Conclave começa e fumaça preta frustra fiéis
A notícia de que a igreja não havia escolhido o novo papa era previsível, mas ainda assim frustrou milhares de fiéis e turistas que enfrentaram chuva fina e frio de 8ºC na esperança de presenciar o anúncio do novo papa.
A sucessão de Bento 16 continua hoje, quando estão programadas mais quatro votações secretas, e só termina quando um candidato receber 77 votos, o equivalente a dois terços dos 115 eleitores.
Até lá, todos permanecem fechados no Vaticano, onde bloqueadores de celular ajudam a impedir qualquer contato com o mundo exterior.
De manhã, em missa solene na Basílica de São Pedro, o decano do Colégio de Cardeais, Angelo Sodano, fez um pedido pela unidade na igreja, que chega ao conclave dividida e com a imagem manchada por escândalos de pedofilia e corrupção.
O italiano leu um trecho da "Carta aos Efésios", de são Paulo, que prega a união de personalidades distintas pelo bem comum do catolicismo. "Cada um de nós deve colaborar na construção da unidade da igreja", disse.
Ele leu uma passagem que exorta os seguidores de Cristo a se comportarem "de maneira digna, com toda humildade, mansidão e paciência, suportando-se reciprocamente com amor e tentando conservar a unidade do espírito".
O cardeal, que tem 85 anos e não participa da votação, chamou o papa emérito Bento 16 de "amado e venerado" e disse que ele fez um pontificado "brilhante".
"Renovamos, neste momento, toda a nossa gratidão", afirmou. Os fiéis que lotavam a basílica aplaudiram por quase um minuto.
No fim da homilia, o decano pediu orações para que o Senhor conceda à igreja um papa com "coração generoso" para a "nobre missão" de liderar os católicos.
Às 16h31 locais, os cardeais começaram a procissão para a Capela Sistina. A entrada, os cânticos iniciais e os juramentos de sigilo foram filmados pela TV Vaticano e retransmitidos ao vivo por emissoras de todo o mundo.
Uma hora depois, ouviu-se o "extra omnes" (todos fora, em latim), e as portas da Sistina foram fechadas para a única votação do dia.
Além dos cardeais eleitores, só permaneceram lá dentro o mestre de cerimônias litúrgicas Guido Marini, 48, e o cardeal Prosper Grech, 87, que conduzirá as orações para evocar o Espírito Santo.
No último dia em que os cardeais tiveram acesso à imprensa, os jornais italianos evitaram arriscar um resultado, mas voltaram a apresentar o italiano Angelo Scola e o brasileiro Odilo Scherer como os candidatos mais fortes.
Uma reportagem do "La Repubblica" disse que Scherer teria feito uma defesa enfática da Cúria Romana na última reunião de cardeais antes do conclave, anteontem, em resposta a críticas repetidas por cerca de 40 colegas.
Ontem de manhã, ao ser questionado sobre o que sentia horas antes da primeira votação secreta, ele disse apenas uma palavra: "Frio". (Por Bernardo Mello Franco e Felipe Seligman, Enviados especiais)
Vaticano reforça fumaça após
casos de "falso positivo"
Assim que a fumaça começou a sair ontem da chaminé instalada sobre a Capela Sistina, os milhares de fiéis e jornalistas presentes não tiveram a menor dúvida: é preta e não saberemos ainda quem será o futuro papa.
O Vaticano fez questão este ano de produzir muita fumaça, densa e muito escura, para não criar dúvida e gerar falsas expectativas.
Nem sempre foi assim. Em conclaves passados, como o de 2005, quando Ratzinger foi escolhido, o sinal era tão fraco que gerava dúvidas sobre o resultado das votações diárias. Naquela ocasião, a Santa Sé decidiu tocar os sinos no momento da fumaça branca (o que irá ocorrer este ano de novo, só para garantir), mas por um problema de comunicação, o som atrasou e ninguém sabia ao certo o que tinha acontecido.
Na Capela Sistina, são instalados dois fornos, um para queimar as cédulas e o outro para, com componentes químicos, gerar a fumaça preta (nada de papa) ou a branca ("habemus papam").
O Vaticano não divulga quais produtos químicos são utilizados para gerar a cor da fumaça. O segredo atiça a curiosidade e gera até uma certa especulação sobre o tema. O jornal americano "New York Times", por exemplo, entrevistou um especialista em máquinas de fumaça e concluiu que provavelmente o produto utilizado é o clorato de potássio puro para a fumaça branca e com corante para a preta.