COMO VOS AMEI (ATÉ O EXTREMO OS AMOU) SE CHEGA À GLÓRIA…
No Antigo Testamento acreditava-se que Deus manifestasse sua Glória nos fenômenos da natureza (fogo, relâmpagos, trovões, tempestades, nuvens, etc.), provocando um misto de curiosidade que atrai e de medo que provoca distância.
Para o evangelho de João, Jesus manifesta a Glória de Deus pelo fato de ser um de nós, extremamente humano a ponto de se tornar divino. A Glória de Deus é o humano Jesus, que confere ao humano sua expressão mais elevada.
“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e VIMOS A SUA GLÓRIA, A GLÓRIA QUE O FILHO ÚNICO RECEBE DO PAI, CHEIO DE GRAÇA E DE VERDADE” (Jo 1,14) Ele não só se rebaixou se fez carne e assumiu a história e a fragilidade humana, mas na sua pessoa e história está presente a “GLÓRIA”. Embora de forma velada e escondida. É preciso saber percebê-la através dos sinais. A Encarnação desconcerta todo um modo de ser e conceber Deus de modo visivelmente glorioso.
GLÓRIA SIGNIFICA: manifestação esplendida e salvífica de Deus. Toda a vida de Jesus foi esta manifestação, mas a plenitude de sua Glória foi justamente na cruz que João chama de “GLORIFICAÇÃO” E “ELEVAÇÃO”.
Ora como pode ser cruz glorificação? Para João, Deus é Amor (1Jo 4,8.16). Ele se manifesta onde o amor aparece. Ora, é na cruz que o amor de Deus aparece (Jo 3,16). É ali que seu amor se manifesta na sua profundidade esplendida. É nela que aparece toda sua “Graça e Verdade (1,14). Um novo modo de entender a epifania de Deus, novo modo de entender o mistério da cruz, que ela é vida. O mistério do amor de Deus que ora aparece abandonar o homem.
Interessante que se diz que quando Judas saiu para trair e entregar Jesus, então manifestou a Glória do Filho do Homem. Como entender que a traição de Jesus, na expressão “AGORA” pode manifestar a Glória? O “AGORA” se refere à “HORA’ de Jesus, que culmina no mistério pascal. Parece que Jesus já se alegra antevendo a sua vitória. É nessa hora que leva a pleno cumprimento a vontade do Pai, revelando-se plenamente Filho Obediente e revelando ao mesmo tempo todas as dimensões do Projeto de Deus.
O versículo 32 retoma o mesmo pensamento e o amplia, trazendo nova explicitação da expressão “Manifestar a Glória”, agora projetada para o futuro junto de Deus. Aqui já não se fala mais da ação de Jesus que revela, mas a do Pai que manifesta a Glória de Jesus ressuscitando-o e tornando-O fonte de vida para todos os que acreditam nele.
O amor de Deus foi tão grande, que nos enviou o seu Filho único. Ele é o rosto humano de Deus: fez-nos sentir de perto o quanto Deus nos quer bem. Fazemos parte do Corpo de Cristo, fomos inseridos N’Ele: “Quem crê em mim… Eu e o Pai viremos e faremos nele nossa morada” Por sermos amigos, somos gente de sua casa, íntimos. O mandamento de Jesus é chamado “NOVO’ porque promulgado no começo de um novo tempo: ao início da Aliança Nova que o sangue de Cristo inaugura solenemente. A novidade se acha também em sua formulação. Amar o próximo já era coisa antiga: O Antigo Testamento (Lv 19,18) o preceituava. Os judeus eram conhecidos como os “adoradores do único Deus”. Daí para frente, os cristãos serão caracterizados pelo amor a Deus, que passe através do próximo, amor visível e palpável. O homem era à medida de suas forças, o empenho exigia de “todo o coração, toda a alma e toda mente”. Portanto, o amor a Deus defrontava-se com as limitações humanas. Também o amor ao próximo estava circunscrito às mesmas fronteiras: “COMO A TI MESMO”. A medida agora se dilata é a largueza do próprio Jesus – “COMO EU VOS AMEI”. É o dom total de si e na extensão de todos os homens. O modelo do amor deixa de ser o homem simplesmente, passa a ser o Filho de Deus feito homem.
O amor de Jesus traduziu-se em ações, foi eminentemente prático. Fez-se Serviço.
Doar a vida é oferecer nosso tempo, nossas habilidades, nossa atenção, no carinho. Até mesmo nas coisas que damos aos outros, nos doamos se o fazemos de bom coração. No objeto vai um pouco de nós. O amor mandado por Cristo não é puro romantismo, um sentimento vago: amar “COMO ELE AMOU”. Isto quer dizer perdoar não apenas sete vezes, mas sempre: solidarizar-se com os mais necessitados, amar não só com palavras, mas com ações. Perseverar até o fim no amor, enfim, o amor efetivo e não só afetivo.
Frei Filomeno dos Santos O. Carm.