Continua comemoração dos 180 anos da Semana Farroupilha
Continua hoje a programação comemorativa aos 180 anos da Revolução Farroupilha em Paranavaí, promovida pelo CTG Fazenda Velha Brasileira. Anteontem à noite foi realizada a abertura com as primeiras atividades deste período especial.
Na agenda deste sábado, atividades às 20h30 com hora cívica, jantar festivo e tertúlia livre (venda de convites para todos os interessados).
Estão previstos ainda entre amanhã e 16 de setembro: Momento farroupilha; textos explicativos e entrevistas com divulgação nos veículos de comunicação.
17 de setembro – das 15 às 17 horas: Oficina de Dança Gaúcha com escolares e convidados no Tablado de Danças do CTG.
20 de setembro – Dia do Gaúcho – Mateada com gaita na Casa da Amizade do CTG, às 10 horas; Momento tradicionalista durante Rodeio Crioulo do CTG Fronteira Paranaense, de Santa Isabel do Ivaí (Invernada Campeira).
23 de setembro – Encerramento das festividades com jantar típico no salão social do CTG, evento organizado pela patronagem e festeiros 2016.
As comemorações Farroupilhas nos CTGs Brasileiros
Em seu livro Revolução Farroupilha, Sandra Jathay Pesavento classifica a Revolução Farroupilha como sendo o acontecimento mais festejado da historiografia oficial dos Gaúchos Brasileiros, e sobre o qual mais se tem escrito, em termos regionais. É ainda o episódio através do qual a história rio-grandense tem a sua inserção mais clara na "história do Brasil", ou, pelo menos, é o acontecimento mais comumente lembrado em termos de história no qual se envolve o Rio Grande do Sul e o povo gaúcho.
Dentro de uma tendência idealista, os arautos da historiografia regional celebraram os feitos de seus "heróis" e visualizaram esse prolongado conflito da província contra o Império como uma verdadeira "epopeia". É claro que a longa duração do conflito (1835-1845) e o oferecimento de uma "paz honrosa" no final da guerra, sem que os farrapos tivessem sido vencidos no campo de batalha, foram elementos muito fortes para a construção do mito ou para a idealização do movimento.
Para esta mesma autora, a Revolução Farroupilha tornou-se o símbolo do espírito de bravura do povo gaúcho e de suas "tendências libertárias". Quanto a seus principais vultos, converteram-se nos exemplos mais representativos da "raça" gaúcha, tais como altivez, coragem, desprendimento.
Ao analisar os diferentes livros didáticos que abordam o assunto a conhecida como Revolução Farroupilha, A Guerra dos Farrapos foi um conflito regional contrário ao governo imperial brasileiro e com caráter republicano. Ocorreu na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, entre 20 de setembro de 1835 a 1 de março de 1845.
Entre as causas estão: Descontentamento político com o governo imperial brasileiro; busca por parte dos liberais por maior autonomia para as províncias; revolta com os altos impostos cobrados no comércio de couro e charque, importantes produtos da economia do Rio Grande do Sul naquela época.
Os farroupilhas eram contrários à entrada (concorrência) do charque e couro de outros países, com preços baratos, que dificultada o comércio destes produtos por parte dos comerciantes sulistas.
Todas estas idealizações se articulam dentro de uma visão mais global que vê na formação histórica sulina a "democracia dos pampas", na sociedade da campanha a "ausência de classes" e no gaúcho o "monarca das coxilhas", o "centauro dos pampas".
Este discurso, elaborado e difundido por historiadores no início do século, de tendência positivista idealista, teve uma função orgânica muito precisa: legitimar e dar coesão ao sistema de dominação vigente e à hegemonia do grupo agropecuarista na sociedade civil.
Note-se, no caso, que esta reconstrução idealizada do passado ocorria justamente no momento em que a pecuária gaúcha se encontrava em crise e descapitalizada e que, através de sua fração dirigente, que integrava o Partido Republicano Rio-grandense, buscava reforço junto aos grupos detentores de capital que despontavam em outros setores da economia gaúcha (comércio, indústria, finanças).
Através da reelaboração do seu passado, os grupos dominantes buscavam fatos que os nobilitassem e desta forma justificassem seu predomínio na sociedade.
Hoje, contudo, a partir de um novo enfoque pretensamente mais "científico" e menos "emocional" – é possível analisar o acontecimento dentro de uma dimensão um pouco mais lúcida e crítica, visualizando-o no contexto histórico de sua época: uma rebelião dos senhores de terra e gado gaúchos contra a dominação que a oligarquia do centro do país, beneficiária da independência, buscava impor sobre as províncias da jovem monarquia brasileira.
A inconformidade dos rio-grandenses se dirigia nuclearmente contra a centralização política e administrativa que provinha do Rio de Janeiro, mas tinha raízes mais fundas na própria subordinação econômica que uma economia voltada para o abastecimento do mercado interno experimentava com relação à economia central do país, orientada para a exportação.
Da ideia federativa, "os farroupilhas" transitaram para a adoção da república (a República Rio-grandense), em um conflito que por dez anos ameaçou a unidade do Império. Em 1845, o centro, tendo necessidade do apoio gaúcho na defesa da fronteira sul frente aos conflitos que se avizinhavam com o Prata, ofereceu a "paz honrosa" aos rio-grandenses. A militarização da sociedade sulina, em decorrência de sua situação fronteiriça, foi um ponto essencial na barganha política com o Império.
Embora, na realidade, a paz não alterasse em essência a subordinação econômica e política do Rio Grande com relação ao centro, o fato de os farroupilhas não ter sido vencido em campo de batalha foi um elemento que pesou muito nas consciências.
Atualmente, em 2015, momentos em que os Gaúchos se preparam para os festejos, comemorando 180 anos da Revolução Farroupilha. Todavia, com uma diferença marcante. A ninguém mais passa despercebida a flagrante crise econômico-financeira que atravessa o país e os estados sulinos e a notória perda de poder político frente aos órgãos decisórios do poder central.
Este clima de insatisfação pode levar, por um lado, a um "repensar" do passado de forma crítica e impulsionar tomadas de decisão, mas, por outro lado, pode também, por uma forma de escapismo, tender a um saudosismo idealizado, na busca de um passado no qual o sul do Brasil foi capaz de rebelar-se e afirmar sua autonomia frente a um poder que contestava. Na verdade, as coisas podem estar até misturadas…
Aqui no CTG Fazenda Velha Brasileira, entidade que está prestes a comemorar o seu “cinquentenário” (1966-2016) as comemorações estão sendo realizadas com múltiplas atividades programadas para 10 a 23 de setembro. Este ano o CTG está prestando homenagens ao campeirismo.
“Precisamos mostrar às novas gerações – bem como aqueles que, vindos de terras distantes, acorrerem à nossa querência – que as tradições gaúchas são realmente belas e que o gaúcho merece realmente a nossa admiração”.
Algumas questões pontuais sugeridas para serem trabalhadas durante os festejos são a relação entre o homem e o cavalo, a música campeira, o laço, afazeres domésticos, mãos gaúchas no couro, galpão, a tosquia, o alambrado e a ordenha.
(Texto: Vanda Maria Silva Kramer – Invernada Cultural do CTG Fazenda Velha Brasileira)
Na agenda deste sábado, atividades às 20h30 com hora cívica, jantar festivo e tertúlia livre (venda de convites para todos os interessados).
Estão previstos ainda entre amanhã e 16 de setembro: Momento farroupilha; textos explicativos e entrevistas com divulgação nos veículos de comunicação.
17 de setembro – das 15 às 17 horas: Oficina de Dança Gaúcha com escolares e convidados no Tablado de Danças do CTG.
20 de setembro – Dia do Gaúcho – Mateada com gaita na Casa da Amizade do CTG, às 10 horas; Momento tradicionalista durante Rodeio Crioulo do CTG Fronteira Paranaense, de Santa Isabel do Ivaí (Invernada Campeira).
23 de setembro – Encerramento das festividades com jantar típico no salão social do CTG, evento organizado pela patronagem e festeiros 2016.
As comemorações Farroupilhas nos CTGs Brasileiros
Em seu livro Revolução Farroupilha, Sandra Jathay Pesavento classifica a Revolução Farroupilha como sendo o acontecimento mais festejado da historiografia oficial dos Gaúchos Brasileiros, e sobre o qual mais se tem escrito, em termos regionais. É ainda o episódio através do qual a história rio-grandense tem a sua inserção mais clara na "história do Brasil", ou, pelo menos, é o acontecimento mais comumente lembrado em termos de história no qual se envolve o Rio Grande do Sul e o povo gaúcho.
Dentro de uma tendência idealista, os arautos da historiografia regional celebraram os feitos de seus "heróis" e visualizaram esse prolongado conflito da província contra o Império como uma verdadeira "epopeia". É claro que a longa duração do conflito (1835-1845) e o oferecimento de uma "paz honrosa" no final da guerra, sem que os farrapos tivessem sido vencidos no campo de batalha, foram elementos muito fortes para a construção do mito ou para a idealização do movimento.
Para esta mesma autora, a Revolução Farroupilha tornou-se o símbolo do espírito de bravura do povo gaúcho e de suas "tendências libertárias". Quanto a seus principais vultos, converteram-se nos exemplos mais representativos da "raça" gaúcha, tais como altivez, coragem, desprendimento.
Ao analisar os diferentes livros didáticos que abordam o assunto a conhecida como Revolução Farroupilha, A Guerra dos Farrapos foi um conflito regional contrário ao governo imperial brasileiro e com caráter republicano. Ocorreu na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, entre 20 de setembro de 1835 a 1 de março de 1845.
Entre as causas estão: Descontentamento político com o governo imperial brasileiro; busca por parte dos liberais por maior autonomia para as províncias; revolta com os altos impostos cobrados no comércio de couro e charque, importantes produtos da economia do Rio Grande do Sul naquela época.
Os farroupilhas eram contrários à entrada (concorrência) do charque e couro de outros países, com preços baratos, que dificultada o comércio destes produtos por parte dos comerciantes sulistas.
Todas estas idealizações se articulam dentro de uma visão mais global que vê na formação histórica sulina a "democracia dos pampas", na sociedade da campanha a "ausência de classes" e no gaúcho o "monarca das coxilhas", o "centauro dos pampas".
Este discurso, elaborado e difundido por historiadores no início do século, de tendência positivista idealista, teve uma função orgânica muito precisa: legitimar e dar coesão ao sistema de dominação vigente e à hegemonia do grupo agropecuarista na sociedade civil.
Note-se, no caso, que esta reconstrução idealizada do passado ocorria justamente no momento em que a pecuária gaúcha se encontrava em crise e descapitalizada e que, através de sua fração dirigente, que integrava o Partido Republicano Rio-grandense, buscava reforço junto aos grupos detentores de capital que despontavam em outros setores da economia gaúcha (comércio, indústria, finanças).
Através da reelaboração do seu passado, os grupos dominantes buscavam fatos que os nobilitassem e desta forma justificassem seu predomínio na sociedade.
Hoje, contudo, a partir de um novo enfoque pretensamente mais "científico" e menos "emocional" – é possível analisar o acontecimento dentro de uma dimensão um pouco mais lúcida e crítica, visualizando-o no contexto histórico de sua época: uma rebelião dos senhores de terra e gado gaúchos contra a dominação que a oligarquia do centro do país, beneficiária da independência, buscava impor sobre as províncias da jovem monarquia brasileira.
A inconformidade dos rio-grandenses se dirigia nuclearmente contra a centralização política e administrativa que provinha do Rio de Janeiro, mas tinha raízes mais fundas na própria subordinação econômica que uma economia voltada para o abastecimento do mercado interno experimentava com relação à economia central do país, orientada para a exportação.
Da ideia federativa, "os farroupilhas" transitaram para a adoção da república (a República Rio-grandense), em um conflito que por dez anos ameaçou a unidade do Império. Em 1845, o centro, tendo necessidade do apoio gaúcho na defesa da fronteira sul frente aos conflitos que se avizinhavam com o Prata, ofereceu a "paz honrosa" aos rio-grandenses. A militarização da sociedade sulina, em decorrência de sua situação fronteiriça, foi um ponto essencial na barganha política com o Império.
Embora, na realidade, a paz não alterasse em essência a subordinação econômica e política do Rio Grande com relação ao centro, o fato de os farroupilhas não ter sido vencido em campo de batalha foi um elemento que pesou muito nas consciências.
Atualmente, em 2015, momentos em que os Gaúchos se preparam para os festejos, comemorando 180 anos da Revolução Farroupilha. Todavia, com uma diferença marcante. A ninguém mais passa despercebida a flagrante crise econômico-financeira que atravessa o país e os estados sulinos e a notória perda de poder político frente aos órgãos decisórios do poder central.
Este clima de insatisfação pode levar, por um lado, a um "repensar" do passado de forma crítica e impulsionar tomadas de decisão, mas, por outro lado, pode também, por uma forma de escapismo, tender a um saudosismo idealizado, na busca de um passado no qual o sul do Brasil foi capaz de rebelar-se e afirmar sua autonomia frente a um poder que contestava. Na verdade, as coisas podem estar até misturadas…
Aqui no CTG Fazenda Velha Brasileira, entidade que está prestes a comemorar o seu “cinquentenário” (1966-2016) as comemorações estão sendo realizadas com múltiplas atividades programadas para 10 a 23 de setembro. Este ano o CTG está prestando homenagens ao campeirismo.
“Precisamos mostrar às novas gerações – bem como aqueles que, vindos de terras distantes, acorrerem à nossa querência – que as tradições gaúchas são realmente belas e que o gaúcho merece realmente a nossa admiração”.
Algumas questões pontuais sugeridas para serem trabalhadas durante os festejos são a relação entre o homem e o cavalo, a música campeira, o laço, afazeres domésticos, mãos gaúchas no couro, galpão, a tosquia, o alambrado e a ordenha.
(Texto: Vanda Maria Silva Kramer – Invernada Cultural do CTG Fazenda Velha Brasileira)