Distritão divide lideranças paranavaienses

A comissão que analisa a reforma política na Câmara dos Deputados aprovou nesta semana o parecer para implantar o voto distrital já para as eleições de 2018 (chamado distritão). Em síntese, a proposta acaba com a eleição proporcional e passa a vencer o pleito para o parlamento sempre os mais votados até o número de vagas por estado.
Mas, a ideia está longe do consenso. Em Paranavaí, por exemplo, as opiniões estão divididas, refletindo também o que houve na comissão, cujo placar foi apertado – de 17 a 15.
O ex-prefeito de Paranavaí, Rogério Lorenzetti, vê vantagens e desvantagens no modelo proposto. Se por um lado, há um senso de justiça na eleição dos mais votados, por outro compromete a representatividade.
Também reduz a influência dos partidos. Tudo isso sem contar que numa primeira análise a vantagem é de que quem é mais conhecido, com base eleitoral e com recursos financeiros.
Ele defende o voto distrital misto, ou seja, metade pelo sistema de distrito e outros 50% pela proporção. Quando candidato a deputado estadual, Lorenzetti ficou em 40º, mas não se elegeu, embora haja 54 cadeiras na Assembleia Legislativa.
Ex-candidato a prefeito e coordenador do PT na região, César Alexandre é contra o formato de distritão, postura aliás, já manifestada pelo partido nacionalmente. Para ele, o modelo favorece quem tem mandato e candidatos conhecidos, de grandes regiões metropolitanas.
Sem contar que Alexandre vê comprometimento das ideias e do programa partidário e cita o enfraquecimento dos partidos. “Perde o debate ideológico”, sintetiza.
Para o petista, o modelo vai deixar de lado temas como gênero, meio ambiente, cultura e outros, hoje com representação no Congresso, embora seja minoria. Ele vê ainda uma tentativa de impor o sistema parlamentarista, mesmo sem aprovação “das ruas”.
Já para o presidente do PTB, Pedro Baraldi, o modelo de distrito é mais justo. Cita especialmente as câmaras municipais, que muitas vezes elegem pessoas com menos votos que outros não eleitos.
Concorda que no caso das assembleias e Câmara Federal é preciso definir um formato por regiões, garantindo a representatividade. Outra preocupação é garantir que as ideias da população estejam representadas, analisa.
Líder do PPS, o vereador Leônidas Fávero Neto entende que o formato representa perda para a ideologia partidária. O distritão vai focar as campanhas em pessoas, reduzindo a importância do programa partidário.
Sem contar que, como disse o presidente estadual da sigla, deputado federal Rubens Bueno, a eleição simples dos mais votados “fará de cada deputado um partido”, complicando ainda mais a já tumultuada relação de forças no Congresso Nacional.
Ainda de acordo com Fávero, o distritão vai diminuir a renovação, favorecendo quem está no poder e contra o anseio das pessoas por mudanças. Por fim, avalia que a proposta do distrito se constitui em uma atitude de autopreservação por parte dos atuais legisladores.
Coordenador regional do PV, o industrial Maurício Gehlen também é contra o distritão. Para ele, vai fortalecer quem é conhecido, do meio político e quem em tese tem mais votos. Isso dificultaria o surgimento de novas lideranças, preocupa-se.
Mesmo com tais preocupações, considera que seria também uma questão simples de merecimento, pois se elegeriam os mais votados. Por outro lado, reflete, comprometeria a representação das ideias e grupos sociais no parlamento.
Pré-candidato a deputado estadual, Gehlen considera que uma possível participação passa pelo formato. No distritão ele não será candidato, antecipa.
Presidente do PMDB em Paranavaí, Valdir Tetilla, entende que é preciso haver mudanças na política. No entanto, precisa amadurecer a ideia do voto distrital no formato proposto. Numa primeira avaliação, entende que vai beneficiar quem já está no Congresso.
Segue analisando que a mudança pode ser o primeiro passo para o voto distrital misto e evolução ao parlamentarismo, sistema que considera ideal. No plano local, cita que o pré-candidato do partido a deputado federal, Valdemar Delatorre, deve disputar em qualquer cenário. A reportagem tentou entrar em contato com outros líderes partidários, mas não conseguiu ou não obteve retorno.
ENTENDA A DIFERENÇA – O sistema proporcional é utilizado nas eleições para as câmaras de vereadores municipais, as assembleias legislativas estaduais, para a Câmara Legislativa do Distrito Federal e para a Câmara dos Deputados.
No sistema proporcional, utiliza-se o quociente eleitoral, que é o número de votos válidos apurados dividido pelo número de vagas no parlamento. Esse resultado significa o número de votos que cada partido político ou coligação de partidos deverá alcançar para ter direito a uma vaga para vereador ou deputado.
Já no voto distrital elegem-se os mais votados de cada distrito. No parecer aprovado pela Câmara, implanta-se o distritão, ou seja, vencem as eleições os mais votados de cada estado. No formato distrital misto são usados os dois critérios: voto por distrito e por proporção.