Dilma adota “postura imperial”, diz oposição

BRASÍLIA (FOLHAPRESS) – A oposição reagiu, ontem, à declaração da presidente Dilma Rousseff de que não "pegou um tostão" de dinheiro sujo e que não teme o debate sobre sua saída antecipada da Presidência da República.
Os parlamentares classificaram as declarações da presidente à Folha de S.Paulo como uma demonstração de "prepotência" e de "postura imperial". Em entrevista publicada ontem, Dilma diz não ter medo de sofrer impeachment.
"Não tem base para eu cair, e venha tentar. Se tem uma coisa que não tenho medo é disso", disse.
"Eu já vi presidente dizer que luta com unhas e dentes para proteger o seu país, mas é a primeira vez que vejo um presidente dizer que luta com unhas e dentes para proteger o seu mandato. Ela não está lá para isso", disse o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP).
Para o tucano, a fala de Dilma mostra que ela aceita o "jogo espúrio da troca de cargos, da compra de favores".  "Ela não tem limite ético no seu proceder", atacou.
Em nota, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG) ironizou as declarações de Dilma. "Para o PT, se o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] investiga ilegalidades na prestação de contas das campanhas eleitorais da presidente da República, trata-se de golpe. (…) Tudo que contraria o PT, e os interesses do PT, é golpe!", afirmou.
Candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais, o mineiro afirma que o discurso de petistas tem como objetivo "constranger e inibir instituições legítimas".
"Os partidos de oposição continuarão atentos e trabalhando para impedir as reiteradas tentativas do PT para constranger e inibir a autonomia e independência das instituições brasileiras", concluiu.
Para o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), Dilma está "escrevendo o script" de quem está deixando o poder. "É o discurso do ‘eu me garanto’, ‘não me intimidam’, ‘estou acostumada com isso’", disse ele.
Caiado negou atitude golpista de partidos da oposição e ponderou que "as regras estão sendo seguidas à risca", em referência aos questionamentos sobre as pedaladas fiscais, em análise pelo TCU (Tribunal de Contas da União), e sobre suposto crime na campanha que reelegeu a presidente, em estudo pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
"Ela é imune a tudo? É uma postura imperial, não é uma postura republicana", afirmou o senador. Ele ponderou ainda que os questionamentos não se referem à "honra da presidente".
"Não estamos discutindo a pessoa física. A pessoa física tem todo nosso respeito. Agora, a pessoa jurídica presidente da República sabe que se omitiu, prevaricou", disse Caiado, citando o fato de que Dilma já presidiu o Conselho de Administração da Petrobras, estatal alvo de investigação na Operação Lava Jato.
CONTROLE – Para Sampaio, a presidente desconsiderou a importância institucional dos órgãos de controle ao dizer "eu não vou cair".
"Mais do que uma prepotência, isso é uma desconsideração para com os órgãos de controle do país. Quem pode rejeitar as contas dela é o TCU. Quando ela diz isso, ela passa por cima de um órgão fiscalizador. Ela desconsidera que isso independe da sua vontade", disse. "É um absurdo essa postura", completou.
O tucano fez ainda uma provocação à presidente ao dizer que viu a entrevista com um "misto de estarrecimento e alegria".
"Alegria porque eu sei que tudo o que ela diz, desde a campanha eleitoral, é mentira. Então, se ela diz que não vai cair, é porque vai."
Para o líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), Dilma deveria abandonar o "discurso de bravata" e "serenar os ânimos".
"Antes de fazer um discurso público mais na linha da bravata, eu acho que a presidente deveria tentar serenar os ânimos do país, mostrar uma direção. Porque, infelizmente, o quadro atual é de muita contestação do processo de sua reeleição e do seu desempenho como PR que não apresenta perspectiva de longo prazo para o país", disse.

Não vou cair”, diz Dilma em entrevista a jornal
A presidente Dilma Rousseff disse que não teme possíveis pedidos de impeachment por partidos de oposição e descartou qualquer possibilidade de renúncia. “Se tivesse culpa no cartório, me sentiria muito mal. Mas não tenho nenhuma [culpa]. Nem do ponto de vista moral, nem do ponto de vista político”, disse a presidente em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Para Dilma, as tentativas de interrupção do seu mandato são “luta política” e “um tanto quanto golpista”. “Não vou cair. Não vou, não vou. Isso é moleza, isso é luta política. Se tem uma coisa que eu não tenho medo é disso. Não conte que eu vou ficar nervosa, com medo. Não me aterrorizam”, disse a presidente ao ser perguntada sobre um eventual pedido de impeachment.
Na entrevista ao jornal, Dilma lembrou dos boatos de que teria tentado suicídio por causa de pressão que vem sofrendo. “Outro dia postaram que eu tinha tentado suicídio, que estava traumatizadíssima. Não aposta nisso, gente. Foi cem mil vezes pior ser presa e torturada. Vivemos numa democracia. Não dá para achar que isso aqui seja uma tortura. Não é. É uma luta para construir um país. Não quis me suicidar na hora em que eles estavam querendo me matar. A troco de quê vou querer me suicidar agora? É absolutamente desproporcional. Não é da minha vida”, afirmou.
Sobre a possibilidade de não terminar o mandato, Dilma ressaltou serem necessárias provas para pedir a interrupção do mandato de um presidente. “Isso [não terminar o mandato] do ponto de vista de uma certa oposição um tanto quanto golpista. Eu não vou terminar por quê? Para tirar um presidente da República tem que explicar por que vai tirar. Confundiram seus desejos com a realidade, ou tem uma base real? Não acredito que tenha uma base real”, acrescentou.
Perguntada sobre as prisões dos presidentes das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez em meio à Operação Lava Jato, Dilma disse considerá-las “estranhas” e voltou a fazer críticas sobre a delação premiada do dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa. “Não costumo analisar ação do Judiciário. Agora, acho estranha [o pedido de prisão]”.
Em relação às críticas feitas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua gestão, Dilma voltou a negar atrito com seu antecessor. “Querido, podem querer, mas não faço crítica ao Lula. Não preciso. Deixa ele falar. O presidente Lula tem direito de falar o que quiser”.
Ao ser perguntada sobre o julgamento das contas do governo pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a presidente voltou a negar irregularidades no atraso do repasse de recursos do Tesouro para os bancos públicos quitarem gastos com programas sociais ao longo do ano passado. “O governo dará uma resposta circunstanciada, item a item, para o TCU. Não acho que houve o que nos acusam. Aliás, é interessante notar que o que nós adotamos foi adotado muitas vezes antes de nós”.