Curso de artesanato resgata cidadania de meninos da Vila Alta

Ainda moleque, lá pelas bandas de Alegrete (RS), Luiz Carlos Prates de Lima assistia o ir e vir dos carros de bois que compunham a frota de 25 unidades de seu avô.
Já rapaz, ao ingressar num curso de Belas Artes, em Porto Alegre, o primeiro pedido de seu pai foi para que ele fizesse uma réplica das velhas carretas, em madeira.
Hoje, com 81 anos de idade, o artesão, que já perdeu as contas de quantas mais esculpiu, perpetua a técnica, repassando-a, gratuitamente, a nove meninos da Vila Alta, onde reside atualmente, transformando sua arte num projeto de resgate da cidadania desses pequenos cidadãos paranavaienses.
Na oficina anexa a sua casa de chão batido, os nove meninos, com idades entre oito e 15 anos, se reúnem todas as tardes de segunda, terça e quartas-feiras, atentos aos ensinamentos do “Tio Lu”, que há 50 anos convive com a arte de entalhar madeiras, e criar objetos de decoração a partir de variados outros materiais como couro, chifres e ossos.
Mas, para essa turminha, o foco é a madeira. Os garotos aprendem como fazer a velha carreta do avô do artesão e outros itens como calhambeque, cadeira de balanço (agulheiro), pássaros e porta-chaves. “O corte da madeira fica por minha conta. Os meninos lixam e montam as peças”, explica o cauteloso professor, demonstrando sua preocupação com o bem-estar dos alunos.
Enquanto ensina aos pequenos uma profissão, o artesão tem convicção de estar dando sua contribuição para a construção de um futuro para aquelas crianças, que, conforme ele, encontram poucas oportunidades de valorização enquanto cidadãos.
“Não ganho nada por esse trabalho. Meu ganho é pessoal: a satisfação de poder ajudar de alguma forma esses meninos. Se ficarem por aí, pelas ruas, podem não chegar à fase adulta”, diz ele, elencando a série de riscos aos quais estão sujeitas crianças vulneráveis, incluindo na lista o envolvimento com drogas.
O que o artesão espera para o futuro dos nove alunos é que eles aprendam a se valorizar e a amar o ofício, fazendo dele uma fonte de economia, como aconteceu com um de seus antigos alunos, que hoje tem sua própria oficina de artesanato no Jardim Morumbi, história que ele conta com orgulho.
“Já faz sete anos que ele fez o curso e montou sua própria oficina”, alegra-se, na expectativa de que os atuais alunos também consigam percorrer trajetória de sucesso em suas vidas. (Texto: Silvana Porto).