Graça teve medo de ser presa, mostra gravação de reunião da Petrobras
A reportagem obteve o áudio e a ata da reunião. No dia 23 de janeiro, Graça e conselheiros conversaram sobre a metodologia usada para calcular os números que estimavam uma baixa de R$ 88,6 bilhões nos ativos da empresa. O cálculo, desprezado posteriormente, foram feitos pela Deloitte e pelo BNP Paribas.
Durante a reunião do dia 23, o conselheiro Francisco Roberto de Albuquerque perguntou se foi ponderado na metodologia apresentada e quais riscos adicionais existiriam sobre processos judiciais no exterior e no Brasil em relação à companhia.
Graça respondeu que não fora levado em conta na metodologia: "Se eu vou ser presa ou não, não entrou na metodologia. Se eu vou ter que entregar a casa que moro por conta desses valores, não entrou na metodologia. Fizemos as contas como as contas são".
A ex-presidente da Petrobras relatou aos presentes que, na véspera, durante reunião da diretoria, fora admitido, do ponto de vista administrativo e interno da empresa, má gestão dos diretores e que todos deveriam ser demitidos.
"Não é possível que essa diretoria, durante três anos, no meu caso e do (Almir) Barbassa, durante outros quatro anos, deixamos que tal coisa acontecesse. Eu posso dizer: não, mas eu era diretora de Gás e Energia e na área de Gás e Energia as coisas estão acomodadas. Mas eu, como diretora e presidente, não poderia ter deixado chegar aonde chegou".
Em seguida, Graça diz que, fora da companhia, os riscos eram outros.
"Aí até fala [sic] em prisão. Até fala em prisão tem aqui. Eu estou falando de uma metodologia ‘by the book’. Agora, o que vai acontecer com meu emprego? Com a minha carreira? Com a minha vida pessoal? Eu não sei, tenho os advogados que vão dizer. A metodologia tem que ser imune aos meus medos e meus receios".
Procurada pela reportagem, Graça atendeu o telefonema da reportagem, mas não quis falar sobre o assunto.
Depois de perda bilionária em 2014, Petrobras lucra R$ 5,33 bi no 1º tri
O primeiro resultado trimestral da Petrobras sob gestão da nova diretoria trouxe lucro de R$ 5,33 bilhões nos três meses iniciais de 2015, queda de 1,2% em relação aos R$ 5,39 bilhões do resultado no primeiro trimestre de 2014, sob impacto de variação do câmbio, da queda do preço do petróleo e da menor venda de derivados pela desaceleração da economia.
A receita no período foi de R$ 74,4 bilhões, queda de 9% em relação aos R$ 81,5 bilhões do primeiro trimestre de 2014 e queda de 13% em relação aos R$ 85 bilhões dos últimos três meses do ano passado.
Também sob impacto do câmbio, a dívida líquida da empresa avançou 18%, de R$ 282 bilhões, em dezembro de 2014, para R$ 332 bilhões. As captações com a China e com bancos estatais não refletiram no endividamento porque foram fechadas em abril.
Aldemir Bendine assumiu a Petrobras no dia 6 de fevereiro, em substituição a Graça Foster, que deixou a empresa com cinco diretores, depois do desgaste causado pela divulgação do cálculo de perdas em valores dos ativos na empresa, de R$ 88,6 bilhões, relativos a corrupção e perda em valores de projetos. O número acabou não sendo usado.