Delegada fala sobre os números da violência contra a mulher na cidade
Os números apurados pelo Ministério Público que colocam Paranavaí liderando as estatísticas proporcionais de violência contra a mulher no Estado, devem ser analisados por alguns aspectos.
Primeiro, a questão da violência, o que realmente preocupa pela incidência elevada. No entanto, há outro lado: a eficiência na constatação e investigação efetiva através de inquérito policial.
A reflexão é da titular da Delegacia da Mulher de Paranavaí, Fernanda Bertoco Mello. Ela lembra que o MP leva em conta os inquéritos, o que mostra a realização de um trabalho eficiente. Complementa que não há estudos sobre as razões para o número de registros em relação aos demais municípios. Portanto, os argumentos levantados são possibilidades.
Seguindo uma tendência nacional, os maridos e companheiros lideram os casos de agressão em Paranavaí. No Brasil estes grupos representam 72% da violência contra a mulher. Em Paranavaí são os “ex”, como fala a delegada. Também aparecem irmãos e até filhos entre os agressores.
Os casos de violência física com lesão se tornam inquéritos, independente da vontade da vítima. No entanto, as denúncias de ameaça e xingamentos precisam de representação por parte da pessoa agredida, o que nem sempre acontece.
Sem os números em mãos, a delegada antecipa que 2016 terminou com mais de 500 inquéritos instaurados em Paranavaí, volume semelhante ao verificado em 2015.
São vários fatores que culminam em agressão contra as mulheres. Um deles é o alcoolismo, informa a delegada. A incidência se vê em todos os extratos sociais, ou seja, não é uma questão de cultura escolar ou condição financeira.
A sociedade tem posturas machistas enraizadas e muitos homens se sentem no direito de agredir. Um dos “argumentos” é o financeiro, a ideia do homem provedor.
AVANÇOS – Na cidade desde o meio do ano passado, a delegada Fernanda fala de avanços importantes. Lembra que a Delegacia da Mulher, embora funcionando no mesmo prédio, apresenta uma relativa privacidade. Com isso, as mulheres conseguem denunciar sem o constrangimento de passar pelo setor geral.
São atendidas por mulheres, o que também alivia a pressão de um momento já crítico, detalha a delegada, salientando que há na estrutura atual delegados que fariam também o trabalho com respeito e profissionalismo.
PARANÁ – O Paraná registra 62 casos de violência física ou moral contra a mulher por dia, o que dá uma média de cinco casos a cada duas horas ou ainda um caso a cada 24 minutos.
Das 399 cidades do estado, 87% registraram pelo menos um caso de violência contra a mulher, sendo que apenas 54 municípios não registraram ocorrências. Em números absolutos, Curitiba, Ponta Grossa e São José dos Pinhais aparecem como os municípios com mais registros.
De acordo com a promotora de Justiça Mariana Seifert Bazzo, coordenadora do Núcleo de Promoção da Igualdade Étnico-Racial (NUPIER) do MP-PR, nos últimos anos o Paraná conquistou importantes avanços, como o aumento no número de delegacias da mulher e a criação da Casa da Mulher Brasileira em Curitiba. Ainda assim, contudo, há trabalho por ser feito.
“Restam pendentes de implementação políticas públicas específicas que deem conta de todos os municípios, principalmente as ações previstas no artigo 35 da Lei Maria da Penha, como a criação de centros de referência, casas abrigo, e, sobretudo, de grupos de reflexão/responsabilização de homens agressores, o que permitiria uma mudança cultural absolutamente relevante para o combate da violência de gênero (desconstrução do machismo, por exemplo)”, afirma.