Convivendo com HIV contraído da mãe, jovem vive ansiedade pelo exame do filho

Ansiedade. Essa é a sensação de uma mãe de 21 anos, residente em Paranavaí. Convivendo desde o nascimento com HIV/AIDS, a jovem, de corpo franzino e fala tranquila, passa agora pela expectativa de conhecer o resultado do teste do filho, um bebê de três meses.
Poderia ser um drama, mas, as declarações serenas da paranavaiense se tornam uma grande história de esperança, marcando o Dia Mundial de Luta conta a AIDS (1º de dezembro).
Há espaço para otimismo, até por conta das estatísticas. Informações da 14ª Regional de Saúde apontam que mais de 99% dos bebês nascidos de mães com HIV atualmente, não são infectados. O exame demora porque o bebê tem anticorpos no organismo, por conta da presença do vírus na mãe. Em seis meses, o bebê fará os primeiros testes.
Voltando à mãe, que vamos chamar de SF, ela tem outras lições importantes para reflexão. Mesmo vítima de algumas doenças oportunistas por conta da baixa imunidade provocada pelo vírus (condição vivida especialmente na adolescência), a jovem responde sem pensar: “O preconceito dói mais do que a doença”.
Aliás, o uso da sigla SF é o reflexo do preconceito. Por orientação da nossa entrevistada (nos recebeu no SINAS com o belo bebê dormindo no carrinho), não daremos pistas sobre nomes, endereços e qualquer informação que possa relacioná-la à experiência descrita. “É muita fofoca, muita coisa. Vivi isso principalmente na adolescência”, justifica. Infelizmente, não está errada.  
A VIDA – Casada com um jovem sem HIV, se relacionava normalmente, como qualquer casal, mas sempre utilizando preservativo. O marido, na época namorado, sabia desde o início da sua condição sorológica. De forma consensual, tiveram uma relação sem camisinha, o que gerou a gravidez, cujo acompanhamento médico se deu a partir dos três meses de gestação.  
Foi uma atitude impensada pela falta de planejamento, mas não incomum. Muitos casais soropositivos decidem ter um filho e passam por acompanhamento, informa Maria da Penha Francisco, da coordenação de DST/AIDS da 14ª Regional de Saúde. O teste de HIV é protocolar para mulheres que decidam ter filhos, independente do histórico. Faz parte das normas, portanto.
Recentemente em Paranavaí uma mãe decidiu (?) ter filho sem acompanhamento, que não evoluiu de forma adequada, lamenta. Exemplo não se aplica a SF, cujo parceiro mantém-se sem HIV e usando preservativo nas relações.
SF aproveita para aconselhar as pessoas. Ela destaca que os jovens não devem olhar para a aparência, já que não há um padrão de pessoas soropositivas. O ideal, reforça, é que usem sempre preservativo. AIDS não é uma sentença de morte, mas limita em muitas situações e deve ser evitada, sem contar a mudança de rotina com acompanhamento médico e uso de remédio.
O INÍCIO – A história de HIV na família teve início no interior de São Paulo. A mãe precisou de transfusão de sangue e teria se infectado neste procedimento. Ficou sabendo da sua condição três anos após o nascimento de SF, por conta de algumas doenças que a filha contraía facilmente.
Os exames mostraram que tanto SF, quanto a mãe, hoje com 45 anos, estavam soropositivas. Na época, os testes não seguiam o rigor exigido atualmente. O hospital, que era privado, não se responsabilizou e fechou as portas. Os donos ainda não responderam pelo episódio.
A ROTINA – Reforçando a mensagem da prevenção, engana-se quem pensa que HIV é simples. A mãe de SF, por exemplo, já teve algumas complicações. Hoje está bem, como define a nossa entrevistada. Aliás, SF também enfrenta os desafios, já que em linhas gerais, HIV baixa a imunidade, deixando a pessoa mais sujeita a algumas doenças.
Ela toma remédios constantemente e diz que a assistência do serviço público é boa em Paranavaí. A paciente não tem dificuldades de acesso aos medicamentos e consulta o médico regularmente. No serviço público regional o atendimento é feito pelo médico Irineu Librenza.