Destino do cometa Ison será definido hoje

Depois de mais de um ano de expectativa, o cometa Ison faz hoje sua aproximação máxima do Sol. Às 18h25, ele passará a meros 1,2 milhão de km da superfície da estrela.
Ainda há esperança de que o objeto saia dessa passagem como o proclamado "cometa do século", quiçá visível no céu à luz do dia, provavelmente em dezembro.
Entretanto, a única certeza é de que ele já é um dos cometas mais observados de todos os tempos. Boa notícia para os cientistas.
O objeto foi avistado pela primeira vez em 21 de setembro de 2012 por Vitali Nevski, da Bielorrússia, e Artyom Novichonok, da Rússia.
Designado C/2012 S1, ele acabou recebendo o nome Ison em razão da rede ao qual os astrônomos pertenciam (Internacional Scientific Optical Network).
A análise da trajetória mostrou que o cometa pertencia à classe dos "sungrazers", termo inglês para designar os astros cuja órbita os leva perigosamente perto do Sol.
Análises feitas com o satélite Swift, da Nasa, em janeiro, sugeriam que o núcleo do cometa tivesse cerca de 5 km de diâmetro – tamanho suficiente para permitir que talvez ele sobrevivesse ao encontro com o Sol.
Daí surgiu a empolgação de que ele pudesse se converter no "cometa do século", com um potencial de brilho que o tornasse visível em plena luz do dia.
IDAS E VINDAS – Vindo de uma região distante conhecida como nuvem de Oort, o Ison realiza agora sua primeira incursão ao interior do sistema planetário.
Isso significa que os astrônomos nada sabiam sobre ele até o ano passado. Desde então, ele foi observado sistematicamente por telescópios em terra e sondas no espaço.
A Mars Reconnaissance Orbiter, em Marte, flagrou a passagem dele, assim como a Messenger, em Mercúrio.
O Hubble fez duas sessões de observação, e os diversos satélites solares estão de olho para acompanhar a passagem (para ver em tempo real as últimas imagens do satélite Soho, visite http://sohowww.nascom.nasa.gov/data/realtime/c3/512/).
Durante a intensa bateria de observações, muito se especulou sobre o Ison. O brilho não aumentou como se esperava.
O astrônomo colombiano Ignacio Ferrín, da Universidade de Antioquia, chegou a prever que ele se desintegraria antes de atingir a aproximação máxima do Sol.
Isso não aconteceu. Mas ainda há controvérsias sobre seu possível despedaçamento. Por isso o suspense da passagem pelo Sol.
Ninguém sabe se ele aguentará o aumento brutal da temperatura.
Cometas são pedregulhos de gelo e rocha. Quando se aproximam do Sol, o gelo sublima (vira gás) e produz as características caudas.
No entanto, ao passar perto demais do Sol, o cometa pode perder todo o gelo e se desagregar. Além disso, a proximidade faz com que a gravidade do Sol possa desmanchá-lo.
Anteontem, ele ameaçou diminuir de brilho (o que seria péssimo sinal), mas voltou a aumentar ontem.
Parece até que o Ison está brincando com os astrônomos, desafiando qualquer tentativa de prever seu comportamento.
OBSERVAÇÃO – Se o Ison se tornar o "cometa do século", deve ser no hemisfério Norte. Sua órbita desfavorece a observação do Brasil após o periélio.
"O problema é que estamos perto do solstício, então cada dia fica claro mais cedo", disse o astrônomo Gustavo Rojas, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).
"A não ser que atinja um brilho extraordinário e com uma grande cauda, dificilmente vai dar para ver".

A trajetória de um cometa
 
21.set.2012
Data da descoberta
14.nov.2013
Visível a olho nu da Terra
Hoje
Aproximação máxima do Sol (1,2 milhão de km)
26.dez.2013
Aproximação máxima da Terra se ele não se desintegrar ao passar pelo Sol (64 milhões de km)

 
ENTRE O ESPETÁCULO E A DECEPÇÃO
Relembre algumas das mais esperadas (e nem sempre comemoradas) passagens de cometas nos últimos 40 anos
 
1973
Kohoutek (decepção)
Um cometa vindo das profundezas do espaço, em sua primeira passagem pelas redondezas do Sol. Chegou a ser proclamado potencial "cometa do século", mas brilhou bem menos do que o esperado.
 
1986
Halley (decepção)
Havia muita expectativa pela chegada desse cometa que retorna a cada 76 anos, mas o posicionamento dele com relação à Terra fez com que a cauda não fosse muito visível, minando o espetáculo.
 
1997
Hale-Bopp (espetáculo)
O cometa permaneceu visível a olho nu por 18 meses e é o recordista histórico nesse quesito. Membros de uma seita americana cometeram suicídio coletivo por acreditar que uma nave alienígena seguia o cometa.
 
2007
McNaught (espetáculo)
Foi o mais brilhante em 40 anos e encantou os observadores do hemisfério Sul entre janeiro e fevereiro de 2007. Chegou a ser visível até mesmo à luz do dia, no mundo todo.
 
2013
Ison (?)
Até agora, seu brilho não atendeu às expectativas iniciais. Depois da passagem pelo Sol, se ele resistir intacto, pode ainda encantar os observadores, sobretudo no hemisfério Norte.