Gravação entre Lula e Dilma causa confusão na Câmara

BRASÍLIA – A divulgação, ontem da gravação da Polícia Federal de uma conversa entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula repercutiu no plenário da Câmara.
Sob os gritos de "Lula ladrão, seu lugar é na prisão", oposicionistas pediram mais uma vez que a presidente renuncie ao mandato. Petistas saíram em defesa do governo afirmando que políticos do PSDB, entre eles Aécio Neves (MG), também são investigados.
"Essa gravação é algo de extrema gravidade, merece uma atitude da nossa parte e deveria levar a presidente a renunciar ao mandato", afirmou na tribuna o tucano Betinho Gomes (PE). A gravação sugere que Dilma tenha agido para tentar evitar a prisão de Lula.
Houve bate-boca generalizado entre oposição e governo. Alguns deputados demonstram estar atônitos com a sucessão de notícias.
COBRA PULSO FIRME – Em interceptação telefônica captada pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, Lula cobra que o subprocurador Eugênio Aragão, nomeado ministro da Justiça por Dilma, "seja homem" e prove que é amigo, num aparente pedido de ajuda para se livrar do juiz federal Sergio Moro.
Numa ligação, na terça, o ex-ministro Gilberto Carvalho telefona para Lula falando sobre a nomeação de Aragão. Lula responde, de acordo com a PF, que espera que o futuro ministro da Justiça "tenha pulso", o que foi interpretado pelos policiais como ter força para controlar a PF.
Informação revelada ontem pelo canal "Globonews" mostra também que o juiz federal Sergio Moro incluiu no inquérito que tramita em Curitiba uma conversa telefônica entre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff, no qual ela diz que encaminhará a ele o "termo de posse" de ministro. Dilma diz a Lula que o termo de posse só seria usado "em caso de necessidade".
Os investigadores da Lava Jato interpretaram o diálogo como uma tentativa de Dilma de evitar uma eventual prisão de Lula. Se houvesse um mandado do juiz, de acordo com essa interpretação, Lula mostraria o termo de posse como ministro e, em tese ficaria livre da prisão. O juiz Moro não pode mandar prender ministros porque eles detêm foro privilegiado.