Há 89 anos Vila Montoya era elevada a Distrito Judiciário
Mais de 20 anos antes de Paranavaí ser elevado oficialmente a município autônomo, desmembrado de Mandaguari, ao qual estava anexado como Distrito desde 1946, havia um vilarejo conhecido como Vila Montoya que, em 1929, foi oficialmente elevado a Distrito Judiciário.
Na época, toda a região pertencia ao município de Tibagi, distante 350 km da atual Paranavaí, mas que na verdade tinha-se que percorrer muito mais, seguindo para Presidente Prudente, depois Ourinhos, em S. Paulo, e Tibagi ou, mais recentemente, seguir via Londrina – 450 km até à sede – já que não havia outra ligação viária, nem carroçável. A BR-376 – Rodovia do Café – ligando Curitiba a Paranavaí só foi aberta em fins da década de 1960.
A Vila Montoya foi resultado de uma colonização voluntária.
Esgotadas as terras agricultáveis em São Paulo, os colonos que procuravam terras para se apoderarem delas atravessaram o rio Paranapanema e foram se infiltrando mata adentro, a partir de Presidente Prudente e Ourinhos, seguindo trilhas abertas, ainda no século XVI, pelos preadores bandeirantes, que buscavam índios para aprisionar.
Daí, orientaram-se por primitivas informações dos tempos dos padres jesuítas, que sob a capelania do padre peruano Antonio Ruiz de Montoya, com o auxílio de uma dezena de colegas, entre os quais Diaz Taño e o italiano Simão Maceta, fundaram 13 reduções jesuíticas no Norte do Paraná, entre as quais as de Nossa Senhora de Loreto, entre Itaguajé e Jardim Olinda, e Santo Inácio Mini, em Santo Inácio, por volta de 1620.
A maior concentração desses colonos aconteceu onde hoje se localiza Paranavaí. Eles adentraram mata adentro e se estabeleceram onde hoje se localiza o Jardim São Jorge, em Paranavaí atual.
A partir de 1926, quando foi criada a Braviaco – Companhia Brasileira de Viação e Comércio, subsidiária da Companhia de Estradas de Ferro São Paulo-Rio Grande, que por sua vez era subsidiária da Brazil Raillway Co., de capital inglês, que em 1920 fizera acordo com o governo brasileiro para a construção de estradas de ferro de São Paulo ao Rio Grande do Sul em troca de terras.
Coube à Braviaco a responsabilidade junto à holding para cuidar da plantação de café em todo o Norte do Paraná – produto com maior volume de negócios no exterior, inclusive na Bolsa de Nova Iorque.
Para operar a lavoura de café, como também de algodão, a Braviaco foi buscar trabalhadores no Nordeste e trouxe de lá duas levas de 200 trabalhadores para a Vila Montoya, que teve crescimento estrondoso no período.
Foi o que levou o Governo a criar o Distrito Judiciário em Vila Montoya em 13 de abril de 1929, através da Lei 2665 publicada no Diário Oficial do Estado do Paraná em 25 de abril de 1929.
A proposição da lei foi do deputado estadual Edmundo Alberto Mercer (1º/08/1878-1º/08/1938) e sancionada pelo então presidente (como era denominado o governador) eleito em comícios populares, Affonso Alves de Camargo (25/09/1873-17/04/1958), durante sua segunda gestão (a primeira foi de 25/02/1916 a 25/02/1920 e a segunda de 25/02/1928 a 05/10/1930, quando foi deposto pela Revolução de 30) e pelo então secretário do Interior e Justiça, José Pinto Rebello Júnior, nome ligado à política do Litoral paranaense.
Porém, o Distrito foi instalado somente no ano seguinte, em 19 de fevereiro de 1930, com a posse do primeiro escrivão, Alpiniano Nascimento Ramos.
Foram lavrados os termos de abertura dos Livros de Registros do Distrito de Montoya com “trezentas folhas typographicamente enumeradas” que vão assinadas por Raymundo Salles, “e servirá para registro de óbitos do Cartório Districtal de Montoya, Município e Comarca de Tibagy. Montoya, 19 de fevereiro de 1930”, bem como os de nascimentos e casamentos.
Com a instalação, o Distrito Judiciário de Montoya passou a contar com escrivão de paz para – segundo declarou em entrevista em 5 de julho de 1975 o pioneiro, engenheiro-agrônomo Joaquim da Rocha – “moralizar a vida social da população, fazendo o casamento dos amancebados, que constituíam a maioria, mais um cabo de nome Simão e dois soldados da Polícia Militar do Estado”.
Como Distrito Judiciário, porém, Vila Montoya teve duração efêmera, como lembrou em entrevista ao Diário do Noroeste em dezembro de 1977, o último sobrevivente da leva de nordestinos que foi trazida para trabalhar por estas bandas, Frutuoso Joaquim de Salles.
Três anos depois, com o golpe militar chefiado por Getúlio Vargas, todas as terras voltaram ao Estado e todos os bens das companhias concessionárias foram tomados pelo decreto estadual nº 800 de 3 de novembro de 1930.
Sem ter meios de sobrevivência, os cerca de 1.200 habitantes de Montoya abandonaram o local e se espalharam por outros espaços, ficando por aqui apenas seis famílias, entre as quais a de Frutuoso Joaquim de Salles.
(*SAUL BOGONI, jornalista, professor, mestre em Letras pela UEM)