Final opõe arte alemã e a garra argentina
Argentina e Alemanha decidem neste domingo a Copa do Mundo, no Maracanã, Rio, a partir das 16h, com mentalidades distintas.
Os alemães buscam algo inédito: uma taça com futebol bonito e sendo favoritos.
A Argentina entrará com três dos atacantes mais caros do planeta: Lavezzi, Higuaín e Messi. Este, o único jogador escolhido quatro vezes o melhor do mundo (de 2009 a 2012). Apesar do poder de fogo, só se encontrou no torneio quando fechou o meio-campo e passou a se defender melhor.
O símbolo da garra nacional argentina passou a ser Mascherano. O volante que deu carrinho decisivo contra a Holanda na semifinal e evitou gol certo de Robben confessou ter "aberto o ânus" na jogada. Seu futebol só cresceu quando passou a ter Biglia a seu lado na proteção à zaga.
Um cabeça de área convocado para ser reserva de Mascherano, a quem classificou como o maior ídolo que tem na carreira.
Com os dois, a Argentina vai buscar fazer o que o Brasil não tentou nos 7 a 1: congestionar o meio-campo.
Em todos os seus títulos, a Alemanha esteve associada a goleiros de gelo, defesas intransponíveis, disciplina tática, contra-ataques mortais e jogadas áreas – o receituário clássico do futebol-força.
Beckenbauer, Rummenigge e Matthäus eram craques, exceções de futebol-arte a confirmar a regra.
Tanto que, em suas três conquistas, a Alemanha jamais chegou à final como protagonista. Em 1954 e 1974 derrotou Hungria e Holanda, respectivamente. Dois rivais que revolucionaram o futebol, mas que sucumbiram diante da eficiência germânica. Em 1990, a Alemanha bateu uma Argentina devastada por contusões e com um Maradona sem condição de jogo.
VIRADA – A virada ocorreu em 2006, quando, ao sediar a Copa, começou a surgir na Alemanha uma geração de ouro, que tinha como virtudes a qualidade técnica, o toque refinado, a velocidade, a versatilidade e a fome de gol. A defesa é que passara a ser o ponto fraco.
Integravam o grupo Lahm, Schweinsteiger e Podolski, além de Klose. O time caiu na semifinal e foi terceiro lugar.
Quatro anos mais tarde, veio à luz mais uma penca de frutos do projeto alemão para revelar talentos iniciado em 2002: Özil, Müller, Khedira, Neuer e Kroos estavam entre eles. A Alemanha jogou bonito, mas novamente "bateu na trave", eliminada na semifinal. Voltou a ser terceira.
Neste domingo, as duas gerações se encontram, reforçadas por uma terceira fornada, da qual fazem parte Hummels, Schürrle e Götze.
Esse elenco talentoso, que atingiu o seu auge ao massacrar o Brasil, tenta enterrar o estigma de "quase chegar lá".
Mudança tática na Argentina
Alejandro Sabella, o técnico argentino, flertou com o ofensivo 4-3-3 na primeira fase. A partir das oitavas de final, percebeu que a fragilidade da defesa exigia mudanças. Trocou Fernández por Demichelis no miolo da defesa. O estilista e displicente Gago deu lugar ao disciplinado Biglia. Lavezzi virou meia.
Pode não ser bonito, mas nos últimos três jogos a Argentina não sofreu nenhum gol.
Mais que isso: uma retaguarda acostumada a dar espaços para os rivais quase não foi ameaçada. Sabella montou um esquema que anulou Robben na semifinal.
A Alemanha chegou para ganhar e encantar o mundo com o toque de bola entre Kroos, Müller e Khedira. A Argentina veio para ganhar e ponto final. Pode ser com uma jogada genial de Messi, mas, se for com um carrinho de Mascherano, que seja.
Será a terceira final de Copa entre as seleções, que já decidiram em 1986 e 1990.
Depois de ter massacrado o Brasil, espera-se que a Alemanha ganhe a taça com futebol bonito. A Argentina quer vencer. Se for possível jogar bem, ótimo. Se tiver de ser campeão se defendendo, não há problema. "O que fica é o resultado", definiu o atacante Higuaín.
ALEMANHA
Neuer; Lahm, Höwedes, Boateng (Mertesacker) e Hummels; Khedira, Schweinsteiger, Kroos e Özil; Klose e Müller T.: Joachim Löw
ARGENTINA
Romero; Zabaleta, Demichelis, Garay e Rojo; Mascherano, Biglia e Pérez (Di María); Lavezzi, Messi e Higuaín T.: Alejandro Sabella
Estádio; Maracanã, no Rio de Janeiro
Horário: 16h
Árbitro: Nicola Rizzoli (Itália)
Favorita, Alemanha aliou riscos a oportunidades
A Alemanha que entra como favorita no Maracanã chegou ao Brasil aos pedaços.
Cinco dos titulares na final se recuperavam de lesões e suscitavam dúvidas quanto ao seu rendimento na Copa: o goleiro Neuer, os volantes Khedira e Schweinsteiger, o meia Özil e o atacante Klose.
Às vésperas do Mundial, o time já perdera a maior revelação ofensiva do país nos últimos tempos, o meia-atacante Reus, cortado por contusão no último amistoso antes do embarque para a Copa.
Outro potencial titular, o lateral-esquerdo Schmelzer, também fora descartado por não estar em forma depois de uma lesão no joelho.
Foi nessa terra arrasada que o técnico Joachim Löw começou a trabalhar.
Todos ganharam ritmo ao longo do campeonato.