Em 20 anos, armas de fogo mataram 145 mil jovens no Brasil, aponta SBP
No Brasil, a cada 60 minutos uma criança ou adolescente morre em decorrência de ferimentos por arma de fogo. Nas últimas duas décadas, mais de 145 mil jovens, com idades entre zero e 19 anos, faleceram em consequência de disparos, acidentais ou intencionais, como em casos de homicídio ou suicídio.
Os números fazem parte de um levantamento elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) com o objetivo de ajudar a entender esse problema que atinge proporções endêmicas e com implicações nos indicadores de saúde pública.
Segundo o levantamento da entidade, que considerou os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, em 2016 (ano mais recente disponível), foram registrados 9.517 óbitos. O número é praticamente o dobro do identificado há 20 anos (4.846 casos, em 1997), representando em números absolutos o pico dessa série histórica.
Para a presidente da SBP, dra. Luciana Rodrigues Silva, é imprescindível que as autoridades assegurem a paz e a integridade dos jovens e daqueles que cuidam de seu bem-estar.
“O País precisa de medidas efetivas para aumentar a segurança das nossas crianças e adolescentes, e também dos profissionais que os acompanham nas escolas, nas unidades de saúde, nos centros desportivos e outras instalações do tipo”, defendeu.
INTERNAÇÕES – Além de calcular o impacto dos disparos com armas de fogo na mortalidade da população brasileira de zero a 19 anos, o levantamento da SBP também aponta o impacto negativo dessa situação para a saúde desse grupo e a sobrecarga que provoca nos serviços de assistência, em especial nos prontos-socorros e nas alas de internação dos hospitais.
Segundo a análise, a cada duas horas, em média, uma criança ou adolescente dá entrada em um hospital da rede pública de saúde com ferimento por disparo de algum tipo de arma. Entre 1999 e 2018, foram registradas mais de 95,7 mil internações de vítimas graves decorrentes de acidentes, tentativas de homicídios ou de suicídio envolvendo armas de fogo.
Nesse período, é possível verificar que 82% das internações envolveram vítimas com idade entre 15 e 19 anos, sendo menor a frequência nas faixas etárias que vão de 10 a 14 anos (11%), de cinco a nove anos (4%) e em menores de quatro anos (3%). Outra constatação: quase 90% das vítimas eram do sexo masculino.
DESPESAS – Paralelamente à quantidade de internações, a SBP contabilizou ainda as despesas diretas do Sistema Único de Saúde (SUS) com os pacientes atendidos em virtude do contato com armas de fogo. Nos últimos 20 anos, as internações de crianças e adolescente provocadas pelos disparos custaram mais de R$ 210 milhões aos cofres públicos.
CAUSAS – No esforço de destrinchar esse fenômeno, a SBP procurou analisar os dados oficiais em busca de outra informação relevante: a motivação dos disparos que levaram a óbitos e sequelas. Os números mostram que a principal causa de mortes por armas de fogo na faixa etária analisada está relacionada a homicídios. Isso ocorre em 94% dos registros.
Com percentuais muito inferiores aparecem as intenções indeterminadas (4%), os suicídios (2%) e os acidentes (1%). Quando se busca o motivador das internações hospitalares por ferimentos com armas de fogo, as tentativas de homicídio permanecem no topo do ranking (67%), seguidas, no entanto, do expressivo volume de acidentes (26%).