Em carta para explicar estouro da inflação, BC sinaliza aumento de juros
Em sua carta explicando os motivos do estouro da meta de inflação em 2015, o Banco Central voltou a sinalizar que pode subir a taxa de juros básica, a Selic, caso o IPCA – o índice de inflação oficial- apresente risco de estourar o teto da meta neste ano novamente.
o IBGE divulgou que o IPCA fechou o ano passado em alta de 10,67%, bem acima do teto da meta, de 6,5%.
O documento repete a mensagem do último relatório de inflação, ao dizer que a "política monetária deve manter-se vigilante" e que o BC adotará "as medidas necessárias de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas".
Segundo a reportagem apurou, o Banco Central buscou mostrar que, diante de pressões de dentro e de fora do governo, o momento não é de queda dos juros e pode, inclusive, exigir uma retomada da alta da taxa Selic, hoje em 14,25% ao ano.
A carta, endereçada ao ministro Nelson Barbosa (Fazenda), não deixa claro, porém, se um aumento dos juros pode ocorrer na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), nos dias 19 e 20 de janeiro.
No mercado, até o final do ano passado, a expectativa criada pelo próprio BC era de que a instituição poderia elevar os juros em 0,50 ponto percentual em janeiro.
Após a divulgação do relatório de inflação, quando a mensagem foi um pouco mais dúbia, alguns analistas passaram a prever que o BC poderia manter a taxa inalterada ou promover um aumento menor do sinalizado, de 0,25 ponto percentual.
Em seus últimos comunicados, o Banco Central decidiu indicar que seu objetivo é evitar que a inflação supere o teto da meta neste ano, de 6,5%, e convirja para o centro, de 4,5%, em dezembro do próximo ano.
De todo modo, assessores disseram à reportagem que a principal sinalização do documento foi a de que não está fora do horizonte uma nova alta da taxa de juros, interrompida em setembro do ano passado. A última alta foi em julho, quando os juros bateram em 14,25% ao ano.
O documento vincula o estouro da meta em 2015 ao "realinhamento dos preços administrados" e também "ao realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais" por causa da desvalorização do real.
O texto também responsabiliza a política fiscal do governo, que prometeu, no início do ano, fazer um superavit primário de 1,1% do PIB (Produto Interno Bruto) e deve ter encerrado 2015 com um deficit de quase 2% do PIB.
A carta diz que a tendência de queda da inflação é "claramente interrompida no final de agosto de 2015, coincidindo com eventos negativos relacionados à definição da política fiscal".
Em nota divulgada logo após a publicação da carta, o ministro da Fazenda afirmou que o controle da inflação é uma prioridade do governo, e que o BC está empenhado em adotar as medidas necessárias para alcançar o centro da meta de 4,5% até o final de 2017.
"Nesse processo, o Ministério da Fazenda contribuirá no combate à inflação mediante a adoção de ações para o reequilíbrio fiscal e para o aumento da produtividade da economia", disse o ministro.