Fecularias retomam atividades olhando o mercado da mandioca com cautela
Depois das férias coletivas que tradicionalmente dão aos seus funcionários entre dezembro e janeiro, as fecularias recomeçaram esta semana o processamento de mandioca, com muita cautela em relação ao mercado. “A gente não está vendo muito a oferta de mandioca. Ainda temos muita dúvida sobre o número de lavoura que tem para arrancar, não sabemos se o produtor vai arrancar agora ou não. Há muita especulação de preço nesse momento”, disse o presidente da Associação Brasileira dos de Amido de Mandioca (ABAM), Valter de Moura Carloto, após a primeira reunião do ano da entidade, nesta quinta-feira (10) em Paranavaí.
Boa parte da indústrias filiadas a ABAM retomaram as atividades, outras devem começar na próxima semana e uma minoria deve começar em quinze dias. Mas até o final de janeiro todas devem estar operando.
Na reunião de quinta-feira, os representantes das indústrias apontaram que estão pagando, em média, R$ 0,65 o grama do amido, podendo chegar a R$ 0,70. Mas há incertezas sobre a manutenção deste preço. “É o mercado que vai falar (se o preço vai continuar assim). (O mercado de) farinha hoje está bastante abastecida pelo nordeste, mas se as farinheiras entrar no mercado comprando mandioca o preço pode melhorar para o produtor”, avalia Carloto.
No entanto, diz o presidente da ABAM, “o preço de 60 a 70 centavos remunera bem o produtor”. Este valor atende também os interesses da indústria de fécula e o cliente final.
As incertezas do mercado vão exigir muita conversa entre a indústria e o produtor, segundo Carloto. “A gente vai envolver muito o produtor em função dessa pouca oferta de matéria-prima no primeiro semestre. No segundo semestre não vai ter uma abundância, mas a oferta será um pouco maior.
Para o segundo semestre a expectativa é de que haja um maior volume de oferta, com a entrada no mercado da mandioca de um ciclo. Nos primeiros seis meses do ano vai ser comercializada o remanescente da raiz de dois ciclos. “Parece que agora o produtor mudou um pouco a cultura de vender mandioca de dois ciclos. E procura (vender) mais a mandioca de um ciclo. Talvez por falta de capitalização dele, o rendimento da mandioca de um ciclo está dando muito bem e se deixar para dois ciclos, as vezes acaba tendo problemas de doença”, comenta.
MERCADO INSTÁVEL -O mercado da mandioca é caracterizado por fortes oscilações. No passado recente, o grama do amido já variou entre R$ 0,50 e R$ 1,30. Mesmo em dólar a variação é grande. Nos últimos 20 anos, quando a mandioca era cotada somente por tonelada, o preço variou entre 17 e 300 dólares.
Questionado se a ABAM faz algum trabalho para minimizar estas oscilações e trazer um pouco de estabilidade ao setor, Carloto disse que a entidade orienta seus filiados “a pagar o preço que ele consiga depois colocar o seu produto no mercado. Muitas vezes, preços acima de um real, fica difícil (colocar o produto final no mercado). Por que? A oferta de mandioca é competitiva com o amido de milho, se o preço do amido da mandioca estiver alto vai competir com o amido de milho e com isso vai perder muito mercado”, justifica o líder classista.
Ressalta, no entanto, que o valor não pode ser baixo para não desestimular a produção. “O produtor tem o custo dele. Normalmente a gente trabalha para, no mínimo, pagar o custo de produção e dar uma remuneração justa ao produtor”. Lembra, contudo, que “o produtor não pode querer vender como vendeu lá traz a R$ 1,20. R$ 0,70 é um preço muito bom para o produtor, para a indústria também e para o cliente final”, avalia.