Dilma precisa “pôr a cabeça no ombro do povo”, diz Lula

SÃO PAULO (FOLHAPRESS) – Num longo discurso a integrantes da FUP (Federação Única dos Petroleiros), em Guararema (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu que o país atravessa um momento difícil e apontou um roteiro para a recuperação do governo de sua sucessora e afilhada política, Dilma Rousseff.
Para o petista, "o nosso governo está, outra vez, precisando conversar com o povo" e precisa recobrar o "oxigênio" nas ruas.
"Acho que ela [Dilma] tem a noção exata do que eu estou falando. Ela conviveu muito tempo comigo e sabe que, nas horas difíceis, nas horas mais difíceis, não tem outra alternativa a não ser encostar a cabeça no ombro do povo e conversar com ele. Explicar quais são as dificuldades e quais são as perspectivas", afirmou.
Para Lula, Dilma precisa colocar "o pé na rua" e falar com a parcela da população que torce para ela governar o país.
"Tem que fazer o que tiver para fazer em Brasília e, ó, pé na estrada. Ela e os ministros", aconselhou. "O povo vai cobrar? Vai. Mas tem que cobrar mesmo. (…) É essa linha linha direta entre a Dilma e o povo que vai permitir que a gente conquiste grande parte dessa juventude", afirmou.
"A Dilma é boa de papo. Se ela andar e depois abraçar o povo -tem que abraçar, sentir-, é essa coisa que dá oxigênio. Quando fica em Brasília esperando… puta merda. Tem que andar agora. Pegar os ministérios e ó, todo mundo fazendo política na estrada, todo mundo defendendo o governo".
No esteio de uma nova postura, Lula não fez críticas à condução do governo de sua sucessora. Ele defendeu o ajuste fiscal e comparou o "aperto" nas contas públicas aos cortes que teve que promover ao chegar ao poder, em 2003. Lula atribuiu o mau momento da economia à crise internacional, que estourou em 2008, e disse que as pessoas só veem um Brasil pior hoje porque o comparam com o país que os petistas construíram quando chegaram ao Planalto.
"Valeu a pena tudo o que fizemos e vale a pena, inclusive, o sacrifício que estamos passando agora. Não é uma obra apenas do nosso governo, é resultado de uma coisa muito grave que aconteceu no mundo, com a quebra do sistema internacional. (…) Não temos o direito de ficar apenas reclamando ou chorando. Temos que discutir como vai sair dessa situação", disse Lula.
“IRRESPONSÁVEIS” – O ex-presidente chamou de "irresponsáveis" os que atribuem toda a culpa do cenário econômico à presidente Dilma e disse que há uma tentativa de "criminalizar o PT e a esquerda", num momento em que o "mau humor está espalhado por esse país".
"No Brasil é tudo ruim?", questionou o petista. "A Petrobras não é só corrupção. É outras coisas e é muito importante. A Petrobras não é só isso. O Brasil não é só miséria. Quando a gente acha que está ruim, a gente compara o Brasil com a gente mesmo", concluiu.
LAVA JATO – O ex-presidente voltou a afirmar que a Petrobras e seus trabalhadores não podem ser penalizados pelas denúncias de corrupção na estatal, investigada na Operação Lava Jato. "Se vocês quiserem um brasileiro que tem orgulho da Petrobras, está aqui", iniciou Lula.
"Se alguém fez alguma sacanagem ou roubou, essa pessoa que pague pelo roubo e que os trabalhadores não sejam punidos", afirmou.
Lula disse criticou ainda o que tem chamado de "vazamentos seletivos" de detalhes da operação, com o intuito de "pegar alguém ou acusar algum partido". "Eu denunciei isso no Ministério da Justiça em dezembro. (…) A pessoa só pode ser chamada de ladrão a hora que provar que é ladrão. Não pode criminalizar antes de provar e antes de ela ser julgada", sustentou.

Lula critica violência contra Dilma na internet e pede respeito
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, ontem, os autores de críticas à presidente Dilma Rouseff na internet.
Durante evento da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Lula chamou de "irresponsáveis escondidos na internet" aqueles que atacam sua sucessora.
Após a fala, movimentos ligados à defesa dos direitos das mulheres petroleiras apresentaram mensagens e cartas de repúdio a adesivos que estão sendo vendidos na internet com o rosto da petista com as pernas abertas.
Lula disse que esse tipo de ataque "jamais" seria feito por "uma pessoa de dignidade, que gosta da mãe e do pai".
"Peço a deus todo dia para a Dilma não perder a tranquilidade. Nessas horas tem que provar porque foi eleita", afirmou.
O ex-presidente ainda falou que vivemos tempos de intolerância. "Ser exigente é cobrar, é ir pra rua cobrar, não é ficar falando palavrão contra a presidenta ou contra qualquer outra pessoa", disse.
Ontem, foi divulgado o vídeo de um brasileiro que se infiltrou na comitiva da presidente nos Estados Unidos e a chamou de "assassina", "terrorista" e "petistas de merda".
Lula fez ainda menção à pichação em frente ao prédio do apresentador Jô Soares, logo após ele exibir uma entrevista com a petista em seu programa, na TV Globo.
"[Ser exigente] não é pichar o muro do Jô. Cadê a tolerância? Cadê a democracia? Cadê o respeito? Democracia pressupõe respeitar a opinião do outro", afirmou.
O petista voltou a dizer que "têm pessoas nesse país" que não aceitam a melhoria de vida dos mais pobres. Para Lula, esse nicho não quer que pobre vá de avião para o Ceará. "Quer que vá de jegue. Quer que vá a pé", criticou.