Doleiro diz que Dirceu sabia de repasse de dinheiro desviado da Petrobras a PT
Em depoimento prestado à força-tarefa da Lava Jato em caráter sigiloso em 10 de outubro passado, que veio à tona nos autos da investigação, ontem, por decisão do juiz Sergio Moro, Alberto Youssef afirmou que parte do dinheiro pago por empreiteiras que tinham contratos com a estatal petroleira acabou revertida para o PT, com conhecimento de Dirceu.
Youssef disse ainda que Dirceu era próximo do consultor Julio Camargo, que já assinou um acordo de delação premiada no qual confirmou ter feito inúmeros pagamentos de propina a altos funcionários da Petrobras em troca de contratos na empresa, incluindo Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional.
Segundo o doleiro, Camargo enviava ao exterior recursos para empresas sob controle de Youssef, que depois os recebia no Brasil e redistribuía, para escritórios de Camargo no Rio e em São Paulo, descontando sua parte da propina e de outros funcionários da Petrobras.
"O dinheiro entregue pelo declarante em São Paulo servia para pagamento da [empreiteira] Camargo Corrêa e da Mitsue Toyo ao PT, sendo que as pessoas indicadas para efetivar os recebimentos à época eram João Vaccari e José Dirceu", disse o doleiro, referindo-se também ao tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto. Youssef fez as afirmações em acordo de delação premiada.
Youssef afirma ainda que, na planilha de contabilidade dos pagamentos de propina e caixa dois de Julio Camargo, Dirceu era conhecido pela sigla de "Bob".
Ao mencionar o suposto papel do ex-ministro, o doleiro não apresentou provas documentais de suas afirmações nem explicou como teria conhecimento da eventual participação de Dirceu no recebimento dos recursos.
Dirceu, Vaccari e o PT negam ter recebido recursos em forma de propina e afirmam que o partido apenas recebe doações legais.
OUTRO LADO
Em nota, Dirceu repudiou com veemência as declarações de Youssef de que teria recebido recursos ilícitos de Julio Camargo, da Toyo Setal, ou "de qualquer outra empresa investigada pela Operação Lava Jato".
Ele também afirma que nunca representou o PT em negociações com Camargo ou com qualquer outra construtora.
"As declarações são mentirosas. O próprio conteúdo da delação premiada confirma que Youssef não apresenta qualquer prova nem sabe explicar qual seria a suposta participação de Dirceu. O ex-ministro também esclarece que, depois que deixou a chefia da Casa Civil, em 2005, sempre viajou em aviões de carreira ou por empresas de táxi aéreo", diz a nota enviada por sua assessoria.