Eduardo Cunha nega renúncia e diz que não fará delação premiada

BRASÍLIA – O presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, classificou como “boataria” a tese de que ele renunciaria à Presidência da Casa. E disse que não fará delação premiada.
“Não renunciei e não tenho o que delatar, pois não tenho crime praticado. Sei que existe boataria, mas a minha posição não mudou uma vírgula”, ressaltou, durante entrevista coletiva na manhã de ontem, no Hotel Nacional, em Brasília.
Cunha afirmou não ser “herói nem vilão” no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Porém, segundo ele, a ira do PT pelo fato de “ter perdido suas boquinhas” fez com que ele, Cunha, pagasse um preço alto. “Tenho a consciência tranquila de que livrar o Brasil da Dilma e do PT será uma marca que terei a honra de carregar”, disse.
O presidente afastado reafirmou que não agiu por vingança no caso da abertura do processo de impeachment de Dilma. Ele alegou ter rejeitado 40 pedidos com esse teor antes de acatar o que foi aberto em 2 de dezembro de 2015.
Cunha afirmou que resolveu voltar a dar entrevistas para não ter mais a sua defesa prejudicada e cerceada por falta de comunicação.
Ao longo da entrevista coletiva, Cunha teceu críticas ao PT, ao governo de Dilma, ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot; e ao presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, deputado José Carlos Araújo (PR-BA).
TROCA DE APOIO – Eduardo Cunha disse que o PT tentou fazer acordo com ele para livrá-lo do processo no Conselho de Ética em troca da rejeição do pedido de impeachment de Dilma. De acordo com Cunha, o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, chegou a oferecer a ele o controle dos votos do PT e de José Carlos Araújo no Conselho de Ética.
O presidente afastado disse ainda que Wagner teria garantido que a esposa de Cunha não seria alvo de denúncias, o que ele, Cunha, interpretou como chantagem.
Cunha também se defendeu das acusações de manobras para protelar seu caso no Conselho de Ética. Ele disse que sempre agiu conforme o Regimento Interno da Câmara dos Deputados e que foi o presidente do colegiado quem trabalhou para que o processo, iniciado em novembro do ano passado e votado na semana passada, fosse tão longo.
José Carlos Araújo rebateu dizendo que as manobras de Eduardo Cunha foram claras ao tentar, por exemplo, mudar o relator do caso diversas vezes. O presidente do Conselho também descartou qualquer interferência de Jaques Wagner no processo. “Eu não tenho controle do que o ministro Jaques Wagner fala, mas com certeza o ministro Jaques Wagner não tinha total controle sobre mim”, ressaltou.

Recurso
Eduardo Cunha disse ainda que vai apresentar à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), na quinta-feira (23), recurso contra a decisão do Conselho favorável à cassação de seu mandato.
Um dos pontos que Cunha questionará será a votação nominal do caso, o que em sua avaliação gerou um “efeito manada” – influência de um voto sobre o outro. A votação, segundo ele, não teria seguido o Regimento. José Carlos Araújo negou: “Se algum deputado mudou o voto por sua consciência, é um problema do deputado”.
A respeito da decisão do presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão, de tirar de tramitação a consulta feita à CCJ sobre o rito a ser seguido nos casos de processo de quebra de decoro parlamentar, Cunha disse que os parlamentares que fizeram a consulta poderiam questionar o ato. (Da Agência Câmara)