Cuidados com a terra garantem maior produtividade no campo

Em 1994, Chico Buarque e Milton Nascimento lançavam uma canção sobre a importância de cuidar da terra. “Conhecer os desejos da terra. Cio da terra, a propícia estação. E fecundar o chão”.
Duas décadas depois, a letra da música não poderia ser mais atual. O sistema exploratório essencialmente agrícola tem comprometido a qualidade do solo. E o que mais preocupa é exatamente a falta de preocupação dos produtores quanto à preservação. O assunto merece destaque, já que nesta segunda-feira (5), comemora-se o Dia Mundial do Solo.
Na avaliação de Wander de Souza, zootecnista do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), a falta de cuidados com a terra pode resultar em desertificação, o que a tornaria improdutiva.
Então, imagine: e se não fosse mais possível debulhar o trigo, recolher cada bago de trigo e forjar no trigo o milagre do pão? Ou decepar a cana, recolher a garapa da cana, roubar da cana a doçura do mel e se lambuzar de mel.
A solução para isso pode estar na integração da pecuária com a lavoura e as florestas. Os chamados sistemas silvipastoris melhoram a qualidade do solo e geram economia de água. Souza citou o exemplo dos eucaliptos plantados ao redor de pastagens: “Protegem da radiação solar e dão conforto aos animais”.
O Noroeste do Paraná tem alguns exemplos de produtores que investiram no plantio de árvores para proteger os pastos. Além dos benefícios ecológicos, a prática garante maior produtividade e rentabilidade. São aproximadamente R$ 600 a mais por hectare.
PLANTIO DIRETO – E se há resistência em relação aos sistemas silvipastoris, com o plantio direto não é diferente. Valter Martins Pessôa, engenheiro agrônomo do Emater, afirmou que muitos produtores não elaboram um planejamento das atividades, o que compromete a qualidade do solo.
O plantio direto seria uma alternativa para garantir a qualidade do solo. Como funciona? De forma bem resumida, é a variação de cultivos ao longo do ano, para manter a terra sempre coberta e protegida das variações do tempo. “Diferentes culturas mantêm os nutrientes e a fertilidade do solo”, assegurou Pessôa.

Preservar é melhor do que recuperar

Erni Limberger é engenheiro florestal do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Segundo ele, o custo de recuperação do solo é muito alto. Por isso, o mais indicado é realizar ações preventivas.
Considere, por exemplo, uma erosão. Há mecanismos para evitar o desastre, mas nem sempre são utilizados pelos produtores rurais. Assim, um período de chuvas constantes pode ser decisivo e provocar grandes prejuízos.
De acordo com Limberger, é fundamental investir no plantio de mata ciliar e na manutenção da qualidade do solo. Essas atitudes tornam a terra menos suscetível às intempéries e dão mais segurança para as lavouras e as pastagens.

Sobre uso de equipamentos agrícolas

Nem todos os produtores rurais estão dispostos a investir na conservação do solo. De acordo com Ilson Jonacir Rodrigues Gomes, técnico agrícola do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), um ponto importante a ser considerado é o uso de equipamentos adequados para cada tipo de terra.
É um problema que se estende há anos, principalmente porque os agricultores tentam adaptar as condições do solo às características do maquinário. O procedimento deveria ser o contrário, considerando, ainda, a eficiência e a aplicação de técnicas por parte de quem opera o equipamento.

Qualidade de vida no campo e na cidade

Obviamente, preservar o solo é fundamental para garantir a qualidade de vida de quem mora na área rural. Mas o que pode passar despercebido é que quem vive na cidade também depende da qualidade e da fertilidade da terra.
Alberto Carlos Moris, engenheiro agrônomo do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), explicou que a falta de cuidados com o solo pode provocar o assoreamento de rios. Assim, os mananciais seriam comprometidos, interferindo no abastecimento de água para a população.
Ele afirmou que a conservação do solo está diretamente ligada à qualidade da água, elemento empregado não somente para o consumo humano, mas, também, para irrigação de lavouras e pastos e para manter vivos animais e florestas nativos.
Considerando a importância da terra e da água, Moris ressaltou a relevância de programas do Governo do Estado para a recuperação do solo e a conservação de rios. Afirmou, ainda, que a participação de empresas privadas e cooperativas precisa ser maior, já que o poder público tem enfrentado cada vez mais dificuldades, por causa dos problemas econômicos e financeiros que o país enfrenta.