Famílias cortam gastos pelo 6º trimestre seguido e derrubam serviços

RIO DE JANEIRO – Com o desemprego nas alturas, salários reais em queda e endividamento elevado, as famílias cortaram ainda mais seus gastos de abril a junho deste ano. Isso fez o consumo no PIB registrar o sexto trimestre consecutivo de queda.
Divulgado ontem pelo IBGE, o PIB (Produto Interno Bruto), medida da produção e da renda do país, mostrou queda de 0,7% no consumo das famílias no segundo trimestre ante os três primeiros meses do ano.
Na comparação com o segundo trimestre de 2015, o consumo registrou uma queda de 5%. Desta forma, acumula uma baixa de 5,6% neste ano e de 5,7% em quatro trimestres (equivalentes aos últimos 12 meses).
O consumo das famílias é o principal componente do PIB pelo lado da demanda e foi o motor do crescimento econômico brasileiro na década passada, período marcado pela ascensão da renda e a formalização do emprego.
"O consumo das famílias, que é o mais importante, continua puxando o PIB para baixo. Continuou caindo, mas a uma taxa um pouco menor", Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE.
Os consumidores têm apertado o orçamento como podem, diminuindo a quantidade de produtos no carrinho de compras no supermercado, evitando comer fora de casa ou ainda adiando a troca do automóvel.
Se existe algo positivo nos números é que essa queda do consumo das famílias já foi maior. Foi a primeira queda abaixo da casa de 1% desde o quarto trimestre do ano passado, quando o dado ainda registrava crescimento.
A retomada do consumo ainda depende de uma melhora no mercado de trabalho. No trimestre encerrado em julho, a taxa de desemprego foi de 11,6%, a maior registrada desde 2012. Uma melhora só deve correr em 2017.
Igor Velecico, economista do Bradesco, diz que o desemprego deve começar a ceder em meados do ano que vem, quando o mercado deve passar a gerar empregos suficientes para absorver o aumento da procura por vagas.
"O PIB já parou de piorar. Ele deve começar a acelerar no início do ano que vem, o que vai permitir uma reação do mercado de trabalho, com uma defasagem de um a dois trimestres", disse Velecico.