Dólar vai a R$ 3,70 após BC manter juro

Um dia após o Banco Central manter a taxa de juros em 6,5% ao ano por causa das turbulências internacionais, o exterior voltou a provocar instabilidade no mercado brasileiro.
A alta dos rendimentos de títulos americanos pressionou o dólar, que subiu para R$ 3,70 nesta quinta-feira (17), no quinto dia de valorização. Já a Bolsa brasileira teve a maior queda diária em um ano afetada por uma venda generalizada de ativos.
O dólar comercial subiu 0,62%, para R$ 3,700. É o maior nível desde 16 de março de 2016, quando terminou a R$ 3,739. O dólar à vista avançou 0,54%, também a R$ 3,700.
A Bolsa brasileira fechou em forte baixa de 3,37%, para 83.621 pontos. Foi a maior desvalorização diária desde 18 de maio de 2017, quando o Ibovespa recuou 8,8% sob impacto do vazamento da delação do empresário Joesley Batista, do grupo JBS.
No mundo, o dólar subiu ante 25 das 31 principais moedas globais.
A alta teve como origem um novo aumento dos rendimentos dos títulos de dívida americana, que agora bateram 3,119%, o maior patamar desde junho de 2011.
Os papéis continuam reagindo a dados fortes divulgados recentemente e que apontam para o fortalecimento da economia americana. Esse é o principal fator apontado por analistas para a valorização do dólar não só em relação ao real, mas ante moedas de outros emergentes e até de economias desenvolvidas.
"O câmbio está seguindo o cenário externo, onde vemos uma forte desvalorização das moedas emergentes em relação ao dólar. Brasil acompanha, com uma variação um pouco menor, o que acontece no cenário global", afirma Ricardo Braga, executivo responsável pela área de investimento do banco Andbank.
A turbulência externa foi também um dos motivos apontados pelo Banco Central para manter os juros na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) que terminou nesta quarta-feira.
"O Copom olhou o balanço de risco interno e externo, pesou mais esse aumento do balanço, e manteve as taxas de juros, de uma forma acertada", diz. "Olhando só para o lado macroeconômico, haveria justificativa para manter um corte de 0,25 ponto percentual. Mas, olhando a normalização da política americana, ele deu um peso muito maior a esses efeitos sobre o Brasil."
O diferencial de juros entre os títulos brasileiro e americano também influenciou. O aumento do rendimento dos papéis da dívida dos EUA torna esses ativos, mais seguros, mais atrativos para o investidor do que títulos de emergentes como o Brasil, mais arriscados.
Para José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o BC sinalizou atuações divergentes. "O Ilan [Goldfajn, presidente do BC] foi à TV e o mercado entendeu que o regime é de metas de inflação, e não de metas de câmbio", destaca, em nota.
"O que aprendemos com a atual diretoria do BC é que eles avaliaram que há níveis de alta do dólar que terão efeitos sobre a inflação de modo inequívoco, dentro do horizonte relevante para a política monetária", complementou.
O CDS (credit default swap, espécie de seguro contra calote) também espelhou o aumento da percepção de risco-país. O indicador subiu 2,89%, a 194,1 pontos.
No mercado de juros futuros, os contratos mais negociados corrigiram as taxas após o BC manter a Selic. O DI com vencimento em julho de 2018 subiu de 6,224% para 6,410%. O DI para janeiro de 2019 avançou de 6,320% para 6,585%.