Condução da Lava Jato é um vexame, diz petista

BRASÍLIA (FOLHAPRESS) – O senador Jorge Viana (PT-AC), vice-presidente do Senado, criticou, ontem, a condução pelo Ministério Público das investigações sobre o esquema de corrupção na Petrobras. O petista cobrou ainda a divulgação imediata da lista de envolvidos e disse que o sigilo sobre ela já não existe mais porque está havendo vazamentos seletivos há meses.
"A condução desse processo até agora foi um vexame. Há um joguete de vazamento de nomes de pessoas que é inaceitável. O Supremo tem que tomar uma atitude definitiva e espero que seja o de dar transparência, já que ela está sendo feita seletivamente para atingir pessoas", afirmou o senador, um dos poucos que compareceu ao Senado nesta sexta.
O petista não atribuiu os vazamentos diretamente ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nem ao STF (Supremo Tribunal Federal), mas a pessoas que atuaram em outros níveis das investigações.
"As pessoas vazam os nomes e se diz que o processo está em sigilo? Há uma lista fantasma ainda. É uma hipocrisia o que o país está vivendo hoje em uma de suas crises mais graves", disse.
Ele cobrou ainda que o Supremo e a PGR tomem as rédeas do processo e deem transparência ao processo o mais rápido possível. A expectativa é que o ministro relator do caso, Teori Zavascki, divulgue ainda nesta sexta os 54 nomes de pessoas envolvidas na Operação lava Jato que tiveram o pedido de abertura de inquérito apresentado por Janot.
O ministro pode, no entanto, decidir por manter o sigilo sobre ela.
Já se sabe alguns nomes que estão na lista, como dos presidentes da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), do senador e ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL) e da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Um dos nomes que também será investigado é do irmão de Jorge Viana, o governador do Acre, Tião Viana (PT). Na próxima semana serão enviados ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) pedidos de investigação sobre a eventual participação de Tião Viana e do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB).
Citações aos nomes dos dois governadores estão na corte desde o mês passado, quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, promoveu a cisão das delações. Ele manteve no STF deputados e senadores e encaminhou ao STJ os governadores, foro competente para processá-los.
Questionado sobre o envolvimento de seu irmão, Viana voltou a dizer que não dá para responder a qualquer acusação antes da divulgação oficial dos envolvidos que podem ser investigados.
RENAN/CRÍTICAS – O presidente do Senado, Renan Calheiros, também fez críticas e acusou Janot de não ter garantido o seu direito de defesa ao longo do processo que investiga o esquema de corrupção na Petrobras.
O peemedebista informou que a Advocacia do Senado protocolou na manhã desta sexta um requerimento em caráter urgente no gabinete do ministro Zavascki em que pede para ter acesso prévio do pedido de abertura de inquérito. Renan quer prestar esclarecimentos antes da decisão de Zavascki sobre o pedido de abertura de inquérito.
"O que se requer é que, antes da efetiva instauração do inquérito, o Presidente do Senado Federal possa conhecer o teor das passagens e das citações supostamente relacionadas ao seu nome e que lhe seja concedida a oportunidade de prestar esclarecimentos para subsidiar a decisão de Vossa Excelência, seja quanto à abertura seja para arquivamento das peças encaminhadas pelo PGR", diz a petição.
Assinada pelo advogado geral do Senado, Alberto Cascais, a petição pede ainda para que Renan tenha acesso aos trechos de todas as delações submetidas à análise do ministro e a outros documentos ou materiais usados pelo procurador ao longo do processo.

Ninguém se preocupava com Lava Jato até prisão de executivos, diz operador
O empresário Shinko Nakandakari, que em delação premiada admitiu ter intermediado pagamentos de propina da Galvão Engenharia à Petrobras, afirmou em audiência na Justiça Federal, quinta-feira, que nem ele nem os executivos da empresa tinham preocupação com a Operação Lava Jato.
Dirigentes da Galvão foram presos na operação.
Shinko foi questionado sobre o assunto pelo juiz Sergio Moro, que conduz o caso. Moro pergunta se não tinham receio de fazer os pagamentos de propina em 2014, porque naquele ano a investigação já estava em curso.
"Até que se deu a operação em novembro [de 2014, referência à sétima fase da Lava Jato, quando os executivos das empresas foram presos], a gente não tinha essa preocupação. Eu e o próprio Erton [Medeiros, diretor da Galvão,] não estávamos sabendo da profundidade, que isso pudesse chegar à Galvão", afirmou o operador.
Mas ele explicou que a Galvão tinha uma necessidade "tão grande" de aprovar aditivos na Petrobras, principalmente referentes à obra da refinaria Abreu e Lima, que houve a liberação de pagamentos de propina.