Depoimentos de mulheres vítimas de violência doméstica marcaram o lançamento do Provida
Voz trêmula, cabeça baixa, olhos marejados, o medo estampado no rosto. Mais de 30 anos de um casamento marcado pela violência doméstica. E as marcas não estão apenas no corpo.
“Apanhei do meu marido todos esses anos e nunca revidei, nunca denunciei nem contei para ninguém. Até seis anos atrás eu era agredida todas as vezes que cobrava a simples presença dele em casa, com os filhos. Depois disso ele adoeceu e então eu apanhava porque ele tinha crises de ciúmes, sem motivos. Há poucos meses tomei coragem de sair de casa, depois que ele passou a noite toda me ameaçando com um facão. Na última vez que ele me agrediu fisicamente foi há poucas semanas, logo depois da chuva de granizo. Ele correu atrás de mim com uma faca e me ameaçou. Se eu chamasse a polícia, ele iria me matar. A polícia chegou a prendê-lo e ele continuou me ameaçando lá de dentro da cadeia. Quando foi solto, o juiz colocou uma medida de segurança pra que ele fique longe de mim, mas ele continua me perseguindo, me ameaçando. Precisei que uma vizinha denunciasse ele para que eu adotasse uma postura de não querer mais isso pra minha vida. Ainda estou absorvendo tudo, inclusive o impacto que essa separação está tendo nas minhas finanças, pois ele sempre sustentou a casa; sempre dependi dele. Estou psicologicamente destruída e me arrependo de não ter denunciado antes. A denúncia é a melhor saída”, contou a mulher, vítima de violência doméstica.
O segundo caso aconteceu há cerca de 40 dias. “Eu tive um relacionamento de um ano e meio e em tão pouco tempo já fui vítima. Ele era muito ciumento e, no começo, as agressões eram verbais, com insinuações de que eu tinha outra pessoa ou de que, qualquer um com quem eu conversasse já tinha tido um caso comigo. Ele tinha situações de delírio extremo. Minha família e meus amigos me alertaram, dizendo que um dia ele poderia me atacar fisicamente, mas eu nunca achei que ele seria capaz disso; nunca achei que aconteceria comigo. Cheguei a dormir em hotel por medo de voltar pra casa. Ele até começou a fazer um tratamento psicológico, mas não adiantou. Uma noite, depois de uma discussão, ele saiu para beber e voltou muito violento. Batia com força as portas de casa, manobrava meu carro na garagem, batendo nas paredes e no carro dele que estava na frente. Então ele veio pra cima de mim. Eu ainda consegui ligar para a polícia, passar meu endereço, e o socorro veio rápido, em menos de 10 minutos. Mas nesse período ele me agrediu, me bateu muito. Quebrei a boca em dois lugares, fiquei com o rosto deformado de tanto apanhar. Precisei passar por cirurgia para recuperar minha boca. Minha mãe tirou fotos minha para mostrar para a polícia. Ele foi preso e continua pagando pelo que fez, mas sei que tive sorte. Vim aqui para dizer como me sinto, como foi difícil e para ajudar outras pessoas a não passar pelo que passei”, relatou a moça.
Essas duas mulheres fazem parte de uma estatística assustadora que aponta que cerca de 30% de todos os crimes cometidos em Paranavaí estão relacionados à violência familiar. E foi pensando em proteger as vítimas e desenvolver ações preventivas para conter o avanço deste tipo de violência, que o município lançou o Provida – Programa de Proteção e Orientação às Vítimas da Violência Doméstica e Familiar.
A Lei que implanta oficialmente o Programa no município foi sancionada pelo prefeito Rogério Lorenzetti, em uma solenidade que reuniu, anteontem, representantes de todos os segmentos sociais envolvidos no tema, além de promotores de justiça, juízes e os vereadores Antônio Alves, Zenaide Rosa Borges e Walter dos Reis, representando a Câmara Municipal de Vereadores.
Para o promotor de Justiça, titular da Promotoria de Proteção aos Direitos Humanos da Comarca de Paranavaí, Dr. Marcelo Gobbato, “as mulheres vêm passando pelo processo de dominação, coisificação e uso como objeto ao longo dos séculos. E pergunto a cada um: quais a consequências para a mulher que sofre agressões físicas e psicológicas ao longo dos anos? Quais as consequências para as crianças que passam a infância presenciando esta violência contra suas mães? Quais as consequências sociais deste contexto? Certamente é a desagregação dos valores e princípios básicos de dignidade da mulher e do núcleo familiar. Claro que a situação melhorou muito nas últimas décadas com a Lei Maria da Penha, mas ainda há muito a fazer pelo direito das ofendidas. É necessário implementar serviços eficazes para o controle e combate desses crimes familiares e este Programa, o Provida, já nasce vitorioso. Os resultados positivos dependem apenas da atuação de todos os atores sociais envolvidos no processo”.
Ainda segundo o promotor, os números de violência doméstica são alarmantes. Considerando apenas a taxa de homicídios de mulheres em consequência da violência familiar, o Brasil aparece na 7ª posição no ranking internacional, e o Paraná aparece em 3º lugar em todo o país.
PROGRAMA MUNICIPAL INÉDITO – “Muitas vezes a mulher não denuncia porque depende financeiramente do marido. Depois vem a questão dos filhos, e ela se sente amarrada e se cala. Este é um Programa sério, com parceiros comprometidos. Mais uma vez Paranavaí sai na frente, pois até onde temos conhecimento, este é um trabalho inédito em nível municipal. E isto só é possível por causa do envolvimento e do comprometimento dos vários setores públicos em lutar para mudar esta realidade tão assustadora. Vamos trabalhar para abrir uma linha exclusiva do município para que as denúncias, sejam das vítimas ou de pessoas próximas, possam chegar com rapidez e possamos ajudar estas pessoas com a atenção especializada que elas precisam”, destacou Lorenzetti.
No mesmo ato em que sancionou a Lei, o prefeito Rogério Lorenzetti também assinou um Termo de Cooperação com o Ministério Público e Polícia Civil, que tem por objetivo integrar as ações do programa, de forma que todas as vítimas possam contar com assistência integral. Com a implantação do Provida, as vítimas de violência doméstica de Paranavaí passarão a contar com três canais para denúncias: Creas/Cras, Delegacia da Mulher e Ministério Público.
“Identificamos a necessidade de alinhar os aspectos técnicos, políticos, culturais, sociais e conceituais para elaborar estratégias que garantam a prevenção e a proteção das vítimas de violência doméstica. Esta é uma conjunção de esforços para combater a discriminação de gênero. O atendimento integral para o enfrentamento à violência é a única maneira de conseguirmos diminuir ou conter a evolução do número de casos em nossa cidade. Este é mais um compromisso de campanha do prefeito Rogério Lorenzetti que está sendo colocado em prática”, frisou a secretária de Assistência Social do município, Marly Bavia.
O Provida é um programa municipal vinculado a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) que conta com a ampla parceria da Polícia Civil e do Ministério Público e colaboração das secretárias de Saúde, Comunicação Social, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Municipal da Assistência Social, Conselho Municipal do Idoso, Conselho Municipal da Mulher, Conselho Tutelar, Procuradoria Jurídica do Município – Defensoria Pública, Unipar (Coordenação do Curso de Direito), Fafipa/Unespar (Coordenação do Curso de Assistência Social), 8º Batalhão de Polícia Militar, Delegacia da Mulher, e juízo de Direito da 1º e 2º varas Criminal da Comarca de Paranavaí.
CASA DE PROTEÇÃO – A Lei sancionada nesta quinta-feira também autoriza, no seu artigo 6º, a criação da Casa de Proteção a Vítima de Violência Doméstica e Familiar. O imóvel ainda não tem data para ser criado e vai depender da demanda de casos. O município vai acompanhar os números de casos de violência e, conforme for a demanda, deverá criar a casa, que servirá como um abrigo para as vítimas de violência, que contarão com acompanhamento de profissionais.
“Apanhei do meu marido todos esses anos e nunca revidei, nunca denunciei nem contei para ninguém. Até seis anos atrás eu era agredida todas as vezes que cobrava a simples presença dele em casa, com os filhos. Depois disso ele adoeceu e então eu apanhava porque ele tinha crises de ciúmes, sem motivos. Há poucos meses tomei coragem de sair de casa, depois que ele passou a noite toda me ameaçando com um facão. Na última vez que ele me agrediu fisicamente foi há poucas semanas, logo depois da chuva de granizo. Ele correu atrás de mim com uma faca e me ameaçou. Se eu chamasse a polícia, ele iria me matar. A polícia chegou a prendê-lo e ele continuou me ameaçando lá de dentro da cadeia. Quando foi solto, o juiz colocou uma medida de segurança pra que ele fique longe de mim, mas ele continua me perseguindo, me ameaçando. Precisei que uma vizinha denunciasse ele para que eu adotasse uma postura de não querer mais isso pra minha vida. Ainda estou absorvendo tudo, inclusive o impacto que essa separação está tendo nas minhas finanças, pois ele sempre sustentou a casa; sempre dependi dele. Estou psicologicamente destruída e me arrependo de não ter denunciado antes. A denúncia é a melhor saída”, contou a mulher, vítima de violência doméstica.
O segundo caso aconteceu há cerca de 40 dias. “Eu tive um relacionamento de um ano e meio e em tão pouco tempo já fui vítima. Ele era muito ciumento e, no começo, as agressões eram verbais, com insinuações de que eu tinha outra pessoa ou de que, qualquer um com quem eu conversasse já tinha tido um caso comigo. Ele tinha situações de delírio extremo. Minha família e meus amigos me alertaram, dizendo que um dia ele poderia me atacar fisicamente, mas eu nunca achei que ele seria capaz disso; nunca achei que aconteceria comigo. Cheguei a dormir em hotel por medo de voltar pra casa. Ele até começou a fazer um tratamento psicológico, mas não adiantou. Uma noite, depois de uma discussão, ele saiu para beber e voltou muito violento. Batia com força as portas de casa, manobrava meu carro na garagem, batendo nas paredes e no carro dele que estava na frente. Então ele veio pra cima de mim. Eu ainda consegui ligar para a polícia, passar meu endereço, e o socorro veio rápido, em menos de 10 minutos. Mas nesse período ele me agrediu, me bateu muito. Quebrei a boca em dois lugares, fiquei com o rosto deformado de tanto apanhar. Precisei passar por cirurgia para recuperar minha boca. Minha mãe tirou fotos minha para mostrar para a polícia. Ele foi preso e continua pagando pelo que fez, mas sei que tive sorte. Vim aqui para dizer como me sinto, como foi difícil e para ajudar outras pessoas a não passar pelo que passei”, relatou a moça.
Essas duas mulheres fazem parte de uma estatística assustadora que aponta que cerca de 30% de todos os crimes cometidos em Paranavaí estão relacionados à violência familiar. E foi pensando em proteger as vítimas e desenvolver ações preventivas para conter o avanço deste tipo de violência, que o município lançou o Provida – Programa de Proteção e Orientação às Vítimas da Violência Doméstica e Familiar.
A Lei que implanta oficialmente o Programa no município foi sancionada pelo prefeito Rogério Lorenzetti, em uma solenidade que reuniu, anteontem, representantes de todos os segmentos sociais envolvidos no tema, além de promotores de justiça, juízes e os vereadores Antônio Alves, Zenaide Rosa Borges e Walter dos Reis, representando a Câmara Municipal de Vereadores.
Para o promotor de Justiça, titular da Promotoria de Proteção aos Direitos Humanos da Comarca de Paranavaí, Dr. Marcelo Gobbato, “as mulheres vêm passando pelo processo de dominação, coisificação e uso como objeto ao longo dos séculos. E pergunto a cada um: quais a consequências para a mulher que sofre agressões físicas e psicológicas ao longo dos anos? Quais as consequências para as crianças que passam a infância presenciando esta violência contra suas mães? Quais as consequências sociais deste contexto? Certamente é a desagregação dos valores e princípios básicos de dignidade da mulher e do núcleo familiar. Claro que a situação melhorou muito nas últimas décadas com a Lei Maria da Penha, mas ainda há muito a fazer pelo direito das ofendidas. É necessário implementar serviços eficazes para o controle e combate desses crimes familiares e este Programa, o Provida, já nasce vitorioso. Os resultados positivos dependem apenas da atuação de todos os atores sociais envolvidos no processo”.
Ainda segundo o promotor, os números de violência doméstica são alarmantes. Considerando apenas a taxa de homicídios de mulheres em consequência da violência familiar, o Brasil aparece na 7ª posição no ranking internacional, e o Paraná aparece em 3º lugar em todo o país.
PROGRAMA MUNICIPAL INÉDITO – “Muitas vezes a mulher não denuncia porque depende financeiramente do marido. Depois vem a questão dos filhos, e ela se sente amarrada e se cala. Este é um Programa sério, com parceiros comprometidos. Mais uma vez Paranavaí sai na frente, pois até onde temos conhecimento, este é um trabalho inédito em nível municipal. E isto só é possível por causa do envolvimento e do comprometimento dos vários setores públicos em lutar para mudar esta realidade tão assustadora. Vamos trabalhar para abrir uma linha exclusiva do município para que as denúncias, sejam das vítimas ou de pessoas próximas, possam chegar com rapidez e possamos ajudar estas pessoas com a atenção especializada que elas precisam”, destacou Lorenzetti.
No mesmo ato em que sancionou a Lei, o prefeito Rogério Lorenzetti também assinou um Termo de Cooperação com o Ministério Público e Polícia Civil, que tem por objetivo integrar as ações do programa, de forma que todas as vítimas possam contar com assistência integral. Com a implantação do Provida, as vítimas de violência doméstica de Paranavaí passarão a contar com três canais para denúncias: Creas/Cras, Delegacia da Mulher e Ministério Público.
“Identificamos a necessidade de alinhar os aspectos técnicos, políticos, culturais, sociais e conceituais para elaborar estratégias que garantam a prevenção e a proteção das vítimas de violência doméstica. Esta é uma conjunção de esforços para combater a discriminação de gênero. O atendimento integral para o enfrentamento à violência é a única maneira de conseguirmos diminuir ou conter a evolução do número de casos em nossa cidade. Este é mais um compromisso de campanha do prefeito Rogério Lorenzetti que está sendo colocado em prática”, frisou a secretária de Assistência Social do município, Marly Bavia.
O Provida é um programa municipal vinculado a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) que conta com a ampla parceria da Polícia Civil e do Ministério Público e colaboração das secretárias de Saúde, Comunicação Social, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Municipal da Assistência Social, Conselho Municipal do Idoso, Conselho Municipal da Mulher, Conselho Tutelar, Procuradoria Jurídica do Município – Defensoria Pública, Unipar (Coordenação do Curso de Direito), Fafipa/Unespar (Coordenação do Curso de Assistência Social), 8º Batalhão de Polícia Militar, Delegacia da Mulher, e juízo de Direito da 1º e 2º varas Criminal da Comarca de Paranavaí.
CASA DE PROTEÇÃO – A Lei sancionada nesta quinta-feira também autoriza, no seu artigo 6º, a criação da Casa de Proteção a Vítima de Violência Doméstica e Familiar. O imóvel ainda não tem data para ser criado e vai depender da demanda de casos. O município vai acompanhar os números de casos de violência e, conforme for a demanda, deverá criar a casa, que servirá como um abrigo para as vítimas de violência, que contarão com acompanhamento de profissionais.