Copa e cozinha
Faltando 18 dias para a Copa do Mundo (promovida por aquela senhora anacrônica, cujo nome lembra apelido carinhoso), não estou entendendo tanto temor por parte dos brasileiros. A Copa é “apenas” um torneio de futebol que reúne os melhores times de futebol – a coisa mais importante dentre as menos importantes, diria Milton Neves. Portanto, não é uma conferência interplanetária.
Todos os dias recebemos turistas com as mesmas recomendações sobre cuidados com segurança e mobilidade. Não é de agora que esculacham o Brasil nestes quesitos (com certa razão). Inclusive brasileiros são orientados sobre como se comportar e transitar em determinadas cidades.
Há hotéis de luxo e hospedagens baratas, comida para vários bolsos. Não tem nada de novo por estas bandas a não ser a nossa preocupação com o que o turista vai pensar do Brasil. Vai pensar o que sempre pensou, pois chegam aqui todos os dias para ver belezas naturais e conhecer uma cultura diferente. Agora verá a Copa. Guardadas as proporções, como vem anualmente para a Fórmula Um, por exemplo.
O que me preocupa não é a Copa, mas a cozinha. Nossa cozinha anda meio bagunçada. Vejamos: construir estádio e infraestrutura urbana não é um desafio grande demais para quem tem uma das melhores – senão a melhor – escola de arquitetura e urbanismo do planeta (Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, etc.). Sem contar que temos mão de obra farta, condições climáticas e financiamento, ainda que questionável por se tratar, em grande parte, de recurso do BNDES.
Então, qual o grande problema? A vergonha é que o Brasil perdeu os prazos. Obras não ficarão prontas para a Copa do Mundo. Os estádios feitos na base do corre-corre para os chamados eventos testes serão entregues aos 45 minutos do segundo tempo. Isso sim é feio. Neste quesito fomos “reprovados com louvor”.
Aliás, perder prazos não é novidade por essas bandas. No Natal, por exemplo, quantas cidades alegam falta de tempo para a decoração? Na verdade, falta planejamento, pois o Natal está programado há mais de dois mil anos.
É legítimo torcer pelo Brasil na Copa. Eu faço isso desde a mais tenra idade e vou fazer neste ano (Espanha 1982, que tragédia!). E espero, como diz o professor Roberto Leme Batista, não atrasar a revolução em um só minuto.
Da mesma forma, é preciso respeitar quem decide fazer protesto, inclusive na hora do jogo ou nas portas dos estádios. Isto é típico da democracia. Até porque não dá para esquecer mazelas como corrupção e superfaturamento, que devem ser coibidos e investigados.
Ainda assim, o problema do Brasil não é a Copa, mas a cozinha.
*Adão Ribeiro é repórter do DN