Euclides Bogoni, fundador do Diário do Noroeste

Em 15 de maio de 2004 o diretor-proprietário do Diário do Noroeste, Euclides Bogoni, concedeu entrevista ao jornalista David Silva, que a publicou em seu blog, registrando informações sobre o início e o desenvolvimento do jornal, o mais antigo periódico do interior do Estado, além de Folha de Londrina.
Na entrevista, Euclides Bogoni, natural de Videira-SC, contou que teve seu primeiro emprego como guarda-volumes, além de escrever poesias e livros.
Após ter se mudado para Alto Paraná, começou a trabalhar na empresa de seu pai ali instalada. Suas poesias começaram a chamar a atenção das pessoas. Assim que se mudou para Paranavaí abriu um escritório e deu continuidade ao seu trabalho épico de contar a história dos heróis do sertão que vieram para o Norte do Paraná em busca de terras devolutas.
Não demorou muito e foi chamado para trabalhar como redator-chefe na “Folha de Paranavaí”, cargo que assumiu em 1954, escrevendo poesias e “artigos de fundo”, em que desenvolvia textos que sugeriam a construção de obras públicas.
De acordo com informações do documento histórico do cinquentenário de Paranavaí, publicado pelo “Diário do Noroeste” (edição de 14 de dezembro de 2002) “a circulação do jornal foi normal até o dia 31 de julho de 1955, quando ocorreu a maior geada da história, dizimando os cafezais que começavam a produzir e oferecer retorno econômico ao investimento feito pelos desbravadores e pioneiros.
Desolado pelo impacto negativo da intempérie que comprometia o progresso da cidade, o pracinha Caetano Ferreira, que havia fundado a ‘Folha de Paranavaí’, resolveu fechar o jornal e regressar ao Rio de Janeiro, nunca mais voltando.
A cidade ficou sem jornal impresso, num momento de incertezas provocadas pelo virtual extermínio dos cafezais, monocultura que dominava o território do noroeste do Paraná. Afeiçoado e atraído pela lide jornalística, Euclides Bogoni não vacilou e decidiu editar um jornal. Formatizou a nova publicação com caráter regional, iniciando pelo nome ‘O Noroeste’, criado a partir da localização da região dentro do Estado do Paraná e escolheu a data da primeira circulação: o dia de Santos Dumont, pai da aviação. Era dia 23 de outubro de 1955.
O documento relata ainda que de quinzenário o jornal passou a semanário. “Até que, no aniversário de 23 de outubro de 1959, Euclides Bogoni tornou o jornal diário, assim continuando até hoje. Surpreendendo os incrédulos pela circulação diária, o título foi averbado para ‘Diário do Noroeste’, que se tornou o jornal oficial de todo o noroeste do Paraná, chegando a colaborar com um dos principais jornais do país, ‘A Folha de S. Paulo’. Depois da ‘Folha de Londrina’, o ‘Diário do Noroeste’ é o jornal mais antigo do interior do Paraná.”
O jornalista disse acreditar que o jornalismo é uma profissão que gera grande desgaste intelectual, algo tão imponente a ponto de ter afugentado sua inspiração poética. Mas, afirmou que acima de tudo é algo recompensador.
Confira agora os melhores trechos da entrevista concedida ao jornal Matéria Prima.

Por quais motivos o senhor resolveu ser jornalista e quais eram as principais dificuldades do jornalismo regional na época em que começou?
O que me motivou a entrar no jornalismo foi o gosto por escrever e quando a oportunidade chegou eu aproveitei. Comecei escrevendo muitas poesias, que eram publicadas em livros. Quando surgiu a chance de escrever pela primeira vez em um jornal eu aceitei e o resultado foi que os leitores gostaram, e logo depois do reconhecimento me tornei redator-chefe da “Folha de Paranavaí”.
Nessa época os jornais não possuíam oficinas e nem funcionários habilitados para desempenhar as funções da área. A ´Folha de Paranavaí´, primeiro jornal em que trabalhei, tinha uma redação precária, não possuía oficinas e a impressão era feita em outras cidades. E, como na época eu trabalhava em escritório, de vez em quando eu datilografava as matérias no próprio escritório.
Comecei no jornalismo de modo empírico, por idealismo, sem nenhuma formação específica. Cultuava muito a cultura épica do norte do Paraná e minhas poesias contavam o heróico trabalho daqueles que descobriram a região e constituíram a civilização.

Como funcionou o primeiro jornal que o senhor fundou em 1955?
No começo havia apenas dois funcionários, então, não havia problemas administrativos. O jornal possuía apenas quatro páginas, chegando no máximo a oito. Nessa época não se separava matéria por editorias, os assuntos não eram divididos nas páginas, se apresentava notícias sem classificá-las por categorias. A única diferença de destaque era o tratamento com a manchete.
 
Qual a estrutura jornalística dos primeiros jornais em que o senhor trabalhou?
O jornal começou com quatro páginas, dificilmente era publicado em seis páginas. Depois, com o tempo, isso foi crescendo e tomando maiores proporções. Publicávamos notícias locais porque os serviços de informações eram muito precários e existia na época apenas o teletipo e os sinais via rádio. Não havia condições de se estar fazendo grandes tiragens porque a impressão era manual. Hoje isso é muito diferente. Quando a impressão era feita em impressora plana nós iniciávamos a impressão às 18h e terminávamos em torno de zero ou 2h.

Quais os problemas que a devastação nos cafezais trouxe para os jornais locais?
Quando eu me mudei para Paranavaí as geadas começaram a se tornar um grande problema, atrapalhando o setor econômico que estava em desenvolvimento. A consequência disso foi uma paralisação econômica muito grande. Tanto que o jornal para o qual eu escrevia acabou falindo, assim como outros que existiram fecharam as portas também, logo acabaram desaparecendo. E como eu gostei de fazer jornalismo, resolvi abrir o meu próprio jornal, o Diário do Noroeste, sendo um dos jornais mais antigos do Paraná.

Atualmente é muito questionada a questão da moral e da ética nos meios de comunicação. De que modo esses valores devem estar agregados ao jornalismo?
A ética é muito importante, principalmente para a boa condução do jornalismo. A questão moral dos jornais é a de seguir a ética jornalística para agirmos, tendo compromisso com a verdade, e não termos problemas judiciais ou de opinião pública adversária. Entretanto, a concorrência faz com que jornalistas de caráter duvidoso ajam com falta de ética. Há jornais e jornalistas que gostam de estar fazendo o chamado sensacionalismo, o que pode significar erros graves e afetar o seu trabalho. O jornal às vezes publica erros de informação, mas a intenção do meio não é essa, é que a informação dada a ele não corresponde com a verdade.
Mas, ele deve corrigir o erro que foi publicado.

A redação de um jornal regional ainda sofre forte censura?
A censura hoje é pequena se comparada a quando comecei a trabalhar como jornalista. Mas, ainda existe, e acima da censura o que o jornal mais recebia e ainda recebe é pressão. No final da década de 50 [do século passado], a maior parte da população que residia em Paranavaí era inculta [o que acabava dificultando o trabalho da imprensa], a maior parte eram heróis do sertão que vieram em busca de terras devolutas, não possuíam instrução para entender muito bem como era um jornal.
 
Se o senhor não fosse jornalista que profissão escolheria?
Se eu não fosse jornalista seria advogado ou professor. Pois, na minha família todos os meus irmãos são professores [risos]. A realidade é que o jornalismo prende a pessoa, exige muito e requer tempo. Inclusive, quando eu comecei a trabalhar no meio impresso foi escrevendo poesias e livros, e logo quando comecei com o jornal diário não tive mais tempo de desempenhar esses trabalhos, o que fez com que a inspiração desaparecesse.

O que o jornalismo representa para o senhor?
O jornalismo é uma profissão muito bonita, em que o jornalista tem que se dedicar em tempo integral. O que acaba gerando um desgaste intelectual muito grande, mas acima de tudo, é uma profissão que satisfaz e contribui para o desenvolvimento social.