Há 40 anos a grande geada mudou a história agrícola da região
Os órgãos oficiais e particulares vêm acompanhando há muito os fenômenos meteorológicos, como importante fator de cuidados para o desenvolvimento da economia agrícola e pecuária.
Muitas geadas fortes foram registradas desde 1902, como aquelas de 1933, 1953, 1955, as da década de 60, e 1975. Todas elas causaram muitos estragos na economia agrícola, mas nenhuma outra como esta última, de 17 e 18 de julho de 1975, teve tanta influência no desenvolvimento do setor em todo o Brasil e, logicamente, em Paranavaí e municípios da região.
As geadas da década de 50 já tinham favorecido o aceleramento da implantação da pecuária na região Noroeste do Estado, com as pastagens se disseminando nos espaços mais suscetíveis ao fenômeno climático.
Mas as de 1975, que fizeram aniversário de 40 anos ontem e anteontem (dias 17 e 18 de julho), foram a linha divisória da implantação de novas culturas em Paranavaí e região, que incluem a laranja e a cana-de-açúcar, além de mais espaço à mandioca, entre outras.
Depois de 1975 houve um período de desânimo com a cafeicultura no Norte do Estado. Mesmo com as geadas de 1955 e as dos anos 1960, o café persistiu como principal produto agrícola da região. Na época um grupo de cafeicultores se reuniu e fundou a Cooperativa Agrícola dos Cafeicultores de Paranavaí (Coaca).
Presidente da entidade eleito por três vezes consecutivas, o engenheiro-agrônomo, cafeicultor e pecuarista Ludovico Axel Surjus disse numa entrevista ao Diario do Noroeste (em 12/12/12) que a Coaca chegou a ter 500 cooperados e exportou café até para a Itália.
O setor recebia nos anos 1970 o incentivo do Governo Federal e do Estado – governador Jayme Canet Júnior – que através do secretário de Agricultura, Paulo Carneiro Ribeiro, viabilizou recursos de 20 milhões de cruzeiros (moeda da época) para a Coaca construir seu barracão para depósito de café (na Av. Paraná, ao lado do Fórum Sinval Reis, e local hoje transformado em várias lojas comerciais).
Com a geada que dizimou a maior parte dos cafezais em 1975 a Coaca perdeu muitos cooperados. Ainda tentou seguir por outros caminhos, como o da mandioca, em franca expansão, e chegou a implantar uma fecularia ao lado do Bosque Municipal na Vila Operária, mas acabou extinta.
A Geada Negra de 75 foi a maior que aconteceu no Brasil. O Paraná, que até então tinha sua economia dependente da produção cafeeira, viu mudar definitivamente as configurações econômicas do Estado e da Região Norte.
A tragédia ocorreu na noite de 17 para 18 de julho de 1975. A temperatura foi caindo e, na madrugada, os termômetros despencaram, chegando a -3,5ºC a -6ºC (negativos). O orvalho congelado resultou na grande geada que matou mais de 850 milhões de cafeeiros.
Não existia mais nada verde, o cafezal era uma floresta de pés pretos, completamente queimados, esturricados. Um horror. No dia anterior, em 17 de julho de 1975, aconteceu a neve em Curitiba.
Segundo o meteorologista Glauco Freitas, da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul (Fepagro), a geada negra recebe esse nome porque queima as plantas por dentro, deixando-as com aparência escura.
"A geada branca é mais comum e não causa tantos prejuízos porque ela congela a planta por fora", diz ele, ao afirmar que a geada negra acontece apenas quando são combinados a baixa temperatura – menos de 0°C –, com os ventos intensos e ar seco.
A geada mexeu com a economia.
Falta de emprego e miséria foram algumas das consequências da Geada Negra para aqueles que tiravam da lavoura cafeeira seu sustento. O historiador Roberto Bondarik, mestre em Engenharia de Produção e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, aponta algumas das razões para a ocorrência da migração em massa no Norte do estado. Segundo ele, foi o maior movimento migratório em tempos de paz na região. Além disso, o êxodo rural provocou um crescimento desordenado nas zonas urbanas. “Hoje, o Norte do Paraná sente falta de um desenvolvimento econômico que se compare ao fenômeno desenvolvimentista que a cultura cafeeira representou”, ressalta.
Segundo Bondarick, o Norte do Paraná sente falta do café porque foi sinônimo de desenvolvimento e de riqueza por muito tempo. O café ditou o ritmo da ocupação e do desenvolvimento da região. Cerca de 250 cidades e povoados surgiram em decorrência da colonização e o café era o principal produto que movia a economia com o seu cultivo e com as suas atividades acessórias.
Hoje, o Norte do Paraná sente falta de um desenvolvimento econômico que se compare ao fenômeno desenvolvimentista que a cultura cafeeira representou. O café oferecia muitas oportunidades de trabalho e era comum que se plantassem outros gêneros alimentícios entre as fileiras de café.
É comum ouvir de cafeicultores que continuam cultivando esse produto porque são teimosos ou ainda que não saberiam fazer outra coisa. Mas os motivos podem ser mais complexos.
“Alguns acham que os resultados produtivos do café compensam os riscos e as eventuais perdas. Novas técnicas de cultivo e novas variedades também podem ser apontadas. O investimento na busca de um grão com melhor qualidade e com bons resultados tem alavancado a produção em muitos municípios do Norte Pioneiro. Me recordo em especial de Ribeirão Claro, onde há até uma festa regional que tem o café como tema. Se há mercado e retorno financeiro com certeza haverá interessados em manter viva a tradição do cultivo do café”, diz o historiador.
Da década de 70 até hoje estima-se que a zona rural tenha perdido 2,5 milhões de habitantes. A razão da revoada é simples: a lavoura de café exigia trabalho coletivo e braçal.
Cerca de 80 mil pequenas propriedades deixaram de existir no Paraná entre 1975-1985, segundo Bondarik. De acordo com a Agrolink, de 54% em 1961, a participação do Paraná na produção brasileira de café caiu para 15,58% em 1980, ao mesmo tempo em que cresceram culturas como soja, trigo e algodão.
Muitas geadas fortes foram registradas desde 1902, como aquelas de 1933, 1953, 1955, as da década de 60, e 1975. Todas elas causaram muitos estragos na economia agrícola, mas nenhuma outra como esta última, de 17 e 18 de julho de 1975, teve tanta influência no desenvolvimento do setor em todo o Brasil e, logicamente, em Paranavaí e municípios da região.
As geadas da década de 50 já tinham favorecido o aceleramento da implantação da pecuária na região Noroeste do Estado, com as pastagens se disseminando nos espaços mais suscetíveis ao fenômeno climático.
Mas as de 1975, que fizeram aniversário de 40 anos ontem e anteontem (dias 17 e 18 de julho), foram a linha divisória da implantação de novas culturas em Paranavaí e região, que incluem a laranja e a cana-de-açúcar, além de mais espaço à mandioca, entre outras.
Depois de 1975 houve um período de desânimo com a cafeicultura no Norte do Estado. Mesmo com as geadas de 1955 e as dos anos 1960, o café persistiu como principal produto agrícola da região. Na época um grupo de cafeicultores se reuniu e fundou a Cooperativa Agrícola dos Cafeicultores de Paranavaí (Coaca).
Presidente da entidade eleito por três vezes consecutivas, o engenheiro-agrônomo, cafeicultor e pecuarista Ludovico Axel Surjus disse numa entrevista ao Diario do Noroeste (em 12/12/12) que a Coaca chegou a ter 500 cooperados e exportou café até para a Itália.
O setor recebia nos anos 1970 o incentivo do Governo Federal e do Estado – governador Jayme Canet Júnior – que através do secretário de Agricultura, Paulo Carneiro Ribeiro, viabilizou recursos de 20 milhões de cruzeiros (moeda da época) para a Coaca construir seu barracão para depósito de café (na Av. Paraná, ao lado do Fórum Sinval Reis, e local hoje transformado em várias lojas comerciais).
Com a geada que dizimou a maior parte dos cafezais em 1975 a Coaca perdeu muitos cooperados. Ainda tentou seguir por outros caminhos, como o da mandioca, em franca expansão, e chegou a implantar uma fecularia ao lado do Bosque Municipal na Vila Operária, mas acabou extinta.
A Geada Negra de 75 foi a maior que aconteceu no Brasil. O Paraná, que até então tinha sua economia dependente da produção cafeeira, viu mudar definitivamente as configurações econômicas do Estado e da Região Norte.
A tragédia ocorreu na noite de 17 para 18 de julho de 1975. A temperatura foi caindo e, na madrugada, os termômetros despencaram, chegando a -3,5ºC a -6ºC (negativos). O orvalho congelado resultou na grande geada que matou mais de 850 milhões de cafeeiros.
Não existia mais nada verde, o cafezal era uma floresta de pés pretos, completamente queimados, esturricados. Um horror. No dia anterior, em 17 de julho de 1975, aconteceu a neve em Curitiba.
Segundo o meteorologista Glauco Freitas, da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul (Fepagro), a geada negra recebe esse nome porque queima as plantas por dentro, deixando-as com aparência escura.
"A geada branca é mais comum e não causa tantos prejuízos porque ela congela a planta por fora", diz ele, ao afirmar que a geada negra acontece apenas quando são combinados a baixa temperatura – menos de 0°C –, com os ventos intensos e ar seco.
A geada mexeu com a economia.
Falta de emprego e miséria foram algumas das consequências da Geada Negra para aqueles que tiravam da lavoura cafeeira seu sustento. O historiador Roberto Bondarik, mestre em Engenharia de Produção e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, aponta algumas das razões para a ocorrência da migração em massa no Norte do estado. Segundo ele, foi o maior movimento migratório em tempos de paz na região. Além disso, o êxodo rural provocou um crescimento desordenado nas zonas urbanas. “Hoje, o Norte do Paraná sente falta de um desenvolvimento econômico que se compare ao fenômeno desenvolvimentista que a cultura cafeeira representou”, ressalta.
Segundo Bondarick, o Norte do Paraná sente falta do café porque foi sinônimo de desenvolvimento e de riqueza por muito tempo. O café ditou o ritmo da ocupação e do desenvolvimento da região. Cerca de 250 cidades e povoados surgiram em decorrência da colonização e o café era o principal produto que movia a economia com o seu cultivo e com as suas atividades acessórias.
Hoje, o Norte do Paraná sente falta de um desenvolvimento econômico que se compare ao fenômeno desenvolvimentista que a cultura cafeeira representou. O café oferecia muitas oportunidades de trabalho e era comum que se plantassem outros gêneros alimentícios entre as fileiras de café.
É comum ouvir de cafeicultores que continuam cultivando esse produto porque são teimosos ou ainda que não saberiam fazer outra coisa. Mas os motivos podem ser mais complexos.
“Alguns acham que os resultados produtivos do café compensam os riscos e as eventuais perdas. Novas técnicas de cultivo e novas variedades também podem ser apontadas. O investimento na busca de um grão com melhor qualidade e com bons resultados tem alavancado a produção em muitos municípios do Norte Pioneiro. Me recordo em especial de Ribeirão Claro, onde há até uma festa regional que tem o café como tema. Se há mercado e retorno financeiro com certeza haverá interessados em manter viva a tradição do cultivo do café”, diz o historiador.
Da década de 70 até hoje estima-se que a zona rural tenha perdido 2,5 milhões de habitantes. A razão da revoada é simples: a lavoura de café exigia trabalho coletivo e braçal.
Cerca de 80 mil pequenas propriedades deixaram de existir no Paraná entre 1975-1985, segundo Bondarik. De acordo com a Agrolink, de 54% em 1961, a participação do Paraná na produção brasileira de café caiu para 15,58% em 1980, ao mesmo tempo em que cresceram culturas como soja, trigo e algodão.