Donos de pequenas áreas dão uma guinada em seus negócios

A Cocamar promove no próximo dia 19 em Iporã, a partir das 14h30, na sua Unidade de Difusão de Tecnologias (UDT), um dia de campo sobre integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF). O município fica a 50 km de Umuarama, no extremo noroeste do Estado.
Aberto a participação de produtores e técnicos, o Dia de Campo faz parte do calendário da UDT que foi estruturada pela cooperativa para servir de referência aos produtores que querem conhecer ou já investem no sistema. Os trabalhos a serem apresentados resultam de parceria com a Embrapa, Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e Instituto Emater.
REVERTER – Os trabalhos desenvolvidos na UDT demonstram que é possível reverter o quadro de degradação dos pastos a partir da integração da pecuária com a agricultura – no caso a reforma dos mesmos com o cultivo da soja, durante os meses quentes.
Muitos pensam que a ILPF seria apenas para grandes proprietários rurais, mas em Altônia, perto de Iporã, donos de pequenas áreas adotaram o sistema para dar uma guinada em seus negócios. O modelo possibilita que a atividade pecuária volte a ser viável.
SEM VOLTA – Nos 72 hectares do produtor Barruíno Gonzaga Siqueira, 55 já são cultivados com integração. Ele conta que o sistema já vai para o quinto ano e “não tem volta”.
Siqueira lembra que antes, devido aos pastos degradados, a média era de apenas uma cabeça de vaca por hectare, quantidade que agora consegue triplicar graças a quantidade de alimento disponível no inverno.
COMIDA DE SOBRA – Orientado pela unidade local da Cocamar, onde o técnico agrícola Eleandro Varlei Zanolli atua na prestação de assistência aos produtores, Siqueira produz soja no período de primavera/verão e, no outono, semeia capim braquiária.
Com isso, tem massa verde de sobra para fornecer ao gado durante o inverno, justamente a época mais crítica da pecuária, quando os pastos diminuem por causa do frio.
“Quando chegava o inverno, eu precisava sair por aí para achar cana para complementar a alimentação”, conta o produtor. Por fim, diz que acabou o chamado “efeito sanfona”, em que os animais ganhavam peso no verão, quando há pasto disponível, e perdiam no inverno, época em que emagrecem por falta de comida.
Siqueira conta que foi muitas vezes a dias de campo para assimilar conhecimentos e ver o modelo na prática. “Viajei também para outros lugares e vi que valeria a pena”, afirma.
No início ele precisava contar com prestadores de serviços. Hoje, já tem a maior parte dos maquinários. O produtor está tão satisfeito que vai fazer integração também em um outro sítio, de 48 hectares, que adquiriu há algum tempo.
SOJA – Sobre a cultura da soja, Siqueira diz que colheu 33 sacas por hectare na safra 2014/15, a qual foi prejudicada por problemas climáticos. Mesmo assim, ainda deu para livrar os custos (estimados em 27 sacas por hectare). Ao longo dos anos, sua produtividade variou de 25 a 52 sacas por hectare. “O meu negócio não é soja, é melhorar o pasto com ela para ganhar depois, na pecuária”, explica.

“No sistema tradicional
não tem mais jeito”

A pecuária estava ficando um negócio cada vez mais difícil para outros produtores de pequeno porte: pastos degradados, falta de comida, custos aumentando.
“A gente se sentia sufocado”, cita Zenildo Ferrari, enfatizando que a degradação dos pastos parecia irreversível. Mas em 2010 ele decidiu seguir a orientação da Cocamar e, com a ajuda do filho Claudir, iniciou a integração em uma área de 12 hectares.
Deu certo e, logo no ano seguinte aumentou para 38. Como Ferrari vendeu uma parte do sítio e adquiriu outro de 24 hectares, esse é o total da área que ele vai cultivar com soja na safra 2015/16.
Para cultivar a nova safra de soja, o produtor calcula que vai gastar cerca de R$ 30 mil e informa que só vai usar recursos próprios, “pois o custo do financiamento ficou muito alto”.
Precavido, ele ainda conta com 1,8 mil sacas de soja, que guardou de safras anteriores, para vender. “Vem tudo da integração. Do pasto degradado não sai dinheiro para investir em outro pasto”, pontua Ferrari.
INTEGRAR – “A gente tem paixão por pecuária e quer continuar, mas no sistema tradicional não tem mais jeito”, afirma o produtor. Ele garante: o antigo modelo está esgotado. “Pra mim, a integração foi a luz no fim do túnel”, acrescentando: “quem não se integrar, dificilmente conseguirá sobreviver como pecuarista em áreas pequenas”.