela região da cidade e passam o dia consumindo bebidas alcoólicas. Sentados em bancos na área externa da rodoviária, homens e mulheres abordam quem passa por ali e pedem dinheiro e alimentos.
A situação chegou ao conhecimento da equipe do Diário do Noroeste a partir de contatos feitos por empresários. Com receio de sofrerem retaliações, os entrevistados preferiram manter o anonimato, mas contaram como é conviver com aquela situação, que se arrasta por mais de um ano.
Um comerciante afirmou que já foi assaltado duas vezes. Atribuiu a autoria dos crimes a traficantes e usuários de drogas que ficam perto da rodoviária diariamente. Precisou contratar serviços de segurança privada para tentar evitar novas ações de bandidos.
A proprietária de outro estabelecimento comercial também contou que já foi vítima de assalto. Disse que está sempre apreensiva com a possibilidade de acontecer novamente, por isso, adotou algumas medidas de segurança, na tentativa de manter a própria integridade e a de clientes.
O medo se tornou companheiro inseparável de uma empresária do bairro. Além das abordagens indesejáveis e dos insultos, ela já foi ameaçada por mulheres que estão entre as pessoas em situação de rua nas proximidades do terminal rodoviário de Paranavaí.
Os três comerciantes garantiram que os últimos meses foram marcados por redução no número de clientes, resultado da presença e das abordagens do grupo. Falaram em queda superior a 10% e disseram temer o agravamento da situação, caso não sejam tomadas providências.
SEGURANÇA PÚBLICA – Comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar, o tenente-coronel Ademar Carlos Paschoal explicou que estarem consumindo bebidas alcoólicas e pedindo alimentos ou dinheiro não caracteriza crime. “Por ser um local público, estão no direito deles. Não é questão de polícia.”
Se houver ameaças, como relatou uma das comerciantes, é preciso informar as autoridades policiais e fazer a representação. Em casos assim, vítima e agressor prestam depoimentos e contam as versões do fato. Então, são aplicadas as medidas legais cabíveis.
Também é necessário informar a polícia sobre outras situações que coloquem em risco a vida de moradores, empresários e pessoas que passam pelo local. Suspeitas sobre tráfico e consumo de drogas estão incluídas nesses casos.
O tenente-coronel Paschoal afirmou que é preciso verificar a questão de perto, para tentar entender o que está acontecendo nas proximidades do terminal rodoviário de Paranavaí. Até agora, disse o comandante do 8º BPM, não há reclamações sobre crimes cometidos pelas pessoas que ficam ali na calçada.
A assistente social Mara Bernadelli de Souza Goes é responsável por fazer contato com as pessoas em situação de rua. Com o apoio da equipe do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), vai para as ruas sempre que há pedidos por parte dos moradores.
Ela contou que conhece parte dos homens e mulheres que ficam pelas vias públicas de Paranavaí. “Muitos têm casa, mas romperam os vínculos com familiares. Então, só retornam de vez em quando, porque preferem as ruas.”
Mara afirmou que casos de ameaças e violência, quando ocorrem, geralmente envolvem pessoas de outras cidades que passam por Paranavaí e se juntam, temporariamente, aos grupos que ficam em locais públicos.
POLÍTICAS SOCIAIS – A secretária municipal de Assistência Social, Tasiane Cristina de Souza, informou que as políticas públicas voltadas para pessoas em situação de rua estão sendo estruturadas em Paranavaí. “Estamos em fase de reordenamento e estudos.” A intenção é fortalecer a proteção à população que está nas ruas.
De acordo com o coordenador de Proteção Social Especial, Vanderlei Peres, o ideal seria oferecer uma casa de passagem para as pessoas abordadas nas ruas da cidade. Receberiam os cuidados necessários e seriam encaminhadas para os familiares.
Enquanto o projeto está sendo elaborado, o trabalho da Assistência Social consiste em fazer abordagens a esse público, verificar a situação de cada pessoa e orientar sobre a volta para casa. Em alguns casos, a secretaria municipal custeia a passagem de ônibus para o retorno à cidade de origem.
Um levantamento feito pela Secretaria de Assistência Social entre os anos de 2016 e 2017 permitiu traçar o perfil da população em situação de rua. Os dados, compilados a partir de 305 abordagens, estão ajudando a definir as ações a serem desenvolvidas na cidade.
Homens são maioria e representam 78% das pessoas em situação de rua. 65% dessa população é solteira. 71% têm entre 30 e 59 anos de idade; 21% têm de 18 a 29 anos; e 8% estão acima dos 60 anos. 15% têm a rua como moradia; o restante tem residência fixa. 58% não têm alfabetização. 82% não são de Paranavaí.
Consultor e assessor em Políticas Públicas, Uilson José Gonçalves Araújo esteve recentemente em Paranavaí. Um dos objetivos da visita foi auxiliar a equipe da Secretaria Municipal de Assistência Social na confecção de ações destinadas às pessoas em situação de rua.
Araújo afirmou que essa população sempre existiu, mas antes era socialmente invisível. Com o surgimento de políticas públicas de acolhimento e atenção, as pessoas em situação de rua passaram a ter espaços dentro da comunidade, causando incômodos.
O consultor e assessor disse, ainda, que é preciso considerar que “são sujeitos de direitos”, como qualquer cidadão. Por isso, podem, sim, ocupar espaços públicos. Se a todos é permitido ir e vir, por que eles não teriam essa liberdade?

Frase
“Por ser um local público, estão no direito deles. Não é questão de polícia”.
Do tenente-coronel Ademar Carlos Paschoal, comandante do 8º BPM, explicando que as pessoas estarem consumindo bebidas alcoólicas e pedindo alimentos ou dinheiro não caracteriza crime.