Dois terços das famílias não pensam em poupar, diz pesquisa

SÃO PAULO – Guardar parte da renda é uma preocupação que passa longe de mais de dois terços dos lares brasileiros, segundo pesquisa realizada pelo instituto Ipsos a pedido da Fenaprevi para avaliar a percepção do brasileiro sobre poupança de longo prazo.
O levantamento, feito em 1.500 domicílios nas cinco regiões, revela que 68% não têm tal preocupação. Importante destacar: 65% dos respondentes tinham renda até três salários mínimos.
E esse é um dos fatores que explica o resultado, na avaliação de Osvaldo Nascimento, presidente da Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida): preponderância de pessoas nessa faixa de renda, aliado ao modelo de Previdência Social brasileiro, que garante beneficio a todos os cidadãos.
Embora percebido como baixo pelas classes A e B, o valor pago pelo INSS está dentro da faixa de até três mínimos. O teto atualmente está em R$ 4.390,24.
"Essa população [com renda até três mínimos] entende, assim, ser obrigação do Estado dar uma renda para terem velhice digna, o que desestimula reserva financeira", afirma Nascimento.
O professor de finanças Gilberto Nobre, da BBS Business School, acrescenta que colabora ainda a falta de cultura de poupança do país.
Outro dado da pesquisa ajuda a explicar por que tantos brasileiros não pensam em guardar dinheiro: 55% não fazem orçamento doméstico. Sem saber qual destino está tendo o dinheiro, fica mais difícil de guardá-lo.
Era o caso do cirurgião-dentista Luiz Sergio Machado, 67. Ele conta que até pouco tempo atrás não controlava ganhos e gastos.
O dentista está agora sendo assessorado por planejador financeiro e mensura que, se antes estava 100% no "sufoco", hoje está em 40%.
Há uma boa notícia, observa Nascimento: está se tornando menos comum a mentalidade de que é necessário ter muito dinheiro para guardar e formar uma reserva.
A disciplina passa a ser percebida como aliada desse processo, tornando desnecessário separar grandes quantias para formar reservas. Pequenos valores guardados com regularidade dão conta do recado.

Elaborar orçamento requer organização
Montar um orçamento não requer prática, apenas organização. Não é preciso saber mexer em Excel, ter computador à mão ou aplicativos no celular. Papel e lápis bastam.
Como estímulo para começar, Reinaldo Domingos, presidente da DSOP, especializada em educação financeira, recomenda criar um motivador, estabelecendo um sonho ou meta. "Pagar uma dívida pode ser um sonho", diz.
A primeira etapa consiste em anotar receitas e ganhos. Para assalariados, em geral o ganho é fixo, mas é preciso anotar o valor líquido efetivamente recebido.
Profissionais liberais, empresários e aqueles remunerados com comissões precisam anotar quanto ganham a cada mês para depois montar o orçamento e projetar.
Aqui, é necessária uma dose de sensibilidade, afirma o  especialista em finanças pessoais Mauro Calil. "Se um médico dava dez plantões num hospital, por exemplo, e reduziu para cinco, o valor que ele coloca nessa linha tem que ser a metade do que era".
A seguir, a pessoa deve começar a anotar seus gastos. Cada despesa, por menor que seja, precisa ser anotada – desde o café da máquina, o sorvete no parque, o brigadeiro na porta do metrô até o pãozinho de todo dia e as grandes contas, como prestação ou aluguel, luz, telefone, mensalidade escolar, transporte e plano de saúde.
Com que frequência? Você decide, o importante é manter a disciplina e anotar tudo. "Quanto mais frequente for o controle, mais detalhes a pessoa terá. Mas é importante começar", afirma o planejador financeiro Janser Rojo, da QI Financeiro Consultoria.
Com ganhos e gastos anotados, o próximo passo é fazer a conta para checar se, no perfil atual, a pessoa consegue ter dinheiro para guardar, tende a ficar com dívida ou fica no zero a zero.
A seguir, uma análise dos gastos vai fazer a diferença. "A palavra chave é consciência. Organizando seu orçamento, você saberá no que gastou e avaliar se foi importante ou se dá para reduzir aquela despesa", diz Rojo.
Uma dica que os especialistas dão é: antes de pagar as contas, separe a quantia que pretende poupar e guarde. Assim, você "paga" a si mesmo também.
"Tenha como meta economizar 10% do salário", afirma Domingos, da DSOP. "Se não der tudo neste mês, reponha no seguinte, de forma que, em um ano, consiga guardar 10% do que ganhou".

Dicas para elaborar o orçamento
1 Ganhos –
Anote todo o dinheiro que ganhou: salário, honorários, etc.
2 Despesas –
Relacione todos os gastos – vale do condomínio ao chiclete.
3 Análise –
Com todas as informações reunidas, fica mais fácil avaliar onde é possível cortar para poupar.