Governo omisso e o exercício de cidadania

Omissão é entre outros, o ato ou efeito de não fazer, deixar de lado, desprezar, esquecer. A omissão, pois, quebra o que mandam as leis, regulamentos ou padrões morais. Para não adentrar na seara do direito, usaremos apenas a expressão “padrões morais”, que são princípios e regras influenciadores do comportamento de uma sociedade.

Para fazer girar as famigeradas rodas de vidro de um banco nos obrigamos sacar chaves, telefones e qualquer instrumento de metal. Se não expusermos o conteúdo de bolsas, se não largarmos guarda-chuvas e até destravarmos pernas mecânicas, somos barrados sem dó nem piedade por vigias nem sempre preparados em lidar com o público. Os bancos nos tratam por baixo, como se fôssemos elementos ruins, bandidos mesmo; e agem assim em nome da segurança do seu dinheiro.
Para se adentrar em um presídio, desde a pequena delegacia até o mais sofisticado deles, passa-se por revista pessoal, íntima. Os alimentos são mexidos, os pacotes abertos, os corpos apalpados, tudo em nome da segurança, porque o Governo sabe os hóspedes que têm. Vai desde quem não pagou pensão alimentícia até quem matou com arma ou droga.
Os banqueiros estão errados em meter cancelas? Claro que não; fôssemos importantes para eles receberíamos outro tratamento, pois a história de banco social e do vem-aqui-que-te-ajudo como aparece na propaganda, é conversa fiada. Os balanços trimestrais o dizem: apenas o lucro interessa e dane-se quem pensar o contrário.
Quanto custa uma porta eletrônica de controle de acesso? Não sei, mas a segurança que produz, vale o preço; não se tem notícia de que alguém com algum metal tenha adentrado em uma agência bancária no expediente.
Por que o Governo é omisso? Pela razão de não cuidar da nossa segurança como os banqueiros de seu objeto precioso; e vilipendiam nosso direito estampado já no preâmbulo da Constituição Federal. Basta uma corrida de olhos nela.
Com isso se pergunta: por que os detentos têm acesso a celulares? Por que facções criminosas agem do lado de dentro das celas? Só há uma resposta: as “revistas” não são feitas a contento. Por isso os de fora continuam sendo achacados, espoliados por telefonemas saídos de lá; por isso ônibus são incendiados; pessoas são mortas, privadas de bens, perseguidas. Por isso a segurança pública como um todo passa o tempo batendo cabeça apagando incêndios que não poderiam ter sido iniciados. Talvez se necessite vigiar o vigia e o vigia e o vigia… (com todo respeito aos bons).
A Polícia Civil, com atribuição de polícia judiciária que se obriga pela segurança dos internos é, por extensão, responsável pela agressão deles à população externa. O não cumprimento desse princípio constitucional chama-se omissão que castra a nossa cidadania e fere os “padrões morais” que a norma constitucional impõe.
Se uma simples porta eletrônica com detectores poderia dificultar a entrada de celulares, o que leva o governo a não investir nesse tipo de equipamento, ou em outro que se assemelhe no resultado?
Precisamos de uma resposta satisfatória; mas que as perguntas não sejam colocadas aos contumazes em soluções pífias.