Dia Internacional da Mulher: Para lembrar as lutas e traçar novas conquistas

Por Isabela Campoi*
O 8 de março já se estabeleceu como marco nos calendários ao redor do mundo como o Dia Internacional da Mulher, data que tem sido apropriada por campanhas publicitárias que pretendem vender os mais diversos produtos destinados ao gênero feminino, mas que tem origem nos movimentos sociais que denunciam a degradação do status social das mulheres no decorrer da História. 
Quando se trata do Brasil, não há dúvidas de que esta data precisa ser lembrada, principalmente por conta da realidade das mulheres na sociedade contemporânea, daí ser importante traçar um breve histórico das lutas na defesa dos direitos das mulheres.
As jovens brasileiras tiveram acesso ao ensino superior mais tarde do que os homens (1879) e conquistaram o direito de voto apenas em 1932: tais informações mostram a emancipação social morosa do sexo feminino e, consequentemente, o acesso tardio à cidadania. 
Da mesma forma, questões ligadas à moralidade e aos costumes patriarcais estipulavam condutas, comportamentos e até profissões adequadas às mulheres. 
As ‘desajustadas’ eram taxadas com os nomes mais degradantes, palavrões que comumente brotam também nas bocas de outras mulheres, incapazes de perceber que isso as afeta também. Daí a importância da ideia de sororidade, conceito que pretende resgatar a necessária irmandade feminina, ou seja, a união das mulheres para defesa mútua.
A história mostra que o caminho foi longo e árduo, pois não foram poucas as conquistas. No entanto, as estatísticas apontam que temos muitas veredas ainda para percorrer: é altíssimo o índice de mulheres mortas vítimas de violência no Brasil (a Lei do Feminicídio de 2015 foi uma conquista); mulheres são as mais vulneráveis no tráfico de pessoas; ainda há discrepância salarial entre homens e mulheres na mesma atividade laboral; meninas são mais expostas à violência doméstica e não é menos violenta a criminalização do aborto, que torna a gestação obrigatória. 
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que 16 milhões de mulheres acima de 16 anos sofreram algum tipo de violência no decorrer de 2018 (agressões virtuais incluídas).
Por tudo isso o 8 de março é importante, na medida em que deve servir para problematizarmos os dados e as informações sobre a condição das mulheres de hoje. E os números ligados à violência, definitivamente, não são animadores: mulheres são violentadas e mortas ‘como moscas’ no Brasil atual.
Entretanto, um olhar mais apurado pode ilustrar um panorama de esperança: Paranavaí conta com um Conselho Municipal dos Direitos da Mulher atuante, apesar da inexistência de uma Secretaria da Mulher; a cidade tem uma delegada mulher à frente da Delegacia da Mulher; conta com o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e ainda com a Patrulha Maria da Penha; o campus da Unespar de Paranavaí tem o Núcleo Maria da Penha (Numape), que oferece atendimento jurídico, social e psicológico às mulheres em situação de violência doméstica; todos os campi desta mesma universidade contam com o Núcleo de Educação para as Relações de Gênero (NERG), que realiza debates, eventos e acolhe denúncias de situações de assédio junto ao seu público universitário. 
No dia 8 de março, mulheres de Paranavaí e região estaremos reunidas em manifestação no calçadão da Getúlio Vargas a partir das 14h, juntamente com os adolescentes do Centro da Juventude que organizarão “um paradão” para mostrar a importância da data. Para completar nossa agenda, no dia 20 de março, das 8h às 10h, no Centro de Conferências da Unespar, ocorrerá a palestra com o tema “Desmistificando o Dia Internacional da Mulher” com a professora da Universidade Estadual de Maringá Ludmila Castanheira, aberta ao público interessado.
Antes de “comemorar” a feminilidade no dia 8 de março, é preciso pensar o quanto esta mesma feminilidade tem sido interpretada, colocando quase sempre as mulheres num patamar social inferior: não somos o sexo frágil; que esse dia signifique um momento de luta, como tem sido no decorrer da História, e um dia de reflexão para traçarmos novas táticas de ação, até que todas sejamos livres.
*Isabela Campoi é professora da Unespar, campus de Paranavaí. Faz parte do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e é membro da Marcha Mundial das Mulheres